Taís Paixão virou o jogo contra o preconceito e a tristeza e hoje é coreógrafa requisitada no interior da Bahia
Está certíssimo o ditado que anuncia: quem dança seus males espanta. No caso da coreógrafa baiana Taís Paixão, de 20 anos, a paixão pela dança fez com que ela superasse uma tristeza profunda, se erguesse e ainda por cima se tornasse a responsável pelas coreografias de várias iniciativas de sua cidade, Ribeira do Pombal (BA).
Os males foram para longe, um amor chegou na vida dela trazendo mais luz e a carreira como coreógrafa só cresce a cada dia, com mais e mais convites. Preconceito ela enfrenta em uma cidade ainda não tão tolerante, mas enfrenta de cabeça erguida, trabalhando, produzindo e estudando para entrar na faculdade.
É do interior baiano que vem hoje um exemplo de superação, uma lição para quando a vida aperta, bate, sufoca. A tristeza de Taís foi embora quando ela percebeu em si a força que tinha para ir adiante. E com tanta coragem e determinação vai longe, dançando contra o preconceito e as más vibrações.
Ela divide um pouco de sua história com a Ezatamag:
Eu sou do signo de sagitário, bem aventureira sim! Tenho 20 anos, e a realidade aqui na minha cidade, Ribeira do Pombal, apesar de ser uma cidade que possui uma grande quantidade de pessoas LGBTQIA+, ainda é aquela típica cidade que sempre tem discriminação contra os mesmos. Não acontece frequentemente, mas sempre vai haver alguém com pensamentos incompatíveis, principalmente pessoas de igreja evangélica que geralmente não aceitam, alguns não respeitam, mas a grande maioria sim.
Deveria também ter mais representatividade, aqui apesar de ter muitos da comunidade, o movimento não é muito forte, e a grande maioria se torna “chaveirinho de hétero” e isso é inaceitável.
Alguns cidadãos de locais mais afastados que não têm convívio também, quando vêm à cidade e se deparam com uma mulher trans, uma travesti, um gay afeminado, já encaram não de um jeito agradável e acho que para mudar, as autoridades deveriam tocar mais nesse assunto.
Deveria também ter mais representatividade, aqui apesar de ter muitos da comunidade, o movimento não é muito forte, e a grande maioria se torna “chaveirinho de hétero” e isso é inaceitável, pois passam uma imagem de que devemos sempre obedecer e não devemos nos adentrar no meio social dessa forma. Queremos respeito. Não são obrigados a nos aceitar, mas respeitem.
Sobre descobrir uma Taís que morava dentro de mim, agora fora, desde sempre eu me via já na pele “dela”. Eu nunca gostei de roupas masculinas, não gostava do meu nome, não gostava do jeito que me tratavam, não me via ali, não era eu. Eu queria usar o que as meninas usavam.
Desde criança eu gostava, nunca deram importância para isso, pois achavam que era apenas coisa de criança, mas era a Taís querendo sair. Eu ia para a casa das minhas amigas para usar as roupas delas, brincar com as bonecas e era muito bom.
Eu me via naquele mundo, aí cresci e não passou e tive a certeza de que eu sou Taís. Comecei o tratamento hormonal aos 17 anos e continuo até hoje, enfrentei dificuldades no começo com minha mãe, mas logo ela aceitou e me apoiou.
Agora vamos falar como eu e a dança nós encontramos, na verdade ela que me encontrou e me salvou de pensamentos suicidas. Antes mesmo da minha transição, eu via vários grupos de dança na cidade e fora também, sempre gostei de ver as pessoas se entregando a isso, até que um dia eu resolvi colocar uma música e comecei a dançar e vi que ali eu poderia crescer.
Infelizmente artistas trans precisam provar que são capazes, não deveria ser assim, porque todos somos iguais, viemos do mesmo lugar, a identidade de gênero de alguém não influencia em nada.
Chamei meu melhor amigo para montar um grupo, chamado Ritmo Dance, montamos, depois eu saí várias vezes do grupo por conta da minha tristeza profunda, me sentia incapaz, eles me motivavam e eu sempre voltava e estou até hoje e pretendo nunca mais sair. Antes da pandemia estávamos nos apresentando bastante, depois começou o isolamento e cancelou tudo, quando isso passar voltaremos a todo vapor.
Sou coreógrafa também por conta desse grupo, comecei apenas como dançarina, depois passei a ser uma das coreógrafas oficiais do grupo, não só do grupo como de outros projetos, tanto privado quando de instituições municipais e também de uma quadrilha que seria meu primeiro ano como rainha Junina, infelizmente o covid-19 resolveu adiar esse meu sonho, sim sempre foi meu sonho ser destaque numa quadrilha junina.
Eu amo, isso me faz flutuar, a paixão pela festa junina sempre existiu, sempre amei o clima junino, as músicas, as comidas a decoração, ver as quadrilhas brilhando. Daí a vontade de ser destaque de uma junina e também participar das coreografias, ver todo mundo dançando no ritmo da sua coreografia é indescritível, sensacional.
Mais sensacional ainda é você poder se inspirar, me inspiro em coreógrafos do próprio meio junino e quando o projeto não é junino busco sempre me inspirar em mim mesma, nas minhas experiências, e também busco e pesquiso trabalhos semelhantes.
Infelizmente artistas trans precisam provar que são capazes, não deveria ser assim, porque todos somos iguais, viemos do mesmo lugar, a identidade de gênero de alguém não influencia em nada. E para quem tá começando agora e enfrenta dificuldade eu só falo e repito: NUNCA DESISTA, pois sem persistência e sem luta não há vitória.
Somos forte e venceremos no final, vai haver alguém que te desmotive, vai haver alguém que te induza a desistir, mas não desistam, NUNCA!
Eu saí várias vezes do grupo por conta da minha tristeza profunda, me sentia incapaz, eles me motivavam e eu sempre voltava e estou até hoje e pretendo nunca mais sair.
Nessa quarentena para ficar com minha cabeça boa eu fico treinando algumas técnicas para quando isso tudo passar eu voltar nos trinks (risos). Também tenho um namorado maravilhoso que me ajuda e me faz esquecer meus problemas, tenho minha família e sempre arrumo algo para fazer, algo que não traga risco pra mim nem a ninguém.
Leio, estudo nesse tempo também pois pretendo adentrar uma faculdade e meu maior sonho é me formar e ter minha casa própria, construir minha vida, ajudar pessoas e ver todo mundo bem ao meu redor.
Instagram @taispaixxao