A onda ursina cresce e chega para ficar com direito a concurso de Mister Urso – cis ou trans

É preciso a coragem de um urso para tirar a camisa e exibir uma saliente barriga em uma selva LGBT que oprime em favor do tanquinho. É preciso a coragem de um urso para enfrentar essa selva ao natural, sendo quem se é – bear, lontra, chaser, lobo, polar bear, cub, daddy e muitos mais nomes. Todos são bem-vindos à toca dos ursos, que ao contrário dos da natureza, têm se multiplicado e levado sua coragem para além dos antigos guetos.

Chega para ficar a aceitação e adoração dos pelos que estava restrita a nomes como Ursound, Bearland, Caneca de Prata, Soda Pop Bar e tantas outras tocas no Brasil todo – com cenas bear fortíssimas como em Recife, Curitiba e Rio de Janeiro. Uma recente polêmica com um rapaz no Twitter, se intitulando bear porque tinha alguns pelos, traduz o momento – há uma nova estética.

E essa estética acompanha, ainda bem, a evolução de uma sociedade onde os padrões de beleza até então considerados começa a ser questionado e perde espaço para a autoaceitacao acima de elementos europeus. As medidas do Renascimento de homens com percentuais mínimos inimagináveis de gordura no corpo convivem com formas mais fluidas, arredondadas e naturalmente peludas.

É importante lembrar que mesmo os ursos terem conquistado seu espaço, ainda é uma contracultura. Pois ela vai contra tudo que a mídia e mundo moderno prega sobre beleza.

Estão soltas as amarras das medidas corporais para quem assim quiser. Elas sempre estiveram, os ursos sempre existiram, mas agora também saem de suas tocas depois de uma hibernação trazida pelo inverno estético de um mundo gay idealmente jovem, branco, classe média, de corpo trincado em músculos e absolutamente imberbe – que continua existindo, mas não oprime mais, se tornou apenas mais uma opção de modo de vida.

No dia 14 de março eles elegerão seu Mister Urso 2020 no Eagle Bar, na ultradiversa Rua Augusta, em São Paulo, com inscrições abertas a todos os homens que representem a comunidade ursina – cis ou trans (veja o regulamento aqui). Não tem coroa na cabeça, mas o evento chega para coroar o crescimento de uma cena que há anos mostra sua força dentro do universo LGBT. Toda programação diversa que se preze inclui uma festa bear.

Então você deve estar se perguntando quais são os requisitos para se tornar o mister dessa comunidade. Ezatamag conversou com Dan Barroso, um dos organizadores do concurso, para saber quais atributos o Mister Urso deve reunir para levar a faixa. Ele lista abaixo.

Dan (dir.) e o Mister Urso 2017 – ainda é preciso representatividade

– O primeiro ponto é se identificar com a cultura ursina. Ou seja, ser um urso. Isso leva em consideração todas as camadas que a comunidade traz consigo, como ser cub ou daddy ou chubby. Mas esse é o ponto de início.

– Em segundo a pessoa tem que ter carisma, saber se portar e falar em público, pois ela irá representar uma comunidade inteira por um ano.

– O 3º ponto é ter uma boa noção social. Em tempos de bolsonaros, não seria legal mais uma pessoa em destaque falando coisas contra a comunidade. Em 4º e 5º colocaria beleza e autoestima. Estar bem com seu corpo, seja ele como for, e inspirar pessoas com isso é o que se espera.

Por que é importante os ursos terem um espaço deles?

É importante lembrar que mesmo os ursos terem conquistado seu espaço, ainda é uma contracultura. Pois ela vai contra tudo que a mídia e mundo moderno prega sobre beleza.

Ainda existe opressão por causa do padrão de corpo que dizem ser “o bonito”?

Ainda existe muita cobrança quanto ao corpo. Conheço muitos caras lindos que têm uma imagem distorcida de sua imagem, se acham feios apenas por estarem acima do peso, por não se encaixar no padrão aceitável. Então é importante criar representatividade. É importante ter ícones que sejam mais acessíveis a nós.

Mister Urso 2020

14 de março

Eagle São Paulo – Rua Augusta, 620 – Consolação

21h

De R$ 20 a R$70

www.eaglesaopaulo.com.br