Coletivo Guarda-Chuva se abre para evitar a chuva de intolerância nos serviços de saúde
Como os LGBT são pessoas como qualquer outra, também necessitam e têm o direito de acessar os serviços de saúde. Mas nem sempre são bem recebidos, atendidos com a atenção devida e, principalmente, o conhecimento sobre as especificidades da nossa população. O Coletivo Guarda-Chuva surgiu em São Paulo há três anos para não deixar ninguém se molhar com intolerância quando busca um profissional de saúde.
A ideia surgiu no fim de 2016, quando quatro alunos LGBT de cursos da área da Saúde da Faculdade São Camilo decidiram ir além do currículo, fazerem eles mesmos a complementação que faltava para serem bons profissionais – atendendo a todes. A iniciativa deu certo e hoje já conta com 31 membros – mas pode crescer ainda mais.
Em entrevista à Ezatamag, o Coletivo conta que “como pessoas LGBTs, sabemos de toda a discriminação e todos nós, apesar de nossos privilégios, tivemos alguma má experiência dentro da área da saúde e por isso acreditamos que tenha dado certo até o momento, pois queremos mudar a história e fazer com que outros não passem pelo mesmo”. Confira:
Há quanto tempo surgiu o Coletivo? Quantas pessoas participam atualmente?
O Coletivo Guarda Chuva surgiu no final de 2016 através de uma ideia entre quatro amigos, de cursos distintos do Centro Universitário São Camilo e começou a tomar forma em meados de 2017 com estudantes dos cursos de Fisioterapia, Enfermagem, Medicina e Nutrição. Éramos cerca de seis pessoas e hoje contamos com 31 membros, sendo sete diretores para questões burocráticas que cuidam de três grandes áreas (eventos, vendas e marketing) e 24 membros que auxiliam dentro dessas áreas com funções específicas.
Como pessoas LGBTs, sabemos de toda a discriminação e todos nós, apesar de nossos privilégios, tivemos alguma má experiência dentro da área da saúde.
Por vocês serem estudantes ele tem prazo para terminar ou vai se renovando com outros?
Nossa gestão é semestral, mudando por livre demanda com os membros e diretoria. Os membros mais ativos e interessados são convidados a participar da diretoria, para lidar com questões de organização e burocracia, além de passarem a se dedicar mais ao Coletivo. Nossa ideia é sempre inovar e trazer ideias diferentes para dentro da faculdade.
Qual é a importância de uma ideia assim? Como expandir esse trabalho de vocês?
Vemos que na área da saúde pouco se fala da comunidade LGBTQIA+ e o Coletivo veio para trazer essas questões à tona. Os profissionais de saúde precisam saber da importância de nossas especificidades, além de conseguirem fazer um atendimento minimamente digno. Acreditamos que a expansão de nosso trabalho se deve aos contatos que fizemos com outros coletivos, agremiações e organizações que estavam interessados em nos ouvir e entender ou ajudar a causa, e é isso que procuramos diariamente. Não só que sejamos um exemplo, mas que possamos aprender também com eles e trazer para os nossos domínios.
De onde veio a sensibilidade para formar um grupo e estudar um assunto que não estava no currículo?
Como pessoas LGBTs, sabemos de toda a discriminação e todos nós, apesar de nossos privilégios, tivemos alguma má experiência dentro da área da saúde e por isso acreditamos que tenha dado certo até o momento, pois queremos mudar a história e fazer com que outros não passem pelo mesmo. Além disso, todos nós concordamos que não existe nada que aborde nossas especificidades e ajude o estudante a ser um profissional que respeite a diversidade.
Como a faculdade recebeu a proposta?
A princípio, nunca tivemos nenhum problema, devido ao nosso tamanho, ninguém nos notava. Mas estamos em uma faculdade católica e a recepção ao começarmos a crescer não foi exatamente calorosa, porém tivemos duas pessoas importante dentro de lá que acreditavam em nossa causa e estiveram ao nosso lado sempre. Só tivemos problemas ao criarmos um evento no começo de 2019, com um o tema de saúde LGBTQIA+ e por associarmos o nome da universidade, tivemos alguns entraves com a mantenedora e o evento só ocorreu após a troca de nome e porque tivemos, novamente, pessoas ao nosso lado que possibilitaram o diálogo.
A Academia abre mais espaço para temas como este?
Desde o evento, nunca enfrentamos nada e acreditamos que as políticas internas estejam mudando porque viram a necessidade de tratar sobre o tema e como isso pode ajudar no desenvolvimento profissional e humano. Sabemos que temos muito a enfrentar e conquistar, mas aos poucos estamos trilhando nosso caminho.
Como vocês acreditam que o Coletivo pode auxiliar na formação de melhores profissionais de saúde?
Acreditamos que trazer para o ambiente acadêmico essas discussões e fomentar estudos sobre o tema, junto com relatos de experiência de pessoas LGBTQI+, podemos sensibilizar estudantes, docentes e outros profissionais que nunca tiveram oportunidade real de refletir a respeito. O meio científico é uma das vias que mais funciona para esses ambientes, inclusive um de nossos diretores está fazendo o TCC sobre o assunto.
A população LGBT não pode mais ser ignorada pelos serviços de saúde. Como conscientizar os profissionais que não têm essa consciência que vocês têm?
Primeiro eles precisam saber que existimos e estamos em todos os lugares, ocupando de nossa forma. Depois, cabe a nós cobrarmos de políticas públicas já existentes para que sejam cumpridas e que criem mais porque nossa comunidade é muito diversa. É nosso papel, como estudantes, fazer com que isso seja espalhado ao público geral e que cada vez mais possamos pressionar serviços públicos e privados para nos reconhecerem e nos respeitarem como somos.
Cabe a nós cobrarmos de políticas públicas já existentes para que sejam cumpridas e que criem mais porque nossa comunidade é muito diversa.
Quem quiser participar e ajudar pode fazer o quê?
Temos um grupo que trabalha para o funcionamento do Coletivo, mas que é aberto a todos os alunos de nossa universidade que tiverem interesse em fazer parte. Para pessoas de fora, sempre estamos com o nosso Instagram aberto para questionamentos, convites, tirar dúvidas e acompanharem todos os nossos eventos, ações, estudos, entre outros.
Qual o papel das redes sociais no trabalho de vocês?
Fundamental, pois a mensagem hoje em dia é espalhada em instantes nas mídias sociais. Portanto, temos um grupo que trabalha focado apenas nesse âmbito e em como aumentar mais as nossas visualizações, para que mais pessoas possam receber tudo aquilo que produzimos.
Instagram @ coletivoguardachuva