Maranhense Cláudio Rodrigues lança livro exaltando as bichas, as viadas, as femynynyahs

Em seu novo livro, “Flor do aguapé – contos bixa” (Sexo da Palavra), o maranhense Cláudio Rodrigues despeja grande dose de irreverência ao passar por 19 contos entregando uma narrativa dividida em duas fases sobre o ser “bixa”: as crianças, categorizadas pelo autor como aflitas; e os adultos, que se encontram sem rumo.

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As memórias das personagens poderiam compor uma memória coletiva, há um ponto de interseção gay, um emaranhado de vivências comuns. Sejam estes de onde forem, os contos de “Flor do aguapé” podem ser compreendidos também como um pequeno romance, pois que há um fio condutor entre as narrativas.

Além das dores descritas nesses dois momentos da vida dos personagens, o leitor também se depara com o triunfo dessas “bixas”, esbarrando na ideia, também coletiva, de “viado”, que, depois de tanto apanharem, renascem como a fênix. Ou ainda, como o próprio título, estes personagens são as flores que nascem do brejo, lindas e imponentes, contrapondo-se ao ambiente hostil.

Cláudio Rodrigues é maranhense de Lago da Pedra, terra das palmeiras onde canta o sabiá e dança o bumba meu boi. Tem mestrado e doutorado em Teorias da Literatura (UFF e UFRJ), é professor adjunto de literatura brasileira na Universidade Federal do Ceará, onde coordena o Grupo de Estudos da Língua de Eros e pesquisa o erotismo na representação dos sujeitos dissidentes.

Confira um trecho do prólogo de “Flor do aguapé”:

Pra início de conversa, ou melhor, pra quem ainda não sabe, acho bom dizer que bicha é uma palavra babadeira, coletivíssima, um bonde chamado desejo, cheio de gente das mais variadas formas, expressões e modos de ser.

As bichas, meu bem, nunca aceitariam o singular, porque mesmo uma pode se multiplicar em 2, 4, 8, 16, 32, 64… Uma progressão geométrica de bichas.

Desde que o mundo é mundo, tem bicha por aí. Mas é incrível como em pleno século XXI ainda há quem não entenda porra nenhuma do ser-bicha. A bicha é sempre um devir. Devir-bicha.

Sim, porque bicha é uma entidade. Ela incorpora, baixa, toma conta de um corpo e sai por aí, transgredindo. Às vezes é quase um ciborgue, ou uma caixa de pastilhas de aquarela. Tem bicha de todas as cores. Só não tem bicha cinza! De cinza já basta a vida escrota em que nos meteram.

Então, pra não virem com história que a gente não sabe ser refinada e cult (meu cu!), vou me utilizar da Aurélia, a dicionária da língua afiada. Sim senhoras, existe uma dicionária da língua das bichas, monamour, e comprovo isso usando um expediente refinadérrimo, a nota de rodapé, que nada mais é do que jogar pra debaixo do tapete, digo, da página, certas coisas pros curiosos verem depois. Tá achando que a gente é bagaceira? Somos finíssimas, as deusas da porra toda, que digam Linn da Quebrada, Pablo Vittar, Glória Groove, Amara Moira, Waldo Motta, Glauco Mattoso, João Silvério Trevisan, Luiz Mott, Marcelino Freire, Laerte [diva das divas] e tantas outras que fizeram e fazem carreira. Mas eu queria mesmo era um dia erigir um panteão a todas as que já se foram. Tiraria aquele monumento aos bandeirantes, por exemplo, e colocaria no lugar um monumento às bixas brasílicas revolucionárias, começando por Xica Manicongo até chegar em Dandara dos Santos, a borboleta perpétua.

Sim, porque bicha é uma entidade. Ela incorpora, baixa, toma conta de um corpo e sai por aí, transgredindo.

Quanto a Aurélia, favor não confundir com a do romance do senhor Alencar; a senhora aqui é outra. Aurélia é, sim, nome da dicionária das bichas, e é também um verbete com quatro acepções, que passo a citar, porque sou dessas com furor acadêmico: “1. Bicha metida a conhecedora profunda do bajubá, jurando que sabe tudo; 2. Bicha filóloga, lexicóloga, eloquente, googleóloga, control-efóloga, eustômica, disléxica, prolixa e extremamente divertida; 3. Bicha rica, dona da ilha, que não tem medo de comprar os maridos, uns seixas; 4. Meu eu”.

Será que eu me encaixo em uma dessas Aurélias? Ai ai.

O livro pode ser adquirido por R$ 36 + frete + taxa PayPal.

osexodapalavra.com/flordoaguape