Movimento Homossexualidade Saudável promove vivências para mostrar que somos todos um só, na dor e na alegria
O que nos une é a nossa humanidade, o que inclui medos, complexos, tristezas e muito preconceito quando falamos de pessoas LGBT. Uma realidade que o publicitário Marcelo Azevedo experimentou desde pelo menos seus 6 anos de idade – quando percebeu que era diferente dos outros meninos e sofria por isso.
Agora um homem de 41 anos, Marcelo facilita dinâmicas onde a fala e a escuta curam com o Homossexualidade Saudável. É em rodas de conversa, presenciais e agora muito mais de forma virtual na pandemia, que ele e os participantes dividem o que há dentro de si – que muitas vezes é o mesmo que há dentro do outro.
“Percebo o quanto nossos traumas, principalmente de infância, são comuns e vivemos em busca de aceitação e muito medo. Tudo isso causa um grande vazio existencial e quando não olhamos para as nossas feridas e vivências, buscamos satisfazer ou cobrir esse vazio com festas, bebidas, sexo, drogas. Todas são formas de amortecer essas dores,”, conta na entrevista a seguir:
Quando começou essa preocupação com o ser, com o desenvolvimento de si e também do outro?
Essa preocupação começou aos 6 anos de idade, quando percebi que eu era diferente dos outros meninos. Depois de muito bullying, xingamentos, agressões físicas, morais e dois abusos sexuais, eu precisava fazer algo. Mudei de escola e comecei a imitar o comportamento dos meninos mais “meninos” e com isso fui criando camadas de comportamento heteronormativo (na época nem imaginava isso), até estar totalmente imerso em alguém que eu não era. Fui representante de classe no primeiro ano do Ensino Médio e desde lá eu não permitia mais nenhum moleque zoar com as afeminadas, com pretos, gordos ou qualquer outra minoria. Depois de mais de 15 anos no corporativo, senti a necessidade de retomar minhas raízes e comecei à trabalhar com projetos de diversidade e inclusão e relembrar quem eu era de verdade. Hoje atuo como empreendedor social e meu trabalho está 100% dedicado a causas sociais e humanitárias, como:
Homossexualidade Saudável > Surgiu da necessidade que eu tinha de expressar sentimentos reprimidos e principalmente o sentimento de solidão por não encontrar muitos espaços seguros para falar sobre autoconhecimento, espiritualidade e processos de cura. Somos um coletivo com 200 homens do Brasil e do mundo que disse sim para nossos processos de auto desenvolvimento humano.
Tocalivros Social> É um projeto de educação digital que usa uma plataforma de audiolivros para formar leitores, democratizar o acesso à leitura e dar acessibilidade. Além disso, realizamos encontros de leituras no Hospital das Clínicas (Itaci e ICR) com crianças que estão em tratamento de câncer e doenças raras, idosos, pessoas com deficiência visual e dislexia, alunos e professores de escolas públicas.
Depois de mais de 15 anos no corporativo, senti a necessidade de retomar minhas raízes e comecei à trabalhar com projetos de diversidade e inclusão e relembrar quem eu era de verdade.
Quem participa-pode participar das vivências? Qual o principal objetivo delas?
Começamos com rodas de partilhas para homens gays, assim criamos um espaço seguro para os diálogos. Porém, ao longo desse ultimo ano, sentimos a necessidade de acolher todes, assim ampliamos os formatos dos encontros e do público. Prioridade para comunidade LGBTQIA+ e pessoas que apoiam nossas causas. O principal objetivo dos nossos encontros é a prática de fala e escuta afetiva, onde temos um tema e, a partir da experiência de cada participante, vamos aprendendo e desconstruindo padrões e comportamentos. Também temos o Programa HS >> que foi desenvolvido para aprofundarmos algumas questões com práticas integrativas, usando técnicas como constelação sistêmica, tantra, escrita intuitiva, meditação e as partilhas.
Por que você acha importante essa busca das pessoas? De que maneira isso reflete no coletivo e na dinâmica do mundo?
Já passamos de 80 encontros e já tivemos oportunidade de conhecer histórias de mais de 1800 pessoas da comunidade LGBTQIA+ e percebo o quanto nossos traumas, principalmente de infância, são comuns e vivemos em busca de aceitação e muito medo. Tudo isso causa um grande vazio existencial e quando não olhamos para as nossas feridas e vivências, buscamos satisfazer ou cobrir esse vazio com festas, bebidas, sexo, drogas. Todas são formas de amortecer essas dores, isso mostra os tristes números de suicídios, distorções e compulsões de todo tipo. Uma vez que eu tenho coragem e trago uma questão íntima para o grupo, eu automaticamente estou tirando e movimentando essa energia que ficaria parada. Esse movimento de FALA – ESCUTA AFETIVA é um movimento de cura individual, mas de impacto coletivo. Uma vez que eu me sinto integrado com as minhas sombras, eu consigo devolver para o mundo o melhor que há em mim. Não podemos mudar o passado, mas podemos integrar e ressignificar essas situações no presente, com impactos positivos para o futuro.
