Phil Moretzsohn quer levar gratidão e amor para as casas das pessoas com obras que também fazem discutir nossa realidade
Phil Moretzsohn traz em si os elementos-chave para um artista ir além do decorativo, do superficial que é logo esquecido. Sensibilidade, inquietude, criatividade e, claro, dom para explodir criações nas paredes das casas das pessoas, materializar bonecos, elaborar figurinos, desenvolver coleções de roupa e estar sempre querendo se reinventar.
Com uma exposição em Portugal e uma segunda coleção de roupas no gatilho esperando um pouco mais de certeza neste momento mundial, este “brasilioca” (metade carioca e metade brasiliense) conta à Ezatamag que sempre se viu às voltas com as cores, tintas, bonecos, com o mundo lúdico no qual ele tem a alegria de habitar – e no qual está muito feliz.
Os traços botânicos que têm dominado o momento criativo do orgulhosamente canceriano de 32 anos estão conectados à triste situação atual da Amazônia – em chamas. A gratidão por estar em atividade, produzindo, criando, em plena pandemia também ganha conexão e vai parar direto nas obras que alegram e fazem pulsar os lares de seus clientes.
“Eu quero levar muito do que eu estou sentindo, que é gratidão por eles estarem abrindo a porta deles, a casa deles, e me recebendo, recebendo minha arte com tanto carinho, com tanto amor. Isso não tem preço. Mais do que fazer a arte, ver os olhos do cliente brilhando quando eu acabo é o que mais me emociona, o que faz sentido em ser artista. Tento levar amor, energia positiva”, inspira na entrevista a seguir.
E me diz como pintura e paixão por bonecas entraram na sua vida. Artista nasce artista?
Desde pequeno eu fui apaixonado por artes. Eu tenho fotos de quando eu era criança com tintas, lápis-de-cor, bonecos de gesso e eu sempre tive mania de colecionar. Uma das coisas que eu colecionava era boneco, sempre gostei muito de boneco e tinha todos. Era o que eu pedia de Natal, Dia das Crianças. Minha família não tinha muita grana, então eu ficava esperando esses momentos para eu pedir de presente os bonecos. Era uma coisa meio que inevitável acabar fazendo bonecos em algum momento da minha vida. A Escola de Belas Artes veio para em ensinar técnicas, para que eu entendesse que eu posso ser artista e trabalhar com diversas formas de criação, isso foi incrível. Mas acho que ser artista está na gente, artista nasce artista. Não tem como você fazer um curso de Desenho e aprender a desenhar sem que você tenha vocação. Por ter uma sensibilidade aflorada, o artista tem essa fama de ser doido. Não é isso, é uma sensibilidade maior.
A arte acaba sendo um pouco do artista, transmitindo um pouco o eu do artista. Vem daí essa explosão, é ligada ao que eu sou.
Não tem como não falar da explosão das suas obras, tanto de cor quanto de forma. Não é uma obra que passa batida. Você gosta disso?
Isso diz muito da minha personalidade. Não necessariamente eu faça com a intenção de que seja forte, mas eu sou essa pessoa. Eu brinco que eu sou canceriano do último dia de Câncer, com ascendente em Peixes. Eu sou puro drama. Quando você lê qualquer coisa sobre a pessoa de Câncer, se encaixa muito comigo, eu acredito muito nesse lance de signo porque diz muito. É como se estivesse me descrevendo. Tenho essa coisa do drama e tenho muito também a coisa da criatividade e de estar sempre em um mundo lúdico, avoado mesmo, que é essa característica do ascendente em Peixes. Então eu tenho muito afloradas a sensibilidade e a criatividade. Isso atrapalha minha vida, drama atrapalha em qualquer momento, mas na arte me ajuda muito. Ser canceriano com ascendente em Peixes e Lua em Libra, nossa, acho que é especial por eu ser artista pelas características. A arte acaba sendo um pouco do artista, transmitindo um pouco o eu do artista. Vem daí essa explosão, é ligada ao que eu sou.
São curvas, plantas, cores, processos sempre muito fortes. Causar algo em quem está vendo é um objetivo? Qual mensagem você busca passar?
Qualquer arte quer isso. Nós como artistas temos como objetivo trazer uma sensação, senão não denomino como arte. Aquilo que não provoca, aquilo que não faz pensar, aquilo que não te prende de alguma forma, não é considerado arte. A arte é provocativa, ela é para causar uma sensação. Esse é o barato da arte, porque cada um tem uma visão, cada um tem uma sensação. Mas eu acho que a arte tem que causar sim e como artista eu não vou fazer nada que não seja significativo neste aspecto. Este é o meu objetivo, causar algo. Causar uma estranheza, até um desgosto, mas eu quero que as pessoas sintam alguma coisa. Que elas tenham o que provoque algo nelas. É fundamental para qualquer artista.
