Netflix, adota a homofobia como um pano de fundo, de sua produção original ‘Fanfic’, de Marta Karwowska
Por Eduardo de Assumpção*
“Fanfic” (Fanfik, Polônia, 2023) A Polônia é um dos piores países da Europa para pessoas LGBTQIA+. Dito isso, a Netflix, adota a homofobia como um pano de fundo, de sua produção original ‘Fanfic’, de Marta Karwowska e escrito em colaboração com Grzegorz Jaroszuk. Tośka Tò (Alin Szewczyk) está com raiva. Muitas vezes tem sido, por muitos anos, e as constantes sessões de terapia não mudam isso.
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A personagem só encontra paz em sua cabeça quando engole comprimidos ou senta em sua fanfic e consegue escrever o mundo do jeito que gostaria que fosse. Isso só muda quando se aproxima de Leon (Jan Cieciara). Mesmo antes disso, havia interesse de ambos os lados. Mas é apenas quando eles se beijam em uma festa que podem perseguir seus sentimentos.
Também é Leon quem empresta suas roupas para Tośka quando as suas estão encharcadas pela chuva. Quando as usa, a realidade cai de seus olhos: ela é na verdade um menino, só está presa no corpo errado. E então decide se chamar Tosiek e seguir a vida como um menino. Mas a decisão não é fácil. A fanfic que a personagem escreve no início se transforma em uma série de apartes que visualmente fazem um trabalho incrível de mostrar como é sua percepção de si mesmo e de Leon.
‘Fanfic’ é ótimo em apontar que, mesmo quando você está escrevendo sua própria narrativa, o que você deveria ser, você ainda não é o personagem principal da história de todos os outros. É uma mensagem clara de que todos, mas especialmente as pessoas queer, estão melhor em comunidade e solidariedade do que em isolamento e solidão.
Mas ‘Fanfic’ brilha melhor sempre que está mergulhando mais fundo em questões de gênero e aceitação. O filme começa com algumas cenas dramáticas sobre ele roubar antidepressivos de seu pai, mas depois ambos acabam formando um elo bastante caloroso.’Fanfic’ é mais sobre encontrar alegria do que sobre a dor de chegar lá. A maneira como retrata e explora gênero, identidade, sexualidade e atração é incrível não apenas para um produto polonês, mas como um coming-of-age moderno.
Disponível na @netflixbrasil
*Eduardo de Assumpção é jornalista e responsável pelo blog cinematografiaqueer.blogspot.com
Instagram: @cinematografiaqueer
Twitter: @eduardoirib