Diálogo sobre o mercado audiovisual e o afeto de corpos pretos

Por Ágatha Pauer

Ouvi dizer que retratar o racismo é denunciá-lo. Afinal, foi assim que o Sistema Brasileiro de Televisão (SBT) justificou o motivo de não adaptar/alterar a narrativa do Cirilo. 
 
Mas será mesmo que a sociedade embranquecida aprende observando e consumindo conteúdos que APENAS e UNICAMENTE retratam o racismo, sem interferir e coibir a sua reprodução? Em outras palavras, sem desnaturalizar essa opressão? Ou melhor dizendo, romantizando essas atitudes? 
 
É necessário compreender que a arte não é a representação da vida. Na realidade, ela reflete e refrata seus fragmentos, reorganizando, assim, o seu objeto estético e os seus valores. 

Mas será mesmo que a sociedade embranquecida aprende observando e consumindo conteúdos que APENAS e UNICAMENTE retratam o racismo, sem interferir e coibir a sua reprodução?

 

Assim sendo, a branquitude já está fundamentalizada em sentir prazer na dor de pessoas pretas. Seja vendo a sua ancestralidade e um dos seus produzindo a chacina dessas pessoas ou humilhando verbalmente para o ver sofrendo psiquicamente. Vale enfatizar a agressão sexual aqui também. O que por sua vez, no caso da narrativa entre Cirilo e Maria Joaquina, intensifica e ensina a pessoas brancas como sustentar ideais racistas e ensina a pessoas pretas a como agirem e se verem. 
 
Afinal, usam Cirilo como um chaverinho para humilhar outras crianças pretas com adjetivos pejorativos, como pobre, feio e sujo que nunca vai conseguir ficar com alguém. Ou seja, não é uma denúncia, é um entretenimento construído por e para homens e mulheres cisgêneras brancas. 
 
Dessa forma, gostaria de saber: quem aqui já se encontrou na mesma situação que o Cirilo com a Maria Joaquina e o que isso acarretou na sua vivência e saúde mental? 

*Ágatha Pauer é criadora de conteúdo, atriz e travaturga, estudante do @iffcampuscabofrio e ex-bolsista do projeto de arte e cultura. Atualmente é coordenadora do movimento de mulheres da RL e filiada ao @gruposguais.