10 filmes essenciais para ver durante a quarentena e aprender mais sobre nós mesmos

Para quem pode estar em casa, quarentena é a oportunidade de ver e rever filmes, séries, documentários, programas de culinária e tudo mais o que você quiser porque os serviços de streaming estão com o sinal aberto, gratuito. O Telecine também entrou na onda e liberou seus canais para quem tem TV a cabo. A hora perfeita para garimpar e conseguir encontrar as opções de filme a seguir em algum deles.

Esta lista é como a flor de Fernando Pessoa, que é apenas uma flor. Então esta lista é apenas uma lista de filmes que eu humildemente acredito serem relevantes para a nossa história. Não é um ranking de bilheteria, dos melhores ou piores, lançamentos, tal década. Não precisa brigar, a ideia é chegar ao fim da quarentena, que vai chegar, a gente acredita, chegar ao fim dela com esses 10 a seguir assistidos.

Você pode amar, odiar, já ter visto e vendo a lista lembrado que adoraria ver de novo. É por respeito a quem ainda não viu, porque eu sou de uma geração anterior às redes sociais e muitos dos listados também, eu não vou fazer muito resumo, contar o final. Vou só dizer o que me faz gostar tanto deles. Vem:

“Morte em Veneza” – 1971

É um filme obra de arte adaptado do livro de Thomas Mann. Cenas longuíssimas características do diretor Luchino Visconti casadas com a sinfonia 5 de Gustav Mahler para contar a história de amor obsessivo do compositor Gustave pelo jovem Tádzio. O pano de fundo é uma epidemia de cólera que assola uma das cidades mais lindas do mundo, mas que é escondida pelas autoridades para não espantar os turistas e não causar uma crise financeira. Pontual para o momento.

“Querelle” – 1982

É quente em todos os sentidos, cenários, paleta de cores, cenas e temas quentes emaranhando a história do marinheiro que dá nome ao filme dirigido por ninguém menos do que Rainer Werner Fassbinder. Quem nunca viu vai identificar muitas referências que hoje em dia são até banais, como Tom of Finland e o fetiche navy de Gaultier. Uma filmagem quase teatral e que aposta mais na tensão erótica do que nos cenários. Ah, a cena da mesa, prepara o rewind.

“Ó Paí Ó” – 2007

Para mim é um dos mais fiéis retratos do Brasil com uma bagunça onde todo mundo se mistura e se organiza para fazer o Carnaval dar certo. Uma sexualidade mais diversificada, fluida e inclassificável corre por todo o filme, com personagens que desafiam as definições atuais de orientação sexual. Quem viu pode ver de novo porque há tanta crítica nos diálogos, com a pobreza de pano de fundo, que vale ver uma vez ao ano – ou a cada vez que mudar o presidente.

“Priscilla, a Rainha do Deserto” – 1994

Clássico dos clássicos que se tornou um dos musicais de maior sucesso no mundo todo ao humanizar a figura das drag queens ainda muito vistas como sempre alegres. Trouxe para o cinema o cotidiano completamente comum dessxs artistxs e ajudou a construir uma tolerância que hoje, ainda que longe do ideal, permite alguns avanços.

“Entrevista com o Vampiro” – 1994

A nunca classificada ou várias vezes classificada relação entre Lestat (Tom) e Louis (Brad) é tão forte que desperta o desejo de uma vida (eterna) juntos. Uma filha completa a família tradicional vampiresca enquanto os protagonistas aproveitam a fantasia de vampiro para questionar aspectos humanos. Há muita filosofia nas palavras de alguém que nunca morrerá, que não teme a morte e sabe se aproveitar disso. Fala sobre escolhas e sobre como elas vão te acompanhar para todos os lugares.

“A Gaiola das Loucas” – versão de 1996

É com um filme quase caricato e deliciosamente histriônico que o diretor Mike Nichols faz nesta versão a humanização tão importante do protagonista Armand. Discutir paternidade gay nos anos 1990 era inovador. Muita gente ainda assustada com a AIDS e, triste lembrar, muitos gays vistos como os causadores dela. Ao lado de seu marido Albert, Armand faz todo tipo de gente sentir empatia pela dificuldade em apresentar uma figura paterna tradicional.

“O Mercador de Veneza” – 2004

Só por ser com texto de Shakespeare vale estar em qualquer lista. Jeremy Irons e Josehp Fiennes protagonizam um romance do século XVI que envolve ainda uma desejada solteira. O mercador do título acaba sendo uma alusão às relações estabelecidas entre os personagens, uns comercializam amor, outros especiarias e há quem comercialize dinheiro, como o judeu de Al Pacino. Intolerância religiosa misturada com crítica a um sistema de classe que se altera quando lhe convém.

“Festim Diabólico” – 1948

O lado nem sempre bonitinho do ser humano aflora com direção do mestre Hitchcock para contar a história cheia de tensão sexual homoerótica. É preciso considerar o ano do filme antes de criticar que não fica tão clara assim essa relação além da amizade entre os protagonistas. A década de 40 não era um momento para um estúdio de sucesso estampar um beijo entre dois nomes nas telonas, mas é apenas a cena que falta. Com apenas um corte de cena, imperceptível, titio Alfred vai mudando a iluminação e o cenário sem tirar os atores de cena. Genial.

“Tudo Sobre Minha Mãe” – 1999

Muito Almodóvar é como eu classificaria. Elementos familiares, sexualidade, transexualidade, HIV, religião e muita gente à beira de um ataque de nervos misturados em um drama intrincado. Muito vermelho e poder feminino para contar a história de uma mãe que sai em busca do pai de seu filho, um caminho que leva a um lugar totalmente novo para muitos dos personagens. Tem que ver sem ler o resumo contando muitos detalhes. É Almodóvar, ponto.

“Para Wong Foo, Obrigado por Tudo, Julie Newmar” – 1995

Talvez com brilho roubado pelo estouro de “Priscilla”, é um filme que pode parecer sim com o outro, mas engana. Três drag queens de diferentes etnias e nacionalidades discutindo temas como imigração e violência doméstica com atuações inesquecíveis de Patrick Swayze e Wesley Snipes. Traz uma gama enorme de lições essenciais nos dias de hoje sobe resgate de autoestima e empoderamento LGBT.