Ocupação 9 de Julho abre exposição inquietante sobre os rumos do Brasil 2019

A Ocupação 9 de Julho, no centro de São Paulo, estreou no dia 15 de setembro uma exposição em sua galeria, a Reocupa, que faz um bom resumo do atual momento político, social, ambiental e humano pelo qual – infelizmente – passa o Brasil. “O que não é floresta é prisão política” reúne mais de 60 artistas contemporâneos para tentar entender o espírito do tempo brasileiro. E, de quebra, domingo rola um almoço delicioso.

É no antigo e enorme prédio onde antes funcionava o Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) que as obras das mais variadas formas e linguagens se espalham. No hall de entrada original da construção, uma profusão de instalações se apropria de salas, cantos, banheiros e qualquer outro lugar para despertar questionamento político, humano, coletivo.

Defender ideias, como a liberdade do ex-presidente Lula, que assinou uma bandeira especialmente para a mostra – quem quiser pode segurá-la (permitido tirar do suporte) e agitá-la pelos ares da galeria-resistência. Logo ao lado, a palavra “canalhas” se repete em um dos principais espaços da exposição. Insatisfação, crítica e criatividade misturadas contra o avanço do conservadorismo.

Hall de entrada tem mensagem forte para questionar

“O que não é floresta…” se conecta a um movimento artístico insatisfeito com os rumos atuais e joga na cara do espectador questões essenciais para se entender o emaranhado de fatos atuais – mesmo que esse espectador não concorde, mesmo que ele não se sinta parte dessas questões. Nenhuma estrutura aberta ao mundo permanece em pé quando a floresta age. O Brasil é maior do que qualquer governo.

Pelas escadas que levam a outras atrações da Ocupação, obras de gente de renome se misturam às de crianças moradoras do lugar. Desenhos que são resultado de oficinas ministradas para atender uma forte preocupação dos coordenadores do movimento: oferecer não apenas casa, mas cidadania.

Obras se espalham por todos os cantos da Reocupa

Instinto coletivo

A Ocupação 9 de Julho coloca em prática a coletividade para crescer, o incentivo para prosperar e o talento para conquistar um espaço que tem escala de limpeza, internet, luz, água, muita arte e o espírito da cooperação como guia. Cada um pode morar em sua respectiva casa, mas todos sabem que o todo só se forma com todos.

É de olho nisso, e também para gerar renda (sempre bem-vinda), que a Ocupação abre suas portas não apenas para famintos por arte e questionamento, mas também com fome de quitutes que espalham cheiros conquistadores pelo ar. Domingo é um dia especial, com cada um fazendo o que sabe fazer de melhor.

Uma mistura saborosa para oferecer diversidade no cardápio, que tem feijoada, acarajé, churrasco maranhense, quiches, doces, bebidas… Para se deliciar comodamente, mesinhas espalhadas pelas paredes meio caídas explodindo de cores em grafites são uma ótima opção – misturando conforto e mais arte.

Diversidade está também no cardápio das barraquinhas

Pelos corredores é possível adquirir publicações sobre temas como feminismo, raça e diversidade sexual, que dentro da Ocupação nem chega a ser uma questão, de certa maneira. A coordenação do lugar diz que obviamente existem LGBTs morando ali, mas para os outros moradores é algo tão normal que… que… que é só normal mesmo. Ponto. Como deve ser. Nada demais. Nenhuma alteração.

O respeito é a base da convivência entre quem também tem suas próprias lutas. Existe um discurso dominante, mas sem deixar de lado a polifonia de vozes, seja no alto-falante da rádio da Ocupação, seja nos artistas que expõe e encenam, seja nas estampas de panos de prato e camisetas militantes – ou panos de chão com a cara do presidente do Brasil.

Um lugar para ser reocupado por todo mundo que constrói seus alicerces na empatia, na coletividade e na vontade de mais justiça social – para todes.

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Ocupação 9 de Julho

Rua Álvaro de Carvalho, 427 – Centro

Entrada gratuita