Como você se sente quando te convidam para entrar em casa e transformar o ambiente com o seu trabalho? O que você quer levar para dentro das casas das pessoas?
Neste momento em que a gente está em plena pandemia, e com esse País totalmente desacreditado politicamente, como artista é quase um milagre o que está acontecendo comigo. Eu estar trabalhando da forma que estou trabalhando. Eu sou todo grato neste momento. É isso que eu levo para os meus clientes, essa energia positiva. Por isso que eu incluo a cromoterapia também, até mesmo para que os clientes entendam. Eu como artista acredito muito nessas coisas como a cromoterapia, energia, física quântica, na vibração. Consequentemente eu acredito na cor, como artista mais ainda, me faz ter esta certeza de que atrai, traz essa sensação. Eu explico isso para os meus clientes. Eu quero levar muito do que eu estou sentindo, que é gratidão por eles estarem abrindo a porta deles, a casa deles, e me recebendo, recebendo minha arte com tanto carinho, com tanto amor. Isso não tem preço. Mais do que fazer a arte, ver os olhos do cliente brilhando quando eu acabo é o que mais me emociona, o que faz sentido em ser artista. Tento levar amor, energia positiva.
É uma troca? Estes ambientes onde você intervém também te inspiram em próximos trabalhos?
Uma troca sempre tem. Chegar na casa do cliente sempre me inspira. Na maioria das vezes uma coisa que eu não ofereço, inclusive, até não gosto principalmente para a arte neste estilo, são croquis. Não gosto de fazer croqui. Quando o cliente quer o croqui eu ofereço primeiro a arte e depois o croqui de acordo com o que eu criei na casa dele. Até para não ficar limitado. Uso croqui para Moda, figurino, aí acho o croqui importante. Eu gosto de receber essa troca, essa inspiração. Mas não acho que um cliente inspira para o outro. A cada cliente eu aprimoro minhas técnicas, praticar me faz me sentir melhor, mais seguro. No momento do processo é essa evolução que eu levo de um cliente para o outro.
Eu sou todo grato neste momento. É isso que eu levo para os meus clientes, essa energia positiva.
É uma impressão minha ou a arte botânica tem ganhado cada vez mais espaço no seu coração? Como ela chegou e te inspirou?
Nesse momento em que eu tenho pintado muito o botânico eu acho que tem sido como um protesto em relação ao que tem acontecido com a Amazônia e todo esse desmatamento. A questão indígena. Isso me machuca muito por ter essa sensibilidade. O que vai ser daqui para frente vendo a Amazônia devastada? Então pintar a natureza neste momento é como gritar e dizer “vamos acordar porque daqui a pouco só vai ter pintura”. Eu acho que a gente é capaz. Neste momento é um protesto, não deixa de ser. É o que eu mais gosto de pintar neste momento. É por eu acreditar muito nessa conexão, nessa energia, acreditar que somos todos conectados. Eu gosto muito de estar na natureza, de lugares tranquilos. É onde eu gosto de estar, de criar, onde eu renovo minhas energias.
Como ficou o seu processo criativo nesta pandemia? A arte pode ajudar neste momento?
No início da pandemia eu fiquei muito inspirado. Fiquei com muito medo de entrar em parafuso e criei muito. Eu fiz mais de 50 bonecos, chegou o momento em que os bonecos estavam me atrapalhando porque eu não morava em um apartamento tão grande. Os bonecos começaram a tomar conta e eu tive que parar. Depois ficou ruim em questão de inspiração porque fiquei com a cabeça mais agitada, busquei ajuda profissional. Era impossível criar alguma coisa. Mas no momento estou totalmente inspirado. No meu caso, ficar sem trabalhar é que me deixa maluco. Quanto mais eu crio, produzo, mais eu me sinto inspirado. Estar trancado, sem poder ter contato com as pessoas, tem momentos que inspira o artista e tem momentos que não.
E quais são os planos para o futuro? O que vem por aí?
Não sou muito uma pessoa de fazer planos. Mas como artista meu plano é sempre ter um Plano B, me reinventar. Meu plano é sempre me renovar, estar sempre sendo versátil, criador. Mostrar que sou capaz de renascer das cinzas. Tem uma exposição em Portugal planejada, mas ainda sem data. Ainda estou definindo o tema também, mas minha ideia é que seja de nus.
Para finalizar, qual é o seu maior sonho?
Que a minha arte se propague. Que as pessoas queiram, achem interessante. Quero ser um artista reconhecido. Mas um sonho físico é ter uma casa de arte, com uma ou duas salas de Teatro com boa capacidade, não precisam ser enormes. Uma casa com um café, um espaço-galeria para expor minha arte e convidar outros artistas. E neste mesmo lugar um ateliê de criação.
Instagram @philmoretzsohn
Phil Moretzsohn
10/05/2021 14:01
Muito obrigado!