Visitar o Museu Nacional de Belas Artes é saber sobre quem somos nós enquanto brasileiros

Eu infelizmente fui uma das várias pessoas que teve que ver o Museu Nacional, no Rio de Janeiro, pegar fogo para saber que ele existia. E fiquei com um enorme dó de tudo aquilo, mas principalmente me achando um brasileiro cafona por ter ido ao Rio várias vezes e, em nenhuma delas, ao Museu. Pois neste mês eu voltei ao solo carioca e decidi fazer um mea culpa de minha ignorância – que assumo humildemente para inspirar outros.

Aproveitei um fim de semana para ir ao Museu Nacional porque eu não achava certo ter ido ao Louvre, Prado, Uffizi, Vaticano e tudo mais e não saber lhufas da nossa coleção de arte. Nossa, minha e sua, do povo brasileiro, este é e sempre deve ser o sentimento. Tudo aquilo é meu, diferente das múmias egípcias, dos Renoirs, das coleções Médici, dos Michelangelos católicos.

Fácil de chegar, é só descer na estação Cinelândia do Metrô. Vale prestar atenção que você estará em um lugar histórico, com o Theatro Municipal logo à frente e a Câmara de Vereadores cruzando a praça (quantas histórias guarda este solo? Quanta História?). Já é um esquenta para entrar no Museu e mergulhar em uma coleção que pode não ser de suas obras preferidas, mas é a que retratou a História da qual você faz parte.

Galeria de esculturas revela incentivo público para as obras desde muito tempo

A entrada custa R$ 8, mais barata do que uma garrafa de água na Europa, e dá direito a ver a coleção do século XIX (minha preferida), as obras mais vanguardistas e as exposições temporárias – uma mistura que prova a riqueza da arte brasileira, que nossos artistas sempre acompanharam os movimentos mundiais. Que nós não somos vira-latas.

Fazer esse mea culpa me deixou feliz em ver que as obras não devem às de outro museu qualquer. Com o a mais da brasilidade que explode aos olhos atentos em uma gente cabocla, negra, marrom, parda, europeia, indígena, vestida, nua, ou seja, brasileira. Poucos são os anjos rosados na terra de gente expondo seus corpos cheios de sol, suando seu trabalho, fazendo o Brasil.

É nas paredes de um dos prédios mais bonitos do centro carioca (ah, as escadarias) que estão sisudos retratos da família tradicional do Rio oitocentista com pinceladas fortes e escuras, austeras, mantenedoras da moral e dos bons costumes. Mais brasileiro impossível, ao lado da repressão europeia a quase total nudez indígena explode em quadros e esculturas com personagens como Paraguaçu, a chamada mãe do Brasil.

Nascimento

Mas se a tupinambá e Diogo Álvares Correia fizeram o Brasil nascer, o retrato mais conhecido é com certeza “A Primeira Missa”, pintada por Victor Meirelles em 1860. São 2,68m de altura por 3,56m de largura de uma tinta a óleo que nos leva direto aos livros de História do Brasil. Na minha opinião, fica claro que é o retrato do momento em que a coisa começou a dar errado.

Mais brasileiro impossível, ao lado da repressão europeia a quase total nudez indígena explode em quadros e esculturas com personagens como Paraguaçu, a chamada mãe do Brasil.

Impossível ver de perto as expressões dos índios sendo catequizados, uma cruz sendo erguida em uma terra que já tinha seu próprio deus. Quem te permitiu? Sensação parecida tive com “Batalha dos Guararapes” (1875-1879), também de Victor Meirelles. Uma briga para expulsar mais invasores, desta vez holandeses, de uma terra que nem dos portugueses era por direito.

Enfim, uma História de opressão que infelizmente segue retratada séculos depois, na simbólica cena de Eugênio de Proença Sigaud “Acidente de Trabalho”, pintada em 1944 e até hoje símbolo da luta dos trabalhadores. Em tempos de Reforma da Previdência, todo brasileiro que trabalha para sobreviver se sente um pouco o personagem caído ao centro da tela.

Uma gente brasileira que batalha e faz do Brasil gigante, como em “Café”, de Cândido Portinari, pintada em 1935 por um artista nascido em Brodowski, cidade paulista de uma região produtora do grão que resume uma cadeia que tem na base quem carrega as sacas. A mesma gente retratada em “A Redenção de Cam”, de Modesto Brocos, pintada em 1895 e ainda questionadora de questões raciais em um país miscigenado, mas racista.

“Acidente de Trabalho”, pintada em 1944 e até hoje símbolo da luta dos trabalhadores

O site do MNBA conta:

“Composta por mais de 3.000 obras, a coleção de pintura brasileira do MNBA expressa grande parte da produção pictórica nacional, com início na segunda metade do século XVII até a contemporaneidade.

Como herdeiro direto da Academia Imperial (1826 – 1889) e de sua sucessora, a Escola Nacional de Belas Artes (1889 – 1965), o acervo tem seu maior destaque no segmento produzido durante o século XIX, momento no qual teve início no país o ensino oficial da arte, pautado nos modelos franceses. Pelo conjunto abrangente e pela relevância de seus artistas, a Coleção de Pintura Brasileira do MNBA é uma das mais importantes coleções de arte oitocentista brasileira, referência para pesquisadores no Brasil e no exterior.

Grande parte dos artistas mais expressivos do século XIX e início do XX como Vítor Meireles, Pedro Américo, José Correia de Lima, Rodolfo Amoedo, Belmiro de Almeida, Modesto Brocos, Henrique Bernardelli, Antonio Parreiras, Almeida Júnior e Eliseu Visconti – um dos precursores do Impressionismo no Brasil – para citar alguns, estão representados na Galeria de Arte Brasileira do Século XIX, localizada no 3º piso,  um dos espaços mais conhecidos do MNBA.”

Vale muito visitar. Pela arte, pela História, para saber mais sobre você mesmo.

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Terça à sexta das 10h às 18h

Sábados, domingos e feriados das 13h às 18h

Ingressos: R$ 8 e meia R$ 4 e ingresso família (para até 4 membros de uma mesma família) a R$ 8. Venda de ingressos e entrada de visitantes até 30 min antes do fechamento do Museu.

Grátis aos domingos.

(21) 3299-0600

Avenida Rio Branco, 199 – Centro (Cinelândia)

www.mnba.gov.br