Por Hélio Filho

Tem havido uma verdadeira migração em massa dos homens-biscoito para o Twitter com o fim dos números de curtidas do Instagram. Pessoas que encontraram no passarinho aquele conforto numérico perdido que tanto lhes faz bem. É incrivelmente visível a quantidade de perfis criados de julho para cá.

Gente que adora se exibir e ser elogiada (quem não gosta?) e que agora conta com a função retweet para espalhar para o mundo a foto que achou ótima, ganhando mais elogios, mais likes, massageando deliciosamente o ego. E tudo bem, ninguém tem nada a ver com isso. No Jornalismo a gente tenta evitar repetição no texto, mas acho que aqui vale: tudo bem, ninguém tem nada a ver com isso.

Salvo em casos de confronto com a lei (uma discussão totalmente diferente), qual seria o problema de alguém tirar uma foto, se achar bonito e expor no Twitter para seus seguidores (tomara que não apenas eles, torcem os biscoiteiros) curtirem, acompanhar a evolução dos atributos físicos e arrecadar seu biscoito diário? NENHUM.

O Homem-Biscoito não quer guerra com ninguém, não te obriga a elogiá-lo, não te impõe a imagem dele. Se você viu, algum amigo curtiu ou retweetou – ou você, o que não dá mesmo para entender, segue a pessoa somente para criticá-la.

No Jornalismo a gente tenta evitar repetição no texto, mas acho que aqui vale: tudo bem, ninguém tem nada a ver com isso.

Acho importante falar sobre isso, sobre esse “viva e deixe viver” (no vulgo, não enche), porque todos os dias acompanho casos onde a polêmica se formou mesmo onde não havia espaço para ela. Encontraram pelo em ovo, como diriam os mais velhos.

Eu me sinto imparcial para abordar o assunto (deixa eu explicar para a guerrilha odiosa) e defender esses meninos porque não sou um deles, minhas redes são cheias de fotos de flores e das minhas duas gatas. Fico pensando que deve ser um saco ver isso se você não gosta de gato nem de flor, mas só vê quem quer.

Mas que bom que eu tenho a liberdade de fazer isso – consolidando uma via de mão dupla asfaltada com empatia e balizada pelo bom humor para todo mundo transitar sem congestionamento ou acidentes.

O clássico alvo da guerrilha odiosa são os meninos bem-humorados que, para seus seguidores, admiradores, amigos, perguntam se alguém “diria não para esse bebê?” (variando também para príncipe e segue sem fim – a criatividade é infinda). Obviamente uma enxurrada de SIM toma conta dos comentários, com gente mais animada e desinibida já chegando junto e fazendo proposta (adoro quem sabe o que quer e não perde tempo).

O Homem-Biscoito não quer guerra com ninguém, não te obriga a elogiá-lo, não te impõe a imagem dele.

Porém, inexplicavelmente, também uma enxurrada de críticas e negativas movimenta o perfil. Pessoas que querem ser como são, mas não permitem isso ao próximo ou ao menos não respeitam que ele não seja como elas, gastam seu precioso tempo para dizer não ou, pior, iniciar uma guerra de comentários que faz qualquer umbral parecer o Paraíso.

Quem é atacado com ódio responde com ódio. Responde a humilhação humilhando. Devolve a crítica de forma ainda mais cega e visceral. Do que era para ser fofinho brota um monstro virtual que arrasta correntes de recalque e lança mísseis de frases munidas de preconceitos raciais, sociais, de origem e de gênero.

A corrente de elogios do Homem-Biscoito se torna a roda do inferno e arrasta uma multidão atraída por um biscoito que se tornou azedo demais para paladares simpáticos. O simples fim da doçura humana.

Deixem os homens-biscoito em paz.