“Pedágio” explora a dualidade humana em um conto de amor de uma mãe sendo guiada ao contrário

Por Eduardo de Assumpção*

“Pedágio” (Brasil/Portugal, 2023) Lidar com a falta de validação materna é algo muito delicado na vivência de uma pessoa LGBTQIA+. Em seu segundo longa-metragem, a roteirista e diretora Carolina Markowicz , explora a desconcertante dualidade da existência humana em um conto de amor de uma mãe sendo guiada ao contrário.

Leia também:

“Os Segredos do Universo por Aristóteles e Dante” é adaptação fofinha do livro para os cinemas 

Festival MixBrasil: Além de um filme de amor prisional e confinamento, “O Paraíso” é uma relíquia cinéfila

Festival MixBrasil: “Em Outros Tempos” traz romance inesperado e intenso de 24 horas

A mãe solteira Suellen (Maeve Jinkings) está preocupada com o filho Tiquinho (Kauan Alvarenga). Quando não está na escola, ele está em casa fazendo vídeos, dublando Billie Holiday, usando maquiagem e vendendo produtos. Apesar da pressão constante para mudar seus caminhos, Tiquinho se recusa, determinado a ser ele mesmo.

Aos 17 anos, Tiquinho vive em total liberdade com sua orientação e identidade sexual. Portanto, não tendo nenhum atrito dentro de si, não fica na defensiva e vê a atitude materna pelo que ela é, um misto de ignorância, medo e preconceito. Forte em sua consciência, ele não sente raiva dela e nunca deixa de amá-la. Mas Suellen está desesperada por ajuda.

Quando sua colega de trabalho, traz informações sobre um novo e supostamente eficaz programa de cura gay executado por um pastor estrangeiro, ela não hesita. Descobrindo que o custo está fora de seu alcance, Suellen encontra um caminho ilegal para conseguir os fundos, determinada a tornar o futuro de seu filho melhor, não importa o que seja necessário.

Logo ela está envolvida na criminalidade, com o namorado, interpretado aqui, por Thomas Aquino. Mas, mesmo errada, Suelen ama Tiquinho, encorajando onde pode, porém são os medos do mundo que a impedem de abraçá-lo totalmente, algo que a performance de Jinkings agarra completamente, tornando-a empática, mesmo que toda situação aponte o contrário.

Carolina Markowicz faz uma declaração ousada sobre a sociedade conservadora e homofóbica do Brasil com ‘Pedágio’, um filme que utiliza o humor desconfortável para criar um comentário social inabalável sobre o estado atual das coisas. É uma história que abraça a complexa dualidade de uma geração mais jovem que anseia por se libertar de uma história de tradição repressiva, mas deve coexistir em um mundo dominado por crenças ultrapassadas.

NOS CINEMAS!

*Eduardo de Assumpção é jornalista e responsável pelo blog cinematografiaqueer.blogspot.com

Instagram: @cinematografiaqueer

Twitter: @eduardoirib