Quantas pessoas trans/travestis pretas você conhece? E quantas delas convivem com você?
Por Michelly Longo*
No dia 20 de novembro é comemorado o Dia da Consciência Negra, uma data especial para muitas de nós enquanto pessoas pretas. É justamente neste mês que inúmeras pessoas, empresas, procuram por nós para alavancar sua popularidade “dando uma de inclusivos e antirracistas”, sendo que na maioria dessas empresas nem tem tantas pessoas negras assim.
Este mês é para refletirmos, olharmos para o lado e enxergarmos a hipocrisia de pessoas que mal nos enxergam enquanto pessoas passarem a fazer discursos de inclusão, de bons moços, apenas pra não “ficarem mal na fita”.
Quantas pessoas trans/travestis pretas você conhece? E quantas delas convivem com você? Alguma travesti preta trabalha na sua empresa? Ou é sua colega de trabalho? Eu poderia passar horas escrevendo perguntas que eu já sei quais são as respostas, apenas pra tentar trazer vocês para a realidade, essa da qual vocês chamam de vitimismo/mimimi e que a todo momento nos exclui, nos limita. E quando chega o mês de novembro nos imitam.
Este mês é para refletirmos, olharmos para o lado e enxergarmos a hipocrisia de pessoas que mal nos enxergam enquanto pessoas passarem a fazer discursos de inclusão.
O mês da consciência negra (ou melhor, da paciência negra como vi uma influenciadora dizer e está certíssima) deveria realmente conscientizar pessoas de que devemos ter visibilidade o ano inteiro e não apenas em novembro, afinal de contas, nós não hibernamos durante o restante do ano e só aparecemos na comemoração, não é verdade?
Partindo do princípio que nos outros meses somos maltratados, invisibilizados e por muitas vezes mortos diariamente, não existe trans ou cis, apenas somos vistos pela cor da pele e nada mais. Mas ainda assim, pessoas cis pretas excluem pessoas trans, é a segregação pelo segregado, costumo dizer que é o racismo do racismo e assim vamos vivendo…
Não vamos nos esquecer de que pras pessoas cis hetero-normativas, brancas, repito, somos todos iguais, independente de gênero ou orientação sexual, e isso não mudará. Pode ser amenizado e para ser encerrado é necessário o ano inteiro de consciência negra pra nos unir e por fim nos incluir.
O Brasil aprofundou o racismo no índice de assassinatos em seu território, conforme dados do Atlas da Violência 2020. O levantamento mostra que a taxa de homicídios de negros cresceu 11,5%, de 2008 a 2018, enquanto a de não negros caiu 12%.
Mas ainda assim, pessoas cis pretas excluem pessoas trans, é a segregação pelo segregado, costumo dizer que é o racismo do racismo.
O conceito de negro é o mesmo adotado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que considera a soma de pretos e pardos. Os não negros, segundo o IBGE, são brancos, amarelos e indígenas.
*Michelly Longo é ativista trans negra, baiana, cozinheira de profissão, casada e cheia de boas experiências para compartilhar.