“Miguel’s War” narra como é crescer como um homem gay em um ambiente profundamente homofóbico

Por Eduardo de Assumpção*

Ganhador do Teddy, de Melhor Documentário, ‘Miguel’s War’ é sobre a vida do carismático Miguel Jelelaty, que cresceu gay em uma família cristã conservadora no Líbano durante a década de 1970. Ele achava difícil aceitar sua sexualidade e a falta de compreensão de sua família. Em 1982, em uma tentativa de provar sua masculinidade, ele se juntou à milícia cristã de direita do Exército Libanês e lutou na guerra civil.

Leia também:

“Swallowed” é um filme satírico e desconfortável sobre as coisas que ficam dentro de nós

“Conte-me Sobre Você” dialoga com uma geração de influencers e tik tokers que mantém o celular sempre à mão

TOP 100 melhores filmes LGBT+ de todos os tempos – TOP 10

Depois de um tempo, assustado e desiludido, ele abandonou o exército e, com a ajuda de sua mãe síria, fugiu para a Espanha para construir uma nova vida como gay assumido. A chegada de Miguel a Madri em meados da década de 1980 coincidiu com um período pós-franquista muito hedonista da história espanhola. Ele compara sua nova vida naquela época a viver em um filme de Pedro Almodóvar. Miguel admite ter feito sexo com mais de 2000 homens.

Miguel é caloroso, divertido, envolvente, sincero, às vezes irreverente. Totalmente identificável. Suas lembranças costumam ser bem-humoradas, como seu desejo adolescente por Lee Majors, o Homem Biônico, e também tristes, como quando ele costumava levar uma estátua da Virgem Maria para o chuveiro com ele para tentar impedir-se de ter pensamentos eróticos gays.

A diretora e produtora Eliane Raheb usa um formato inusitado de contar histórias, combinando imagens de arquivo, fotos, alguns maravilhosos gráficos e inclui um elenco de atores para interpretar os membros da família de Miguel. Bela cinematografia e uma trilha sonora extremamente bem compilada complementam esta história comovente.

Traumas múltiplos são abordados aqui. Rejeição familiar, com a mãe sempre fazendo questão de que o irmão era o filho preferido dela. Tendo que lutar na guerra, e as coisas horríveis que ele viu lá. E o dano mais generalizado causado por crescer como um homem gay em um ambiente profundamente homofóbico.

A diretora encontra uma nota trágica no fato de que a prodigiosa vida sexual de Miguel não fez nada para ajudá-lo a encontrar o amor, mas o sexo em si é tratado de forma neutra, com referência a experiências ruins e boas.

*Eduardo de Assumpção é jornalista e responsável pelo blog cinematografiaqueer.blogspot.com

Instagram: @cinematografiaqueer

Twitter: @eduardoirib