Política é problema seu! Participar da construção da sociedade é problema seu!
Eu amo ditados. “Não chore pelo leite derramado” e “se quisesse melhor que viesse ajudar a fazer” são dois dos meus preferidos – e fazem muito sentido no Brasil de hoje. Se há uma nuvem de lágrimas, e nem é a da Fafá cantando, a culpa também é de quem inventou os ditados: nós, que deixamos tudo para a última hora, adicionando um ditado que eu realmente não gosto, mas é verdadeiro.
Eu parto desse pressuposto porque considero totalmente dispensável a gente discutir aqui o papel das pessoas que ocupam cargos que direcionam nossas vidas. Executivo, Judiciário e Legislativo. A função deles está na Constituição, no mais importante documento de todo o Brasil. Então é chover no molhado (mais um ditado) dizer que eles precisam zelar pelo bem-estar da população e pela democracia.
Podemos pular para a parte onde somos sinceros com nós mesmos e admitimos que nós, em muito, deixamos que essas pessoas façam o que bem quiserem com nossas vidas. E como são humanas, essas pessoas estão fadadas ao erro, ao desencontro de opiniões e, infelizmente, às falhas de caráter – de onde nascem roubos, desvios e aquilo tudo que você bem sabe.
Mas a gente deixa tudo para a última hora porque não chega antes para ajudar a fazer. Como jornalista e assessor de imprensa, eu já participei de algumas construções – confesso que menos do que deveria, como a maioria de nós -, mas sempre senti falta de mais deste “nós” nestes lugares. Onde estão as pessoas que serão afetadas por essas decisões?
Como são humanas, essas pessoas estão fadadas ao erro, ao desencontro de opiniões e, infelizmente, às falhas de caráter – de onde nascem roubos, desvios e aquilo tudo que você bem sabe.
Exemplifico. A quantas audiências públicas de elaboração de orçamento municipal você já foi? Porque elas são, como diz o nome, públicas e esperam a sua participação. Você pode opinar, ser contra, ser a favor, propor diferente e levar as suas reivindicações e a lista de problemas da sua cidade para lá. Existe uma divulgação, infelizmente não ampla porque o interesse é nosso, não de quem divulga, toda vez que alguma prefeitura realiza uma delas.
Sabe aquele quebra-molas que falta na sua rua? Que inclusive já teve acidente nela por causa da falta dele? Você pode ir a uma audiência pública levar seu pedido. Porque isso é muito melhor do que esperar alguém ser atropelado para precisar chamar atenção da administração pública. Poupa-se a pessoa acidentada, o mais importante, e ganha-se tempo no trâmite para esse quebra-molas ser feito – porque ele já estava previsto.
As audiências são realizadas para definir os gastos do próximo ano, então é nelas que você faz uma forcinha para ter seu pedido atendido. Se for atendido, o quebra-molas é incluído no orçamento do próximo ano e todo o processo fica mais fácil, mesmo que a gente saiba que não é muito ágil, mas já adianta o expediente.
Acompanhante
Outra coisa é aquele projeto de lei ou medida provisória que você acha um absurdo existir e está quase sendo votado. Deixamos para a última hora e não ficamos sabendo que o PL ou a MP existiam. Erro nosso. Nos sites da Câmara dos Deputados, por exemplo, você pode seguir o caminho deles desde que são apresentados. E é muito mais produtivo você tentar barrar, se não concorda, antes de entrar para votação.
Contas públicas? Tribunal de Contas, amore. Nos sites dos tribunais de contas você consegue acessar a prestação de contas do seu município/Estado. Fica sabendo quais foram aprovadas e quais foram reprovadas. Fica sabendo se o seu dinheiro foi aplicado corretamente ou se deram algum truque com ele e, em vez daquele quebra-molas lá de cima, foi usado na reforma da casa de alguém – com piscina, sauna e quadra de tênis, por favor.
Votações? Todas transmitidas nos respectivos canais. Legislativo e Judiciário são os que mais transmitem. Aí você fala: mas é um saco, dura longas horas. Bom, te digo que divertido é ver filme do Adam Sandler comendo chocolate. O resto é a vida. Aceita que dói menos, outro ditado.
Votou e agora quer saber o que anda fazendo a pessoa eleita? Você lembra em quem votou? De novo, sites! Acesse o respectivo site (Câmara, Senado Federal…) e pesquise o perfil de quem você elegeu. Dá para acessar inclusive as íntegras dos projetos em tramitação e, em sites mais bem feitos, se cadastrar para acompanhar o processo todo.
Nos sites da Câmara dos Deputados, por exemplo, você pode seguir o caminho deles desde que são apresentados. E é muito mais produtivo você tentar barrar, se não concorda, antes de entrar para votação.
Estes são apenas alguns exemplos de como a gente pode, e deve, exercer nosso papel de cidadão, cidadã. São provas de que temos poder de mudar os rumos das coisas quando queremos. Precisa ler sim as muitas páginas do projeto de lei. Não entendeu? Pergunte ao amiguinho, aos universitários, consulte as cartas, dê um Google, joga os búzios. Mas inteire-se, interesse-se.
Todo o poder emana do povo. Mas se o povo não exerce esse “todo poder” ele fica preguiçoso, permissivo, anuente e pronto para levar uma porrada atrás da outra. Chegue antes para fazer em vez de reclamar depois. Não deixe para a última hora.
Por que leite derramado a gente sabe bem que não é para fazer chorar.