Como a tecnologia, principalmente IA’s, podem ser higienistas e invalidar identidades transsexuais?

Por Yonara Oliveira*

Neste exato momento, IA’s que são treinadas por seres humanos, estão ocupando grande espaço no cotidiano. Estarmos atentos na escalada da tecnologia é essencial para entender como vieses preconceituosos e arraigados na estrutura social são transferidos para essas ferramentas, processo de
exclusão e mal entendimento de termos, na qual a comunidade usa de forma política e resistência à marginalidade à qual somos submetidos todos os dias enquanto pessoas trans.
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Trago um exemplo recente desse treinamento excludente no ChatGPT (imagem). Ao pedir uma correção da minha Bio no chat, ele modificou a palavra “travesti” por transsexual, alegando que a terminologia foi
“atualizada para ser mais respeitosa”.

A palavra travesti, sim, é usada para atacar pessoas que se identificam como tal, assim como eu, sabemos. Porém, o termo que é popular na América Latina, foi ressignificado pelo ativismo. Pessoas o adotam no intuito de se apropriar do termo, como identidade e resistência política. Higienizar identidades autoatribuídas é um erro. Redefinir como uma pessoa trans se identifica e se reconhece é transfobia, e neste caso, a transfobia chegou na tecnologia, nas ferramentas de pesquisa e nas inteligências artificiais.

Este é mais um dos problemas que posso citar, além do que já tenho postado aqui, e o que aponta o projeto “Eu existo”, onde falamos sobre erro no reconhecimento de identidades de pessoas trans por inteligências artificiais. Um problema que nos afeta hoje e nos afetará ainda mais amanhã, dada a proporção em que essas ferramentas tecnológicas ocupam espaço no mundo moderno.

Não tolerar e, para além, apresentar soluções para esses “defeitos” é obrigação de todos, não só de pessoas que trabalham com tecnologia, mas de outras instituições, da sociedade em geral e nós, pessoas trans. Enquanto presente e futuro não incluírem a todas as pessoas e suas idiossincrasias, ainda estaremos no passado e neste, estamos mortas.

Se você é uma pessoa trans, acesse a API do projeto Eu Existo e contribua com essa mudança clicando aqui.

*Yonara Oliveira é assistente de diretoria na Publicis Brasil e líder na Lead at Égalitrans – Publicis Groupe