O principal objetivo dos nossos encontros é a prática de fala e escuta afetiva, onde temos um tema e, a partir da experiência de cada participante, vamos aprendendo e desconstruindo padrões e comportamentos.
Como realizar esta “jornada para construir novas possibilidades de ser” em um mundo que insiste que não sejamos?
Cada pessoa tem uma trajetória e uma jornada individual, vejo a vida como uma grande escola em movimento. O principal desafio é apenas ser! Precisamos conhecer a história da humanidade e principalmente a história de nossa comunidade, onde eram naturais as relações afetivas entre pessoas do mesmo sexo, em algumas comunidades indígenas pessoas trans e homossexuais são tratadas como curandeiras por terem em um único ser a integração do masculino e feminino. O mundo está em transição e precisamos primeiramente nos conhecer, conhecer nossa história, e isso só é possível com a auto-observação.
Durante a pandemia a necessidade de paz e equilíbrio ficou maior. Como isso refletiu no seu trabalho?
Woooow! Isso foi muito louco. Porque nosso projeto começou em SP e fazíamos dois encontros por mês. Com a pandemia, fomos pioneiros em experimentar a vivência pelas plataformas digitais. Para minha surpresa, o projeto que era regional explodiu! Tínhamos um grupo com 20 participantes e com a pandemia fomos para 200. São homens gays de todos os cantos do Brasil e do mundo. Como estávamos todos em casa, coloquei toda energia nesse trabalho e chegamos a ter 13 encontros por mês, atendendo gratuitamente cerca de 300 homens nessas rodas de partilhas.
O que você pode dizer para quem não acredita que exista uma homossexualidade saudável? É preciso informar?
Cada um sabe e conhece sua trajetória e a busca por qualidade de vida está relacionada com ampliar o olhar para a nossa alimentação, para os nossos relacionamentos, sexualidade, propósito de vida, saúde e principalmente o treino de observarmos nossos sentimentos e conseguir nomear e sermos verdadeiros com nossas escolhas. Não existe certo e errado. Existem momentos em que a vida nos dá um empurrãozinho para cuidarmos das partes que foram escondidas. Homossexualidade saudável é uma proposta para sairmos da escuridão que a sociedade nos colocou nos últimos séculos. Para sermos livres, amarmos e sermos quem somos!
Não existe certo e errado. Existem momentos em que a vida nos dá um empurrãozinho para cuidarmos das partes que foram escondidas.
Como as redes sociais têm auxiliado a ampliar a mensagem do Homossexualidade Saudável? As lives também são um bom caminho?
As redes sociais e plataformas digitais são ferramentas potentes e ajudam a dar voz para pessoas, causas e oferecem aprendizados e ferramentas de desenvolvimento humano. Também podem ser a causa das grandes distrações e te fazer passar horas do dia improdutivo, tudo depende da dose e do conteúdo. As lives permitiram que todos tivessem acesso gratuito a conteúdos que anteriormente eram exclusivos. O caminho do autoconhecimento e da espiritualidade ainda é caro e elitista e as lives e projetos como o HS permitem democratizar de forma consciente esses caminhos do autodesenvolvimento humano.
O que vem de projeto novo por aí?
Tem muitas novidades chegando! Uma das nossas pautas é machismo e homofobia e temos feito parcerias com projetos lindos que trabalham com homens heterossexuais como @masculinidadesaudavel @brotherhood @jornadasolar e a ideia é colocarmos pessoas LGBTQIA+ com esses homens que buscam autoconhecimento, para eliminarmos ressentimentos, mágoas e agressões, promovendo a cura coletiva. Aqui em Floripa começamos o Conexão HS >> Projeto de acolhimento afetivo a pessoas da comunidade LGBTQIA+ em situação de rua em parceria com Ivone Perassa, uma ex-freira porreta que nos ensina na prática como ampliar o olhar e reintegrar essas pessoas na sociedade. Isso começa com o lava-pés (os voluntários lavam e oferecem massagem nos pés dessas pessoas) e rodas de partilha. Já nos conectamos principalmente com pessoas trans que infelizmente estão à margem da sociedade e da comunidade. Também acolhemos idosos LGBTQIA+ em nosso grupo, temos pessoas de 22 a 71 anos de idade e cada vez mais estamos nos aproximando dessas pessoas com nosso projeto. Em 2021 teremos Programa HS para aprofundar questões como: Ausência Paterna, Energia Sexual, Criança Interior, Integração da Energia Masculina, Relacionamentos e NOFAP.
Agora me conta qual é o seu maior sonho.
Meu maior sonho é que a gente possa despertar da ilusão de que estamos separados e que a gente possa amar e sermos livres!
Instagram @homossexualidadesaudavel