“The Blue Caftan” é drama poético da diretora Maryam Touzani sobre um alfaiate marroquino enrustido e seu aprendiz gay

Por Eduardo de Assumpção*

“The Blue Caftan” (Le Bleu du caftan, Marrocos, 2022) Este é o drama lindamente poético, da diretora Maryam Touzani sobre a relação entre um alfaiate marroquino enrustido, Halim, (Saleh Bakri), sua esposa doente Mina (Lubna Azabal) e seu aprendiz gay, Youssef (Ayoub Missioui). Touzani leva seu tempo para nos apresentar seus personagens e o ritmo lento de vida que eles levam na Medina, de Sale, Marrocos.

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Halim é um alfaiate experiente, ensinado por seu pai, e se especializou na produção de lindos caftans feitos à mão. O processo de produção é lento e intrincado, mas os negócios vão bem e Halim tem mais pedidos do que consegue atender. Seu último aprendiz, Youssef, está ansioso para lidar com o ofício, e os dois homens desenvolvem um vínculo estreito durante as longas horas de trabalho juntos.

Mina percebe isso e faz de tudo para sabotar o relacionamento. No entanto, ela está muito doente e não tem energia para continuar. Halim está dividido entre seus instintos e seu profundo amor por Mina, com quem está há 25 anos. Ele frequentemente busca consolo e alívio no Hamman’s, de Sale para banhos de vapor, massagens e sexo com outros homens.

Acompanhamos os três personagens conforme seus relacionamentos evoluem durante a progressão da doença de Mina. Há muitas cenas em que Touzani e a diretora de fotografia Virginie Surdej deixam a câmera demorar para que o público veja essa arte que está desaparecendo lentamente por causa da modernização.

Essas cenas não são apenas para mostrar o quanto a diretora se preocupa com a arte, mas também para apresentar um ângulo agudo da beleza do processo de confecção e design de roupas feitas à mão.

‘The Blue Caftan’ é belo e contido, não se detendo na habitual disposição explícita dos filmes de arte que lidam com esses temas. Touzani entrelaça desejos reprimidos com a perda de respeito pelas tradições, como cenas de clientes mencionando que não conseguem identificar a diferença entre caftans feitos à mão e feitos à máquina com aqueles que simbolizam camadas à jornada de expressão e aceitação de Halim.

O novo casal se torna um trio, seu amor se expande além das fronteiras de gênero.

*Eduardo de Assumpção é jornalista e responsável pelo blog cinematografiaqueer.blogspot.com

Instagram: @cinematografiaqueer

Twitter: @eduardoirib