Um diálogo sobre o corpo gordo e a autoaceitação

Por Ágatha Pauer*

Durante o início da pandemia, diversos assuntos polêmicos sobre a saúde mental e física surgiram nas redes sociais. Todas elas apontavam em sua grande maioria para o corpo gordo: desde a cena do “Porta dos Fundos” em que havia uma sátira ao corpo gordo fazer “gordice”, até a problemática do jejum de sete dias, na qual a blogueira Mayra Cardi aparece fazendo o “antes e depois” do seu corpo.

Todo esse cenário automaticamente cria um imaginário que tende a explicar o motivo de as pessoas serem gordas. O que é errôneo, porque não existe justificativa para ser um corpo gordo, assim como não existe justificativa para ser um corpo magro.

A partir do momento que se compreende isso, também se entende que um corpo só precisa se justificar quando ele se distancia da normalidade imposta a sua corporeidade.

Não existe justificativa para ser um corpo gordo, assim como não existe justificativa para ser um corpo magro.

Pessoas gordas durante anos foram caracterizadas e colocadas numa condição de doentes mentais, porcas, “carnudas” e incapazes de locomoção e flexibilidade. Afinal de contas, é só você se perguntar: quem são as rasputias (foto de destaque), valentinas e tinos da nossa sociedade?

Portanto, eu pondero a necessidade da sociedade “fita métrica” ditar a um corpo a sua condição e ensiná-lo não só a se ver, como também a se entender.

Ter compreensão disso, é traçar um debate em que a opressão também faz morada na subjetividade a partir do momento em que acontecem punições severas de comidas e impõem uma necessidade de emagrecimento forçado de intensos exercícios físicos.

Ágatha: Pessoas gordas durante anos foram caracterizadas e colocadas numa condição de doentes mentais

Porém, com o avanço e empoderamento dos corpos gordos, a “fita métrica” precisou deixar de metrificar corporiedades para medir a sua dose de autoaceitação.

Isto quer dizer que o discurso de aceitação realizado por pessoas que cometem essa opressão são feitos para destinar esses indivíduos não só a deixarem de reconhecer a sua condição como também para se beneficiarem economicamente de uma pauta tão importante para essas corporeidades.

Ágatha Pauer é criadora de conteúdo, atriz e travaturga, estudante do @iffcampuscabofrio e ex-bolsista do projeto de arte e cultura. Atualmente é coordenadora do movimento de mulheres da RL e filiada ao @gruposiguais.