Falta de terapia ou de senso?  

Por Ágatha Pauer*  

Numa entrevista do programa “Conversa com Bial”, o participante Ronaldo, ex-atacante da seleção brasileira e de times como Milan, Real Madri e Corinthians, ao ser relembrado do episódio no ano de 2008, culpabilizou o seu envolvimento com travestis ao abuso de álcool. Ronaldo na época foi acusado por não ter pago por um suposto programa em um motel da Barra da Tijuca, no Rio. 

Diversos equívocos e transfobias foram cometidos durante essa entrevista. Uma delas foi quando o apresentador do programa, Pedro Bial, se referiu à travestilidade usando o termo “o travesti”. Afinal de contas, travesti é um termo que foi cunhado na América Latina e tem como conceito a identidade feminina.  

Após esse episódio, toda a narrativa estruturada na entrevista teve uma perspectiva desumanizada a partir do momento em que o jogador é questionado sobre a necessidade de chamar alguma atenção e/ou pedir ajuda e, em seguida, a resposta ser com toda convicção: “eu precisava era da tabata (terapeuta) naquele momento fazendo minha terapia”. E aos risos o apresentador concorda.  

Ronaldo: a culpa é do álcool

Toda essa cena deixa escancarada a realidade de mulheres trans e travestis quando o assunto é afetividade. Até porque, como diz Luisa Marilac, o corpo da travesti sempre foi merecedor de orgasmos e nunca de amores. O seu afeto se encontra nas esquinas e em ambientes desertos.  

São nesses lugares que os homens cis hetéros se permitem a amá-las ou usar o corpo delas para o seu próprio prazer para que, no final, em sua grande maioria, mate-as. Nesse sentido, tirar a vida é o mesmo que reprimir o seu desejo e, consequentemente, o sentimento que se cria é o ódio por amar esses corpos.  

Porque a travesti não só é recusada de receber, como também de dar amor. E toda essa narrativa novamente corrobora para a sua solidão. 

Fotos: Reprodução/GShow

*Ágatha Pauer é criadora de conteúdo, atriz e travaturga, estudante do @iffcampuscabofrio e ex-bolsista do projeto de arte e cultura. Atualmente é coordenadora do movimento de mulheres da RL e filiada ao @gruposiguais.