“Antes o Tempo não Acabava” é um conto tocante de uma cultura indígena em rápido desaparecimento
Por Eduardo de Assumpção*
“Antes o Tempo não Acabava” (Brasil/Alemanha, 2016) Um indígena tenta sobreviver na selva urbana de Manaus (AM), a metrópole que abriga mais de dois milhões de pessoas no meio da floresta amazônica, em “Antes o tempo não acabava”, primeira colaboração de Sérgio Andrade e Fábio Baldo. Um conto tocante de uma cultura em rápido desaparecimento e a situação daqueles que são pegos nessas mudanças turbulentas.
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Anderson (Anderson Tikuna) nasceu em uma tribo indígena e vivenciou em primeira mão os dolorosos ritos de passagem da idade. Ele também trabalha em uma fábrica em Manaus. Ele fala português no trabalho e socialmente, e sua língua nativa nativa em casa. Mais importante, ele tem que conciliar suas crenças, valores e moral nativos com a cultura do “homem branco” que está lentamente, mas incisivamente, rastejando nas aldeias.
O sincretismo cultural é o tema central do filme. Muitas vezes aparece em situações inusitadas: uma banda de rock de indígenas, Anderson cantando e dançando ‘I’m a Single Lady’, de Beyoncé, na frente do espelho e até um karaokê nas línguas indígenas nativas (Tikuna, Sateré Mawé e Neenguetu). A trilha sonora do filme inclui músicas das bandas eletrônicas europeias The Knife e Kraftwerk em contraste com ritos indígenas.
Esses rituais elaborados fazem contraponto com a vida mais familiar na cidade grande, onde Anderson monta aparelhos eletrônicos para ganhar a vida e de repente se torna cabeleireiro. O trabalho de cabeleireiro o coloca em algum lugar entre a modernidade e os costumes antigos. A homossexualidade e o pertencimento também são o tema focal do filme, com Anderson tendo encontros com homens e mulheres.
É revigorante e reconfortante que até cineastas da remota Amazônia abracem o assunto. A sexualidade do protagonista proporciona alguns momentos impressionantes que passam por pura intensidade e às vezes são quase abstratos. A fotografia do filme é colorida e vibrante, revelando para um público mais amplo os ritos indígenas, a floresta amazônica e os recantos pouco conhecidos de Manaus.
O trabalho de câmera é principalmente estático, permitindo que o ambiente e os atores hipnotizem lentamente e envolvam os espectadores. Disponível no @primevideobr.
*Eduardo de Assumpção é jornalista e responsável pelo blog cinematografiaqueer.blogspot.com
Instagram: @cinematografiaqueer
Twitter: @eduardoirib