Não é sobre caridade, é sobre dignidade não só de vida, como também da nossa cultura, ancestralidade e origem
Por Ágatha Pauer*
No dia 25 de maio, mais precisamente no ano de 1963, representantes de trinta países africanos reuniram-se em Adis Abeba, na Etiópia, tendo como anfitrião o imperador Haile Selassie, e fundaram a Organização da Unidade Africana com o objetivo central e inicial de incentivar a descolonização de Angola, Moçambique, África do Sul e Rosédia do Sul.
Esse encontro se deu a partir do momento em que mais de dois terços do continente africano já tinham atingido a sua independência, primordialmente dos estados do império europeu.
Com a frase: “Possa esta convenção da união durar mil anos” se criou e projetou estratégias para que melhorasse os padrões de vida entre os Estados-membros e para que removesse o acesso militar às nações coloniais. No dia seguinte, uma carta foi assassinada por quase todos que estavam presentes e renomearam o “Dia da Liberdade de África” para o “Dia da Libertação de África”, onde em 2002 na ONU vem a ser substituída pela União Africana.
A branquitude desenvolveu a sua tecnologia racista para criar uma lei onde libertava os pretos do senhor do engenho para colocá-los na mão do Estado.
Por mais que esse dia tenha a sua relevância, a sociedade como um todo muitas vezes não tem consciência dele. Isso porque as narrativas que se contam advêm de uma perspectiva branca.
Até porque, quais foram e quais são as histórias que escreveram e escrevem pra gente? Não poderia o preto traçar a sua própria história retirada da sua vivência? Ou a ele resta apenas ser um objeto de estudo para que com a sua epistemologia não crie possibilidades para escrevivências da população preta?
O povo preto precisa retornar à sua africanidade. Até porque primeiro essa comunidade foi retirada do seu continente de forma bruta e desumana, para depois a branquitude tratá-la como uma mercadoria gratuita para que pudesse a agredir fisicamente, psicologicamente e sexualmente.
Para nós existem outras narrativas possíveis, não somos só o fruto da escravidão e da colonização.
E como se não bastasse, a branquitude desenvolveu a sua tecnologia racista para criar uma lei onde libertava os pretos do senhor do engenho para colocá-los na mão do Estado, deixando-os vulneráveis nas periferias. Destacar isso é pontuar uma narrativa que não nos cabe, apenas cabe à branquitude para que analisem a sua ancestralidade eurocêntrica, genocida e burguesa.
Para nós existem outras narrativas possíveis, não somos só o fruto da escravidão e da colonização. É preciso urgentemente escurecer sinônimos qualificativos a serem propagados. Não tem como naturalizar, romantizar a escravidão e ao mesmo tempo ensinar a população preta a se ver somente nessas condições.
*Ágatha Pauer é criadora de conteúdo, atriz e travaturga, estudante do @iffcampuscabofrio e ex-bolsista do projeto de arte e cultura. Atualmente é coordenadora do movimento de mulheres da RL e filiada ao @gruposiguais.