A relação entre déficit de atenção, hiperatividade e saúde sexual
Por João Geraldo Netto*
Muito provavelmente, você já ouviu alguém dizer que um conhecido é hiperativo, excessivamente agitado, distraído demais, que precisa tomar Ritalina etc. Mas você já procurou saber o que isso realmente significa? E você sabia que essa “agitação” pode interferir na vida sexual de uma pessoa?
A hiperatividade faz parte de uma disfunção conhecida como Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e é caracterizada por um excesso de atividade mental que pode, ou não, refletir em excessiva distração e/ou movimentos corporais. O diagnóstico e controle desse transtorno faz parte do rol de cuidados com a saúde mental.
Apenas profissionais qualificados podem identificar os principais sinais e sintomas, diagnosticar e, então, avaliar possibilidades de controle dos efeitos que mais incomodarem.
Existem pessoas com TDAH que aprendem a lidar com os efeitos sem nenhum tratamento, outras precisam de terapia, outras de remédios controlados e outras de tudo isso junto. Cada pessoa possui características, comportamentos e questões individuais que devem ser considerados para a definição do melhor tratamento.
Apenas profissionais qualificados podem identificar os principais sinais e sintomas, diagnosticar e, então, avaliar possibilidades de controle dos efeitos que mais incomodarem.
Tanto homens quanto mulheres podem apresentar sintomas como distração, dificuldade de concentração, de executar atividades corriqueiras e repetitivas, impulsividade, TOC (transtorno obsessivo compulsivo), falta de paciência, compulsão, vícios, agitação física, problemas para dormir etc. Porém, alguns deles são mais frequentes em um sexo ou outro. Também é comum haver comorbidades como ansiedade e depressão.
E tudo isso acontece porque pessoas com TDAH não têm um filtro cerebral que seleciona os pensamentos e mantém foco em determinada atividade. Para esses indivíduos, é muito comum passar horas em frente ao celular visitando inúmeros aplicativos e páginas e pesquisando temas que vão de “bicicleta 21 marchas valor”, “o fim do mundo é real”, “a cobra bebe água” a “preço de passagem para Israel” e, horas depois, não ter conseguido terminar de ler nenhuma das respostas às suas perguntas.
E isso não é engraçado.
Pessoas com esse transtorno têm dificuldades reais em suas vidas e os problemas podem ser maiores se não forem diagnosticadas na infância, quando os deveres costumam vir em menor quantidade.
Mas o que tudo isso tem a ver com saúde sexual? Pessoas com TDAH têm tendência a iniciar sua vida sexual mais precocemente e, ao mesmo tempo, pode haver um risco muito maior de contrair infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) e engravidar sem planejamento. Estudos afirmam que o número de parcerias sexuais também é maior nessas pessoas.
Além disso, elas podem deixar de fazer sexo porque não conseguem manter a concentração na transa, sendo necessário um grande esforço ou medicamentos para manter a ereção ou a lubrificação vaginal. A compulsão sexual e a impulsividade podem colocá-las em risco maior ao fazerem sexo sem considerar um método de prevenção.
Cada pessoa possui características, comportamentos e questões individuais que devem ser considerados para a definição do melhor tratamento.
Identificar o sinal é essencial para que o portador do transtorno possa tomar consciência do porquê que algumas situações ocorrem e possa optar por um método de prevenção, como a profilaxia pré-exposição contra o HIV (PrEP), por exemplo. Este comprimido vai proteger a pessoa de uma infecção pelo HIV em uma transa sem camisinha.
Outro problema recorrente em quem faz tratamento do TDAH é que alguns medicamentos podem interferir no desejo sexual e, por isso, é tão importante conversar com a equipe de saúde que o acompanha sobre qualquer incômodo ou alteração indesejada durante o uso dos medicamentos. Existem diversas opções de fármacos e sempre existe um que pode funcionar melhor. Não se deve parar o tratamento sem orientação médica.
Se você conseguiu se identificar com alguns dos sintomas acima, procure um psiquiatra, neurologista ou psicólogo. Estes profissionais poderão lhe orientar para um tratamento adequado e impedir que os sintomas lhe incomodem ou lhe coloquem em um risco maior. Cuidar da saúde mental é importante, cuidar da nossa saúde sexual, também.
*João Geraldo Netto é comunicador, estrategista de marketing digital, gestor da informação, especialista em sexualidade e ativista LGBTQI e HIV.