Katuxa Close fala com exclusividade à Ezatamag direto da Itália sobre preconceito, desafios da transição e a necessidade de união das pessoas trans  

Bunoasera Katuxa se tornou o meme do ano já de cara, disparado. Uma segunda onda de sucesso do vídeo de 2011 que reconquistou o Brasil e foi parar inclusive na publicidade de grandes empresas, ocupou toda a internet e ganha no dia 21 um remix exclusivo de Las Bibas From Vizcaya. Todes estão alucinades com o bordão “Natasha buonasera Natasha – Buonasera Katuxa”! 

Ezatamag teve a grande alegria de conversar com a simpaticíssima Katuxa Close, que há 27 anos mora na Itália e é muito mais do que um meme. Tem uma história de vida bonita e inspiradora de força e foco, duas qualidades que a levaram a ser persona super bem grata na Itália, com participações em programas de televisão, entrevistas a revistas e muito reconhecimento de seu trabalho como artista. 

Um trabalho que a pandemia atrapalhou, mas não desanimou. Katuxa conta que mesmo com sua agenda afetada pelo distanciamento social imposto em todo o mundo, se mantém otimista e produtiva: a tristeza não entra na casa dela, tudo o que é ruim fica do lado de fora, bem longe dela e de sua família enquanto ela continua em contato com produtores, escrevendo músicas e pensando lá na frente.   

Moradora orgulhosa de Pisa, tece elogios à cidade que se tornou sua, indica pontos turísticos imperdíveis na Itália e chama atenção para a necessidade de uma união efetiva entre as mulheres trans. “Não existe esta união que as pessoas imaginam. Existe este coleguismo, a gente se encontra em algum evento, algum trabalho, mas esta união de ser uma pela outra, se eu falar que existe eu estarei mentindo. Não tem.” 

Primeiro me conta seu signo porque eu amo signos!  

Uau, que caldo! (uau que gostoso, em italiano). Muito prazer, Katuxa Close diretamente da Itália para vocês no Brasil, e no mundo. Sou de Câncer.  

Há quanto tempo você mora na Itália?  

Eu moro na Itália há 27 anos. Moro na cidade de Pisa, onde temos a Torre de Pisa. 

O que você mais gosta na sua cidade?   

O que eu mais gosto em Pisa é que é uma cidade turística onde temos a Torre, ela é visitada pelo mundo todo. Estamos na Toscana, perto do mar, da minha casa temos somente 20 minutos daqui para o mar. E eu adoro a praia, então gosto muito da minha cidade por ser uma cidade de praia. 

Eu digo sempre que não devemos trazer as coisas ruins para dentro de casa

O que você gosta de fazer nas horas vagas? Como tem mantido a cabeça fresca na pandemia?  

Nas minhas horas vagas eu adoro passear pela minha cidade e sou muito família, frequento muito a minha família, estou sempre com eles, meus sobrinhos, meus irmãos. Como eu sempre falo, eu sou acostumada a deixar as coisas ruins para fora da porta de casa. Então na pandemia tenho mantido as coisas boas, coisas positivas, criações e projetos. Entrando em contato com os produtores, escrevendo músicas e pensando em algo lá na frente, sem pensar neste fantasma que existe fora da porta. Eu digo sempre que não devemos trazer as coisas ruins para dentro de casa. Dentro da minha casa é proibido assistir televisão, notícias ruins, o que está acontecendo lá fora. Não é permitido tristeza dentro da minha casa, dentro da minha família.  

Quais são as três coisas que todo mundo precisa conhecer na Itália?   

Na minha opinião as três coisas muito importantes que temos aqui na Itália que não podemos deixar de passar, fazer uma foto e guardar como uma linda lembrança:  claramente a Torre de Pisa; a Duomo, a igreja do centro de Milão; e o Coliseu de Roma, histórico, onde fizeram muitos filmes, é muito glamouroso, não pode deixar de ir.  

Na minha experiência de vida eu posso te responder que seria muito importante que fôssemos verdadeiramente unidas, mas na realidade não tem toda essa união.

É importante que as pessoas trans se unam. Por quê?   

Na minha experiência de vida eu posso te responder que seria muito importante que fôssemos verdadeiramente unidas, mas na realidade não tem toda essa união, não existe esta união. Tem quem torce por você, aquelas que querem te ver bem, mas não querem te ver melhor do que elas. Existe esta picuinha, esta concorrência, uma coisa infantil mesmo. As mais maduras ainda procuram ajudar a outra, mas com as mais novas é cada uma pensando em si. Não existe esta união que as pessoas imaginam. Existe este coleguismo, a gente se encontra em algum evento, algum trabalho, mas esta união de ser uma pela outra, se eu falar que existe eu estarei mentindo. Não tem. 

Como é a realidade LGBT na Itália em comparação ao Brasil?  

