Uma força múltipla da natureza chamada Alexia Twister
Todas as pessoas são forças da natureza, mas Alexia Twister é um fenômeno de magnitude capaz de arrancar elogios de quem o inspirou. O tornado de Alexia une ator, atriz, drag, professora, acadêmica de Artes e Educação e dançarina em uma artista dinâmica, inquieta, por onde ninguém passa incólume como os ventos espirais que a batizam.
O nome de tornado veio de um amigo DJ, o responsável por inscrever Alexia em seu primeiro concurso, em 2005, em São José dos Campos. O que era em parte brincadeira se tornou o pontapé inicial de um caminhar natural até o mainstream drag brasileiro, a Blue Space, em São Paulo, e uma consequente explosão de visibilidade.
Nascida em Taubaté, ela desde cedo sabia que seu destino seria bem diferente da bucólica boneca Emília de seu conterrâneo Monteiro Lobato. A peruca seria muito mais volumosa, a maquiagem muito mais luxuosa e a roupa infinitamente mais glamourosa. “Quando eu era pequena eu assistia pela televisão o Show de Calouros, do Silvio Santos, e eu via muitas artistas maravilhosas. Eu gostava daquilo, não entendia o porquê, mas eu já gostava.”
Os talentos artísticos se mostraram desde cedo, aos oito anos, quando a sensível mãe de Alexia percebeu a aptidão e deu asas a esse voo. “Minha mãe, vendo que eu tinha jeito pra coisa, me colocou pra dançar, fazer aulas de jazz, balé, de teatro. Comecei com 12 anos e nunca mais parei.” Ainda bem.
Alexia já rodou o Brasil apresentando o resultado do incentivo materno. Sobe ao palco preparada por um passado onde conseguiu desenvolver seus dons e hoje alcança qualidade indiscutível em seu trabalho. São shows onde ela, apesar do nome, não bate cabelo. “Só fui bater cabelo depois em São Paulo pra ganhar dinheiro.” Utiliza-se de outras muitas artimanhas artísticas para encantar e deixar o público boquiaberto.
Um talento reconhecido dentro e fora da noite gay e do meio artístico, já foi visto por quem está no olimpo pop: ninguém menos do que Madonna e Lady Gaga elogiando as performances inspirada nelas. Canceriana, não se deixou encantar com o momento e manteve o ritmo, mas principalmente a humildade.
Quando eu era pequena eu assistia pela televisão o Show de Calouros, do Silvio Santos, e eu via muitas artistas maravilhosas. Eu gostava daquilo, não entendia o porquê, mas eu já gostava.
Com a mesma energia e dedicação continua suando o corpitcho nos ensaios na Blue Space e atende pedidos de amigas como Miss Biá para se apresentar no Largo do Arouche, no Carolina’s Bar, mantendo viva uma já tradicional maneira de fazer arte drag. “Sempre divido o meio drag em dois polos: existe o meio Centro-Arouche, com uma pegada diferente, com artistas mais tradicionais. E tem o meio Augusta, com drags mais inspiradas nas americanas.”
Futuramentchy
Alexia é atenta e acompanha as mudanças, diz saber que agora há um destaque para essas novas drags, que trazem consigo sempre uma arte a mais em seu cardápio. No caso dela, são várias artes unidas em uma artista livre para transitar entre masculino e feminino, atua como homem, atua como mulher, arrasa em ambos os casos. Atualmente tem trabalhado mais no teatro como Alexia, com três peças em cartaz.
Um transitar tranquilo e liberto entre gêneros que tem feito com que ela não se amarre tanto a conceitos. “Para cada drag existe uma experiência. No meu caso, eu costumo afirmar que (a Alexia) é um alter ego, mas também um traço da minha personalidade, eles coexistem. Isso me trouxe alguns questionamentos. Por exemplo, não sei se posso me considerar totalmente cis, há 23 anos como drag acho que hoje em dia sou muito mais fluida do que propriamente uma coisa só.”
Uma fluidez atualmente solteira porque, como deu para perceber, Alexia entra de cabeça em seus trabalhos. “Estou fazendo faculdade de Teatro com licenciamento em Arte Educação, dou aula, faço show, enceno peça. Que horas eu vou namorar? Mas não podemos ser fechados. Se um dia rolar, rolou.”
Não sei se posso me considerar totalmente cis, há 23 anos como drag acho que hoje em dia sou muito mais fluida.
Claramentchy
Ligada ao momento complicado para os direitos humanos pelo qual o Brasil passa, Alexia reconhece que ser drag é uma forma de resistir, um ato politico visível que levanta questionamentos e grita por direitos iguais frente ao conservadorismo que avança.
Lamenta e critica os fatos tristes diários sobre o cerco a liberdades individuais, mas não se abate e tira uma lição valiosa de tudo isso. “O lado menos negativo é que a gente entendeu que não vivemos em um país completamente livre de preconceito. Muitas máscaras caíram e as pessoas se revelaram.”
Acompanhe toda a agitada agenda dela pelo Instagram @AlexiaTwister