No Limite reflete a realidade brasileira e expõe episódio de transfobia por parte de quem é privilegiade  

Não demorou muito para o reality “No Limite” espelhar a triste realidade da sociedade e exibir um episódio de transfobia. No segundo episódio do programa, logo depois de vencerem a Prova do Privilégio, os participantes da tribo Carcará falaram sobre suas experiências de vida e uma conversa entre Íris e Ariadna foi tema de debate. Íris disse que mulheres trans se prostituem porque querem, e não porque lhes falta outro tipo de oportunidade de trabalho.  

“Ontem a Ariadna foi contar um pouco da vida dela, que foi muito difícil, de doer o coração. Hoje, na discussão sobre prostituição, eu disse que tem que se tentar um caminho para a vida menos arriscado”, diz Íris, que na sequência fala sobre a importância de estudar e prestar concurso e é interrompida por Ariadna: “Amiga, não julga. Isso é um julgamento”. 

“Eu acho a Íris uma pessoa incrível, mas acho que ela vive um pouco fora da realidade. O fato dela ter tido mais privilégios do que eu, talvez faça com que ela viva em um mundo de fadas e infelizmente essa não é a minha realidade, conta Ariadna.  

Em seguida, ela explica sua colocação: “Eu colocava currículo daqui, dali. Não tinha segundo grau completo. Não arrumava nada. Você acha que eu fui para onde, para não ser posta para fora de casa? Lá para a esquina de onde eu morava. Eu tive opção? Não tive”. 

Ariadna: Você acha que eu fui para onde, para não ser posta para fora de casa? Lá para a esquina de onde eu morava. Eu tive opção? Não tive

Íris rebate: “Você teve opção, sim”. E Ariadna responde: “Não tive. Quando me olhavam com nome de homem e cara de mulher, eu não tive. Você não pode falar uma coisa quando não está dentro da realidade”. Íris completa contando que já trabalhou passando roupa e servindo em bares e ouve de Ariadna: “Amiga, você é uma mulher branca, loira e dos olhos verdes”. 

“Só o fato de ser uma mulher trans, já me tira todos os privilégios. Eu acho muito chato ter quer ficar debatendo isso. Ficou chato e eu preferi sair de perto. Eu gosto dela e ela tem muito o que aprender ainda sobre isso”, conclui Ariadna, que vai para perto de Zulu, Gui e Chumbo. 

Elana, então, conversa com Íris: “Têm pessoas que não tiveram oportunidades como a gente teve. Ela não tinha outra justificativa para seguir a vida. Era o que ela tinha”. E Zulu também faz uma conclusão sobre a situação: “Experiências e histórias a gente tem que ficar calado. Não dá para mudar, nada se muda”. 

De acordo com a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), 90% das travestis e mulheres trans têm a prostituição como fonte primária de renda. Reflexo direto da falta de uma real inclusão delas no mercado formal de trabalho.