Ele tinha 46 e eu 18, tinha acabado de completar 18 e ainda terminava o Ensino Médio, na minha cabeça aquilo ainda era mais uma fantasia do que realidade e, talvez por isso, as expectativas eram aquém do que realmente aconteceu…

Acredito que como todo adolescente, jovem, adulto, a idealização sobre a primeira vez seja de certa forma muito parecida… fantasiamos com aquilo que nos faria bem, com o homem ou a mulher dos nossos sonhos, em uma cabana na floresta ou à luz do luar, talvez depois de um jantar romântico e um cinema bem juntinho de seu par perfeito. E o que será que acontece depois? Há o depois? No meu caso houve, por anos, e essa história que conto para vocês hoje: a minha primeira das três primeiras vezes! Calma! Eu explico…

Aos 18 anos, eu ainda me entendia com uma identidade masculina, mesmo sentindo que não era aquilo, então minha primeira experiência com outro homem foi sim essencialmente uma relação homossexual, que durou 3 anos aproximadamente…

Com 24 anos eu entendi que era transexual e que estava em um corpo dito masculino e que aquele momento seria o meu “despertar” para a mulher que sempre esteve dentro de mim, e já aos 24 anos tive meu primeiro sexo com um homem (e com uma mulher) que me olhavam como eu sempre fui: A Leona.

Logo após completar 33 anos, realizei a cirurgia de redesignação sexual, mas conhecida como troca de sexo (uma forma equivocada de se dizer) e a felicidade não cabia em mim. Obviamente, eu iria fazer um sexo um dia e ele aconteceu quase 3 meses depois da cirurgia e foi como se fosse realmente a minha primeira vez, realizada, curtindo cada momento do meu corpo finalmente acompanhando minha alma nessa jornada de autodescobertas. Mas isso será um assunto para uma segunda parte; hoje voltaremos aos 18 anos e a descoberta do corpo que amou ser desejado…

E o que será que acontece depois? Há o depois? No meu caso houve, por anos, e essa história que conto para vocês hoje: a minha primeira das três primeiras vezes!

Ele era, ou é ainda, arquiteto e paisagista, 46 anos, cabelos quase grisalhos e um aspirante a sugar daddy (naquela época não usávamos tais palavras). Walter era o tipo homem cavalheiro e com a vida feita, inteligente e aparentemente muito educado. O conheci numa sala de bate-papo, sim, lá mesmo onde todos se conhecem, mas não tem coragem de admitir rsrsrs…

Já havíamos conversado por cerca de 2 ou 3 semanas através de e-mail e na época não tínhamos celulares de última geração, WhatsApp, Facebook e por aí vai. O jeito foi ligar no telefone residencial dele de um orelhão! Conversamos vários dias e ele me fez a proposta para almoçarmos depois da escola na casa dele.

Lembrando agora deste episódio, sei que não deveria ter cedido tão fácil, ou talvez esperado algum amigo ou crush hétero chegar em mim, afinal todos temos estas fantasias e quem sabe não virava realidade um dia? Mas o meu eu dos 18 não queria esperar e ser o último a perder a virgindade, e o fogo na periquita depois de bater muito bolo não ajudava. E foi com essa curiosidade e com essa vontade de descobrir o que havia no depois do bate-papo que aceitei ir à casa do Walter.

Ele morava em um bairro não tão longe da cidade de São Paulo e, chegando ao endereço que me passou, o frio na barriga e a vontade de voltar chegaram. Eu já ouvia coisas horríveis de homens que sequestravam ou matavam jovens que iam assim, sem contar aos pais o que estava fazendo, e também na época era o auge dos skinheads. Mesmo com toda a insegurança, lá estava eu, apertando a campainha de uma casa florida num lugar estranho para mim.

Ele atendeu, sorriu, e logo começou a me beijar. Estava em êxtase e sentia que realmente aquele seria o momento! Entramos e ele começou a mostrar a casa: havia um estúdio improvisado onde era a garagem que ele praticava visagismo e coisas relacionadas à cultura de plantas e logo na frente uma casa linda, construída em pedras, com um lago criado por ele. No fundo, uma sala aconchegante com lareira e também um tapete de urso branco (eu acho que era urso). Discos e livros todos bem dispostos, e na parte de cima, como se fosse uma casa na árvore, havia um quarto pequeno, estreito e bem aconchegante.

Com 24 anos eu entendi que era transexual e que estava em um corpo dito masculino e que aquele momento seria o meu “despertar” para a mulher que sempre esteve dentro de mim.

Fomos ao quarto e ele logo perguntou se eu queria ficar sem roupa, neste momento não me lembro se tirei ou se ele tirou minha camiseta, mas em questão de segundos, estávamos nus, um olhando para o outro e nos beijando freneticamente. Não contei a ele que era virgem, não queria estragar aquele momento e tampouco mostrar minhas inseguranças e meus medos referentes a um encontro como aquele… logo percebi que ele acariciava minhas costas e lentamente me colocava por debaixo dele, naquele momento me entreguei e lembro de pensar que mesmo não sendo o homem ideal, ou o crush que eu sofri por anos, aquele homem poderia me satisfazer como eu gostaria que fosse.

Ele foi gentil, tentou ser o mais carinhoso possível, mas como todos devem saber, doeu…muito! A primeira experiência sexual não deve ser dolorosa, mesmo com companheiros certos, a pressa e a vontade nem sempre vão te ajudar neste momento. Usamos camisinha, mas mesmo assim eu senti que não estava tão à vontade para continuar e que talvez precisasse de um momento para me restabelecer. Decidimos tomar banho juntos e tomar alguma coisa (eu não bebo), então tomei Coca-Cola e ele um vinho.

Mesmo com toda a insegurança, lá estava eu, apertando a campainha de uma casa florida num lugar estranho para mim.

Tentamos novamente e desta vez, um pouco mais relaxada, consegui! Me senti vibrante, feliz, realizada, foi realmente muito bom e me deixou, a partir daquele momento, segura do meu corpo. Eu era desejada e alguém gostava do meu toque, do meu jeito, meu sorriso e meu beijo. Fizemos uma outra vez e logo que escureceu eu precisava voltar para casa. Nos despedimos, ele agradeceu e disse que eu era muito especial. Acreditei, pelo menos naquele momento.

Ficamos juntos, entre idas e vindas, cerca de 3 anos. Conversávamos sobre a vida, sobre viagens, sobre música clássica e sobre a natureza. Nunca me esquecerei do que o Walter foi para mim, e talvez, sem essa história, eu não teria outras para contar depois.

*Leona Rodrigues é trans-ativista, professora, criadora do canal Leona T e do projeto #nossahistoriatrans