Márcia Vogue fala sobre o glamour de sua geração de artistas e relembra sua trajetória histórica

Márcia Vogue é uma artista com 36 anos de carreira que teve a oportunidade de ouro de trabalhar com as maiores referências que formaram o que hoje é a arte trans do Brasil. “Foi um laboratório riquíssimo com as artistas que antecederam minha geração”, conta à Ezatamag enquanto se prepara para mais uma apresentação: será uma das atrações do do Bacanal de Herodes, no Clube Metrópole, em Recife, no Sábado de Aleluia (16).

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Inteligente, focada, soube aproveitar esse convívio histórico riquíssimo e hoje é uma artista que inspira. Hoje ela é a referência para quem quer subir ao palco – e mantém a humildade de dar conselhos para quem está começando. “Invente e tente. Faça da sua arte um diferencial para dar o seu melhor ao público.”

São dicas de quem sabe o que está falando. De quem pôde absorver a magnanimidade de Marlene Casanova, Lorna Washington, Rogéria, Eric Barreto, Eloína dos Leopardos, Isabelita dos Patins, Jane di Castro, Márcia Pantera, Dimmy Keer, Laura de Vison… É uma conquista para toda a comunidade LGBT+ essa ponte que faz Márcia, nos lembra de quem já fomos enquanto convive com a nova geração – e nos faz questionar para onde estamos indo.

Uma geração que cresceu a assistindo na televisão. Refrescando sua memória: essa diva já esteve no extinto programa “Você Decide”, da Globo, e por três vezes ocupou o palco do “Show de Calouros”, no SBT – aquele onde o Silvio Santos adorava abrir espaço para “os artistas transformistas”. Aquele que marcou muitas pessoas LGBT+ como referência quase única de diversidade (mesmo que hoje em dia saibamos que não era tão politicamente correto).

A arte trans está caminhando para o esquecimento.

Esta arte trans que por tantos anos foi vista por nós, que nos moldou (querendo ou não), que construiu certa visão (torta) sobre nossas questões, esta arte foi feita com a participação de Márcia Vogue. Na Metrópole, no sábado, ela promete uma performance toda vestida de odalisca na pérgola da piscina. Haverá ainda a participação de modelos da nova geração do Recife: Fabiana Oliveira, Britney Hill e Charlote Delfina. Mas agora ela sobe ao nosso palco para uma conversa:

O que mudou no seu trabalho depois desses dois anos de pandemia?

A retomada está sendo pouco a pouco, pois infelizmente não existe mais o quantitativo de casas noturnas como nas boas épocas. Depois desses dois anos, os artistas infelizmente ainda continuam no trabalho de formiguinha por falta de apoio à arte do transformismo, que está cada vez mais defasada. Os planos para esse ano incluem a expectativa de dias melhores e patrocínios aos artistas.

Como você vê o crescimento da arte trans no Brasil e no mundo nos últimos anos?

A arte trans está caminhando para o esquecimento pelo fato de que com essa moda de bate-cabelo a nova geração não tem oportunidade de conhecer a arte das Trans Vedetes, como era o glamour dos palcos teatrais.

Com a eterna Elke!

Você já tem quantos anos de trajetória artística? Como você descobriu a artista dentro de você?

Eu tenho 36 anos de vida artística. A arte começou para mim a partir de um concurso de Miss Tropical na época do extinto Espaço Cultural Mangueirão. Fui Pantera do Carnaval, Rainha do Carnaval, Miss Brasil, enfim, colecionei inúmeros títulos. Trabalhei pelo Brasil afora. Fiz três apresentações especiais para o programa “Show de Calouros” no SBT, gravei o extinto programa “Você Decide” para a Rede Globo e fui contratada para trabalhar nos cantões suíços e em toda a Europa.

Quais são suas maiores referências?

Eu trabalhei com os nomes mais renomados da época, como Marlene Casanova, Lorna Washington, Rogéria, Eric Barreto, Eloína dos Leopardos, Isabelita dos Patins, Jane di Castro (in memorian) , Márcia Pantera, Dimmy Keer, Laura de Vison, experiência que levarei pra vida artística com muito orgulho.

Depois desses dois anos, os artistas infelizmente ainda continuam no trabalho de formiguinha por falta de apoio à arte do transformismo.

E qual é seu maior sonho?

Confesso que já realizei todos até agora e para essas realizações temos que correr atrás para consolidar. Obrigada meu Deus por tudo que eu conquistei, um sonho não, mas um desejo de voltar aos palcos teatrais com temporadas, pois neste exato momento as oportunidades se limitam a poucas apresentações.

Clube Metrópole: Rua das Ninfas, 125 – Boa Vista

@clubmetrope

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