Você é a favor da vida ou a favor da morte?
Por Ágatha Pauer*
Em uma participação no “Programa Raul Gil”, o pastor Claudio Duarte se posicionou de maneira negativa a respeito do casamento entre pessoas do mesmo gênero:
“Eu vivi com um cara que era meu irmão, e ele era gay. Ele tinha uma situação [financeira] melhor que a minha. Eu usava o tênis dele, as roupas dele. Eu não tenho problema nenhum. Eu tenho valores, não vou abrir mão deles. Se você me perguntar se eu acho certo, eu não acho. Mas isso não nos torna inimigos.”
Mediante isso, o ator Caio Castro e a apresentadora Rafa Kalimann compartilharam o trecho dessa participação com uma narrativa lgbti+fóbica naturalizada e/ou constatando ser contra o posicionamento dele, mas respeitar a sua opinião. Em seguida, Patricia Abravanel, apresentadora de televisão, se posicionou da seguinte forma:
“Porque não concordar em discordar? […]”
“Te respeito desde que se comporte como um homem”; “te respeito, porém não posso ficar andando com você por aí”; “te respeito desde que não beije outras pessoas na minha frente”.
Contudo, se faz relevante desmitificar alguns conceitos por trás da palavra “respeito”, que durante séculos vem sendo usada como uma medida de propagar o ódio sem ser questionado. Porque a quem interessa normalizar atitudes que propagam uma ideia de segregação, exclusão e que consequentemente alimentam uma ideologia que mata corpos lgbti+?
A expressão: “Eu te respeito, mas..” é contraditória a partir do momento em que a palavra “mas” é uma conjunção adversativa que neste caso remete a uma ideia oposta daquilo que foi dito. Geralmente, carrega consigo pensamentos em que o respeito se encontra dentro de algumas características lgbtifóbicas:
“Te respeito desde que se comporte como um homem”; “te respeito, porém não posso ficar andando com você por aí”; “te respeito desde que não beije outras pessoas na minha frente”.
A quem interessa normalizar atitudes que propagam uma ideia de segregação, exclusão e que consequentemente alimentam uma ideologia que mata corpos lgbti+?
E quando usam de todo esse arco narrativo para justificar que é apenas uma opinião, mascaram o seu preconceito. Afinal de contas, quando essa suposta opinião contribui com a vulnerabilidade e a falta de afeto, ela deixa de ser opinião e se torna uma violência.
Uma violência que desumaniza e que corrobora para que a sociedade veja determinados corpos como uma aberração, tendo como perspectiva o espanto que se cria quando se vê dois homens ou duas mulheres se beijando.
Ademais, esse pensamento autoriza a família tradicional brasileira a continuar espancando, matando e expulsando seus filhes de casa por conta da sua orientação sexual e/ou identidade de gênero.
*Ágatha Pauer é criadora de conteúdo, atriz e travaturga, estudante do @iffcampuscabofrio e ex-bolsista do projeto de arte e cultura. Atualmente é coordenadora do movimento de mulheres da RL e filiada ao @gruposiguais.