Regina Schazzitt completa 12 anos de carreira quebrando estereótipos e expandindo a arte drag
“Erre muito, se permita errar. Não queira acertar tudo, não temos essa obrigação. O erro vai fazer você ter um lugar de cautela, te faz refletir. O erro é essencial para qualquer artista no seu desenvolvimento. E tenha a sua personalidade, você pode se inspirar nas outras, mas tenha a sua identidade!”
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A valiosa lição acima é da drag queen Regina Schazzitt, de São Paulo. Ela comemora no próximo sábado, na Audio Club, na capital paulista, seus 12 anos de carreira como uma artista que quebra paradigmas, desconstrói padrões e ensina sobre amor-próprio, aceitação e felicidade.
Dona do hit “Bunda Gorda”, ela quer que os corpos sejam libertos de uma opressão estética construída ao longo do tempo e que oprime quem não se encaixa nos padrões de publicidade e propaganda. Essa canceriana com ascendente em Gêmeos conta tudo na entrevista a seguir:
O que o público pode esperar do show de sábado? Já sei que tem representatividade de sobra!
Muita alegria! E algo inovador, porque vou fazer na abertura algo que eu nunca fiz. Pode esperar um balé incrível, com figurinos incríveis, convidados incríveis. Tem duas convidadas: Ashlley Vittar, que é a mãe drag da Pabllo, e La Tinna, uma drag musicista. Então teremos novidade, representatividade, vai ser o pacote completo. A gente vai dar close, mas ao mesmo tempo vai militar e se empoderar. Podem esperar uma drag que está vindo com muito amor, muita energia!
Qual a principal lição que você tira destes 12 anos de carreira?
Acho que a principal é o se permitir. Ser drag é um ato de resistência, de empoderamento e de autoconhecimento. Para eu poder entender o que a minha drag necessita, para onde ela quer se expandir, eu preciso me conhecer enquanto artista. Porque a drag vai ser um alterego meu. A maior lição que eu tive foi o autoconhecimento e me permitir me conhecer e vivenciar a drag, no palco, nas redes sociais.
O que você pode dizer para quem está começando? Quais erros podem ser evitados?
Tem que ter muita vontade. Porque é uma carreira cara, difícil de se manter, porque hoje em dia o público LGBTQIA+ é muito criterioso. Você tem que investir pesado na sua montação, tem todo esse lance. O que eu falo é: se prepare para a dor, porque não é fácil, você vai desconstruir seu corpo para dar vida à drag. Tem muita coisa que aperta, muita coisa que esconde, salto-alto. São coisas difíceis, tem que se preparar para isso. Quanto aos erros, nenhum deve ser evitado, erre bastante. Eu sou uma pessoa que cultiva muito o erro, ele é primordial no desenvolvimento de qualquer artista. Erre muito, se permita errar. Não queira acertar tudo, não temos essa obrigação. O erro vai fazer você ter um lugar de cautela, te faz refletir. O erro é essencial para qualquer artista no seu desenvolvimento. E tenha a sua personalidade, você pode se inspirar nas outras, mas tenha a sua identidade!
O erro vai fazer você ter um lugar de cautela, te faz refletir. O erro é essencial para qualquer artista no seu desenvolvimento.
Quais são suas principais referências atualmente?
Eu vou fazer um show em homenagem à Pabllo Vittar, então para mim ela é uma referência. Porque a Pabllo tem um corpo, um sex appeal, e para mim foi muito audacioso, muito questionador e revelador sobre a minha personalidade, sobre mim. Minha pretensão não é fazer um show cover da Pabllo, é a inspiração nela. Ela me ensinou a olhar para o meu corpo e falar: “Você é bandida, você é piranha, você é gostosa, você é tudo!”. Minha principal referência é essa. É eu olhar para o meu corpo e me sentir sexy, ele pode dançar, ele pode ir para lugares como a Pabllo também vai. Outra referência é a versatilidade. E quando falo isso é sobre minha madrinha linda Nany People, que admiro. Ela é uma artista que começou nas boates, depois televisão, teatro. Eu falo para ela que essa versatilidade é muito importante, eu aprendo muito.
Você vê evolução na arte drag nestes 12 anos? O que mudou?
Sim, vejo muita evolução. Principalmente porque antigamente tinha um jeito de fazer drag, as maquiagens os figurinos, tinha um pensamento sobre o que era ser drag. Quando a Pabllo entra em cena, ela diminui tudo, a maquiagem fica menor, o cabelo desce um pouco, o figurino já não é mais tão colorido. Eu percebo que essa mudança foi muito positiva porque a gente não pode formatar a arte, dizer que ser drag é isso e ponto. Não. Eu vejo drags carecas, barbudas, peludas, acho isso incrível. Eu vejo como as pessoas estão se jogando. Quando eu comecei a trabalhar, uma drag de barba era inadmissível. Hoje as pessoas estão fazendo com que seja uma arte para todes. Isso é incrível!
Qual seu maior desejo para este ano?
Crescer como drag queen. Fazer grandes trabalhos. Conseguir crescer minhas mídias sociais, porque hoje em dia a popularidade é muito baseada em quantos seguidores você tem. Então gostaria de expandir meu trabalho, que as pessoas pudessem dar espaço para uma mana gorda, empoderada, para fazer seu trabalho. Me dar essa visibilidade para que eu possa crescer. Seria um sonho muito grande fazer um trabalho incrível como drag ou como ator para a TV e para o Cinema.