“Todos Nós Desconhecidos” vai te arrepiar com sua beleza e escolha ousada de ângulo
Por Eduardo de Assumpção*
“Todos Nós Desconhecidos” (All of Us Strangers, Reino Unido/EUA, 2023)Andrew Haigh é um mestre em explorar pessoas através da reflexão. Do seu inovador filme ‘Weekend(2011)’ à fantástica série da HBO ‘Looking’: reflexos e luzes aparecem repetidamente, dando um infinito até mesmo aos espaços mais estreitos Adam (Andrew Scott) está sozinho.
Leia também:
“Lisa Frankenstein” é camp em sua estética e trilha sonora inspiradas nos anos 80
Habilidades psíquicas, sangue e inveja marcam o terror teen “Departing Seniors”
“A Prince” traz sexo descrito como um milagroso, estranho e sedutor florescimento da carne
Ele olha pela janela desamparado, como se fosse o último morador de um dos prédios. Na verdade, ele é o primeiro a se mudar para um dos apartamentos e espera companhia. À deriva desde que sua mãe (Claire Foy) e seu pai (Jamie Bell) morreram, quando ele tinha onze anos de idade, Adam vive sozinho e quieto, com televisão e comida boa.
Qualquer desejo que ele possa ter por um futuro ele já se convenceu de não se importar. À medida que surge a possibilidade de uma conexão íntima com Harry (Paul Mescal), um vizinho igualmente solitário, Adam se reúne com seus pais por meio de fenômenos metafísicos e/ou colapso esquizofrênico, encontrando-os e sua casa inalterados de suas memórias.
Trabalhando em dois papéis tão bem definidos e profundos, foi praticamente impossível que Andrew Scott e Paul Mescal não acabassem proporcionando ótimas atuações e uma química palpável. Em particular, o primeiro demonstra uma maturidade artística que lhe permite livrar-se de alguns pequenos artifícios do passado.
A escolha ousada de apresentar uma história de um ângulo diferente e arriscado paga um conceito artístico de nível inegável. Nesta adaptação, Andrew Haigh constrói um olhar cinematográfico que mistura docemente intimidade e estilização, criando um mosaico difícil de esquecer, impossível de não amar.
Baseado no romance ‘Strangers’, de 1987, do escritor japonês Taichi Yamada, o diretor e seus dois atores principais pegam o que tradicionalmente é uma história baseada em terror e a transformam em uma meditação assombrosa sobre o luto. Assim como o final do filme, tudo é passível de interpretação.
Mas uma coisa que você não pode discutir é que ‘Todos Nós Desconhecidos’ vai te arrepiar com sua beleza.
*Eduardo de Assumpção é jornalista e responsável pelo blog cinematografiaqueer.blogspot.com
Instagram: @cinematografiaqueer
Twitter: @eduardoirib