DIA DO CINEMA NACIONAL: “Pixote: A Lei do Mais Fraco” choca ao retratar uma juventude abandonada

Por Eduardo de Assumpção*

19 de Junho – DIA DO CINEMA NACIONAL – “Pixote: A Lei do Mais Fraco” (Brasil, 1980) Como ‘Os Esquecidos’, de Buñuel, ‘Pixote, de Hector Babenco, choca ao retratar uma juventude abandonada. Baseado no livro ‘Infância dos Mortos’, de José Louzeiro, o longa é uma imersão na miséria que povoa as ruas do Brasil. Pixote, de 11 anos, interpretado por Fernando Ramos da Silva, é levado para a Febem junto com um grupo de outros menores, em São Paulo.

Leia também:

“Eu, Olga Hepnarová” conta a história da última mulher tchecoslovaca a ser executada

“Estados Unidos vs Billie Holiday” lembra a importância da cantora para a luta pelos direitos humanos

“Are You Proud?” faz tentativa ambiciosa de conectar os pontos, diferenças e intersecções queer

A primeira noite que o garoto experimenta é verdadeiramente aterrorizante ao ver um colega jovem detido sendo brutalmente estuprado. Este momento singular é apenas o começo da brutalidade que os personagens principais menores de idade enfrentam em um sistema que deveria proteger e melhorar suas vidas, mas em vez disso, os corrompe.

Enquanto Pixote lida com a vida no centro de detenção, ele começa a fumar maconha, cheirar cola enquanto limpa os banheiros. Essa justaposição de um Pixote risonho no alto da brisa de cola com a sujeira do chão e dos banheiros revela o profundo desejo de escapismo. O filme mostra Lilica(José Rubião), na primeira representação mais séria no cinema nacional, e muito comovente, da identidade trans.

Depois que o namorado de Lilica é espancado até a morte pelos guardas, ela é considerada culpada. Este momento é um ponto de ruptura crucial do filme, pois todos os menores percebem que suas vidas estão tão ameaçadas sob custódia quanto fora no mundo real. No Rio de Janeiro, após a participação em vários crimes, e serem enganados por uma oxigenada vivida por Elke Maravilha, Pixote, Lilica e Dito se tornam comparsas de uma prostituta mais velha, Sueli, interpretada pela grande Marília Pêra.

Nesses ambientes ásperos, os meninos são inocentes, chocados com o recente aborto de Sueli, e a mulher se torna sua amiga, cúmplice, mãe, amante e instrutora no jogo de roubar bêbados. O plano se torna mais bruto do que o imaginado, necessidades profundas e tabus vêm à tona. O filme parece capturar o espírito do neorrealismo italiano.

O longa segue a miséria e a desgraça dos seus personagens, não importa o que eles façam ou digam. Disponível em versão restaurada na @mubibrasil

*Eduardo de Assumpção é jornalista e responsável pelo blog cinematografiaqueer.blogspot.com

Instagram: @cinematografiaqueer

Twitter: @eduardoirib