“Marte Um” mistura momentos ternos e agridoces da vida de uma família negra de classe média no Brasil

Por Eduardo de Assumpção*

“Marte Um” (Brasil, 2022) Dirigido por Gabriel Martins, ‘Marte Um’ é um filme que mistura com muita sensibilidade momentos ternos e agridoces da vida de uma família negra de classe média no Brasil lidando com crescentes conflitos internos no contexto da eleição de um governo fascista, em 2018.

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O chefe da família é Wellington (Carlos Francisco), porteiro de um condomínio residencial que está sóbrio há quatro anos e sonha que seu filho Delvinho (Cícero Lucas) seja um grande jogador de futebol, no entanto, ele tem pouco interesse por esportes e prefere passar o tempo estudando astronomia e sonha em chegar a Marte.

Para o filho mais novo, Deivinho (Cícero Lucas), o projeto Marte Um, que pretende colonizar o planeta até 2030, é muito importante. A ressalva à missão – aqueles que viajam para Marte nunca mais voltarão – revela o desejo não verbalizado do garoto de escapar de sua realidade.

A única que sabe disso é sua irmã mais velha, Eunice (Camilla Damião), que acaba de encontrar uma namorada e começa a almejar independência, mas ainda não sai na frente dos pais. Enquanto isso, a mãe Tércia (Rejane Faria), que sonha em ir para Paris, é vítima de uma ameaça de bomba na rua que acaba virando piada para a TV.

O evento a deixa marcada. ‘Marte Um’ é uma bela obra de realismo social orquestrada a partir da observação, humor, ternura, dignidade e boas performances. Martins não deixa as questões políticas óbvias, mas permite entender de forma bem sutil como a vida de cada um dos membros dessa família cativante mudará com a ascensão de um regime retrógrado.

A retórica racista, classista e anti-LGBTQ+ do novo presidente vai afetá-los em algum momento. No entanto, ‘Marte Um’ nunca vai para o lado pessimista, pelo contrário, deixa claro que o amor sempre será maior que o ódio e que, não importa o que venha, essa família permanecerá unida e com a esperança viva de realizar seus sonhos.

Disponível no @telecine

*Eduardo de Assumpção é jornalista e responsável pelo blog cinematografiaqueer.blogspot.com

Instagram: @cinematografiaqueer

Twitter: @eduardoirib