A realidade LGBT aqui Itália é mais ou menos igual à do Brasil. Ainda existem as diferenças entre gay, lésbica, homem trans, mulher trans, travestis, transex, tem ainda esta diferença, não se misturam muito. No mundo de hoje, em 2021, eu não acho isso uma coisa legal. Na questão da homofobia, que na Itália existe também, não tão forte quanto no Brasil, mas ainda existe uma certa homofobia, uma certa discriminação. Temos que lutar contra esta discriminação todos os dias, aqui na Itália não é diferente, mesmo que as pessoas italianas respeitem mais do que no Brasil, isso sim, mas a homofobia aqui também existe. 

As mais maduras ainda procuram ajudar a outra, mas com as mais novas é cada uma pensando em si.

Foi muito difícil decidir começar a transição? Quais desafios você enfrentou e ainda enfrenta e como encara?  

A minha realidade não foi muito difícil porque desde criança eu me identificava muito feminina. Eu saí de casa com 14 anos de idade, venho de uma família circense, minha mãe era bailarina e meu pai era cantor. Eu ficava na porta do circo vendendo bala, mação do amor, depois me vestia de palhaço e ia para dentro do circo. Eu venho de uma família onde eu tenho parentes LGBT. Eu não tive muito preconceito dentro de casa com meu pai, minha família. Entenderam logo no começo a minha decisão, cheguei ao ponto de concluir o que eu queria fazer, minha redesignação, minha cirurgia, e hoje eu sou a Katuxa Close oficial.  

Temos que lutar contra esta discriminação todos os dias, aqui na Itália não é diferente, mesmo que as pessoas italianas respeitem mais do que no Brasil.

Depois de um longo caminho de muito trabalho, qual conselho você pode dar para as artistas que estão começando?  

Os meus desafios eu enfrentei e enfrento, até pouco tempo atrás eu sofria ainda com a questão da identidade, do nome. Porque mesmo tendo mudado de sexo eu não tinha mudado o nome, então tinha essa questão de me apresentar em algum lugar, e quando as pessoas viam o meu documento ficavam meio sem entender. Ou em uma viagem no aeroporto onde viam meu documento. Hoje em dia eu não passo mais por isso, mas vejo que muitas pessoas ainda sofrem nesta questão. No dia-a-dia hoje eu não vejo mais obstáculos. Sou Katuxa Close e sigo em frente com meu trabalho no mundo artístico, seguindo avante. Em questão de dar um conselho para as meninas que estão começando, que seja no mundo artístico ou não, o que elas queiram, o que elas sonham em fazer, que elas não deem ouvidos às pessoas que vão chegar perto delas e dizer que “jamais vai acontecer, é impossível”. Elas devem ir em frente, devem realizar sonhos, nada é impossível. Devemos seguir em frente com nossos sonhos, tendo a meta de realizar todos, sejam quais for. Se é algo que ela quer muito realizar, ela vai realizar, assim como eu estou realizando. 

Venho de uma família circense, minha mãe era bailarina e meu pai era cantor. Eu ficava na porta do circo vendendo bala, mação do amor, depois me vestia de palhaço e ia para dentro do circo.

A pandemia afetou muito sua agenda de trabalho? Como tem sido ser artista em plena pandemia?  

Com certeza. A pandemia afetou muito a minha agenda de trabalho. Eu trabalhei muito no mês de setembro, em outubro eu tinha três eventos programados em diferentes cidades aqui na Itália e foram todos adiados mais para frente, para quando isso passar. Mas afetou muito meu trabalho porque os locais fecharam, as gravadoras fecharam, ficou tudo fechado, ninguém podia ver ninguém. Então ficou todo mundo criando projeto de dentro de casa e estamos esperando tudo isso passar. Mas com certeza afetou muito para mim e para todo mundo aqui na Itália. Ser artista na pandemia para mim foi muito gratificante porque eu pude passar alegria, passar mensagens boas, tranquilidade. As pessoas me fizeram companhia e eu também fiz companhia para as pessoas. Eu entrei na casa das pessoas deixando uma mensagem, uma música, uma risada. Foi muito gratificante. 

Ser artista na pandemia para mim foi muito gratificante porque eu pude passar alegria, passar mensagens boas, tranquilidade.

Agora me conta seu maior sonho! 

Não vivo de sonhos, vivo do dia-a-dia, do correr atrás. Eu deixo o destino decidir a minha vida. Claro que aquilo que eu tenho vontade de fazer eu corro atrás para realizar, mas digamos que um sonho eu não tenho. Vou indo passo por passo, realizando, procurando melhorar. Mas eu poderia dizer que neste momento meu maior sonho é que tudo isso passe, que todos nós possamos nos abraçar, nos encontrar, estar em família. Podermos ser livres como antes, mesmo que esta pandemia tenha vindo como uma boa lição para todo o mundo para que a gente dê mais atenção à família, dê mais valor à companhia dentro de casa, esteja mais perto da nossa família. É importante isso. Nós merecemos que tudo isso passe. Um beijo de Katuxa Close para todos vocês! 

Instagram @katuxacloseoficial