“Cola de Mono” é thriller chileno sobre a intimidade e os horrores da adolescência, homoerotismo fraterno e repressão
Por Eduardo de Assumpção*
“Cola de Mono” (Chile, 2018) Chile, meados dos anos 1980. Os irmãos adolescentes Borja(Cristóbal Rodríguez Costabal) e Vicente(Santiago Rodríguez Costabal) preparam-se para celebrar o Natal. Não há clima festivo em sua casa – a menos que consideremos que seja uma noite juntos com uma bebida forte e um maço de cigarros. O título é referência a uma bebida tradicional à base de pisco, ovos e cacau.
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Quando uma mãe viúva mistura pílulas com álcool e adormece na véspera de Natal, seus filhos se jogam na noite. O mais velho vai em busca do êxtase sexual. O mais novo, Borja, descobre um segredo escondido pelo irmão. Na produção de Alberto Fuguet – vagamente baseada em suas experiências pessoais – a estrutura estilística e as convenções do enredo se misturam.
O diretor brinca com emoções e flerta com gêneros extremamente diferentes, do drama familiar ao slasher, mas os separa claramente um do outro, cada um celebrando separadamente.O filme é baseado principalmente nas diferenças entre Borja e Vicente. Apesar da idade, o irmão mais novo é independente e mais liberal, e o irmão mais velho tem medo de sua sexualidade.
O primeiro deles dança nu e beija a imagem do espelho, enquanto o segundo reza a Deus, prometendo que nunca irá para a chamada caça. Ambos os irmãos são gays, mas isso é tudo que eles têm em comum. Fuguet também se inspirou nos giallos italianos dos anos 1970 e 1980, que são determinados, entre outros, por cores saturadas, caindo nos rostos dos personagens e suculento sangue artificial.
A atmosfera descolada da realidade harmoniza-se perfeitamente com a narrativa fragmentada e a nudez onipresente. ‘Cola de mono’ é uma combinação incomum de um filme de amadurecimento e um thriller erótico. Na tela há notas de rodapé de dicionário repetidamente, destinadas a explicar aos espectadores mais desentendidos o que são jockstraps ou cruising.
É a partir delas que conhecemos a receita do drink-título – que vai acertar a cabeça de um dos heróis adolescentes. Se apresenta como um thriller chileno sobre a intimidade e os horrores da adolescência, sobre o homoerotismo fraterno e, finalmente, sobre o efeito da repressão.
*Eduardo de Assumpção é jornalista e responsável pelo blog cinematografiaqueer.blogspot.com
Instagram: @cinematografiaqueer
Twitter: @eduardoirib