Veida ergue a cabeça para enfrentar piadas e comentários em sua cidade no interior de Minas Gerais
Não é fácil ser gay. Não é fácil ser drag. Fica ainda mais difícil quando a arte quer se manifestar em alguém que vive em uma cidade não disposta a aceitar esta arte. Mas há resistência. É o que faz a poderosa Veida na cidade de União de Minas, interior mineiro.
Ela ganha vida pelas mãos do cabeleireiro de 31 anos Aysslam, ariano bem-humorado que diz na sua cidade não existir união alguma desta que está no nome. É difícil tentar ser você mesmo quando ninguém quer que você seja – é preciso força, coragem e muita autoestima para seguir adiante.
E Veida segue. Belíssima, montadíssima e acreditando em si mesma contra piadas e comentários que surgem quando passa. Aysslam aprendeu e agora espalha a lição: “tenha foco em você, em sua drag, foque nos seus instintos e no quão bem isso te faz, sonhe e acredite. Queira sempre evoluir, ser melhor”.
Ele conta tudo no relato abaixo:
“Moro em uma pequena cidade do interior de Minas Gerais que se chama União de Minas, que de união não tem nada (risos). Ser gay aqui é meio complicado porque é uma cidade pequena e a cabeças das pessoas também. Eles vivem em uma realidade muito diferente.
Eu sempre tive um impulso muito forte com coisas de drag, mas confesso que demorei muitos anos para entender o que era realmente e o que significava. Eu comecei a entender e expandir a minha mente depois que conheci RuPaul’s Drag Race, onde me apaixonei e me identifiquei com a cultura. E pensei: tá aí, é isso que eu sou é isso que eu quero ser.
Eu sempre tive um impulso muito forte com coisas de drag, mas confesso que demorei muitos anos para entender o que era realmente e o que significava.
Foi difícil porque eu comecei meio tarde, acho que estou meio fora do tempo, não tenho pessoas comigo que também fazem drag ou possam me influenciar, somente a internet, e a sociedade onde eu moro é bem mente fechada. Eles tiram sarro, fazem piadinha, risada, deboche essas coisas de cidade pequena.
O que eu posso dizer para outras pessoas que estão no mesmo caminho ou começando agora é que não deem ouvidos às outras pessoas, que não deem ouvidos a família que não entende e não aceita e critica, que não deem ouvidos a voz que fica dentro da cabeça dizendo que isso é ridículo, que não vão chegar a lugar algum. Ignorem isso tudo.
Tenha foco em você, em sua drag, foque nos seus instintos e no quão bem isso te faz, sonhe e acredite. Queira sempre evoluir, ser melhor. Não pelos outros, mas por você, seja melhor drag de todas mesmo que os outros não acreditem em você e mesmo que você em alguns momentos duvide disso.
Para mim maquiagem ainda é uma barreira, pois eu tenho dificuldades, sou cabeleireiro e sou melhor em cabelos, não tenho curso profissional de make-up, mas pretendo sim me aprimorar cada vez mais nessa área.
Minhas maiores referências são drag queens brasileiras e também estrangeiras, acompanho bastante também nikkie tutorials, adoro os vídeos e dicas dela, na verdade a internet sempre é um aprendizado.
Seja melhor drag de todas mesmo que os outros não acreditem em você e mesmo que você em alguns momentos duvide disso.
Essa quarentena tem sido muito dura, tenho trabalhado, ando vendo muita série, filmes, pequenas reuniões com os amigos em casa mesmo.
Eu pretendo ir embora daqui dessa cidade, pretendo correr atrás dos meus objetivos, dos meus sonhos, conhecer pessoas novas e novas experiências, conquistar o que sempre almejei.
Meu maior sonho é sem dúvida nenhuma viver da arte de performar, ser reconhecido, ser um exemplo positivo para outras pessoas que passam por problemas de autoestima e aceitação. Trabalhar e ajudar a minha mãe, fazer com que ela possa sentir orgulho de quem eu sou, apesar dos pesares. E quem sabe entrar no reality show RuPaul’s Drag Race.”
Instagram @aysslamphedro