Após 34 anos como educadora, professora aposentada lança livro discutindo a questão LGBT+ nas escolas
A obra “Meu menino colorido” é baseada em história real. Seu enredo ilustra um período difícil da vida de Guilherme, sobrinho da autora e professora aposentada, Zenilda Vilarins Cardozo. Ele sofreu ataques homofóbicos na escola por ocasião do Ensino Médio.
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“O personagem ‘meu menino colorido’ é um ser que carrega, em cada parte do seu corpo, uma cor do arco-íris, que revela o seu perfil psicológico, dotado de amor, empatia, serenidade, companheirismo. É um caleidoscópio humano”, afirma. Publicado pela LC Editorial, o livro é a terceira obra de Zenilda e está disponível do Amazon e no Instagram dela @zenildavilarins.
Ela diz que a inspiração para escrever esta obra veio da necessidade de falar sobre LGBTQIA+fobia de forma leve, contando uma história real que teve um desfecho feliz. “Infelizmente, não é o que se revela no cotidiano de muitas pessoas coloridas de nosso País, um país que mais mata pessoas LGBTQIA+ no mundo. A minha experiência de 34 anos no chão da escola trouxe reflexão sobre o papel das instituições e educadores nesse cenário e o fato de viver, pessoalmente, o drama concretizou a vontade de falar sobre”, afirma.
A professora lamenta o fato de que o tema LGBT+ não tem espaço nas escolas. “Infelizmente, essa pauta ainda não tem abertura nas escolas e é preciso furar essa bolha. É preciso furar nas famílias também. No caso de minha família, esse tema só entrou para o debate depois dos acontecimentos com o Guilherme”, diz.
A minha experiência de 34 anos no chão da escola trouxe reflexão sobre o papel das instituições e educadores nesse cenário.
“Acredito que foram dados passos importantes sobre a causa LGBTQIAP+ no Brasil, mas precisamos que esse alcance chegue às instituições de ensino, à formação continuada dos docentes e, em especial e de fato, ao currículo escolar. Infelizmente, a escola se torna um ambiente hostil no que diz respeito a essa pauta e se estende também às questões raciais”, afirma.
A experiência de Guilherme e de outros jovens, não aceitos socialmente, a inspiraram nessa produção. “Espero que, agora, a materialização da história do meu sobrinho, hoje, adulto, possa ajudar outros jovens e outras famílias que passam pela mesma situação”.
O enredo é uma narrativa rimada, inspirada na literatura de cordel, que é outra paixão literária de Zenilda. “Desde a minha infância, gosto da sonoridade, da simplicidade, que parece uma música que chega aos ouvidos de forma leve e envolve o ouvinte. Os adolescentes gostam muito do rap, cujas letras são histórias reais contadas por meio da rima. Assim, o rap e o cordel têm uma conversa entre si e é possível contar e cantar a história. Isso é uma das características de todas as minhas obras”, informa.
Voltado para o público pré-adolescente, o enredo de “Meu menino colorido” destaca os conflitos internos de um garoto ao se descobrir diferente de outros moradores do planeta das caixinhas, feito das diversas cores. O protagonista não se sente pertencente àquele lugar que separa as pessoas em caixas de cores únicas. “O preconceito leva Guilherme, meu sobrinho, a pensar a desistir de tudo. Mas, antes disso, ele é salvo pelo amor da mãe”, revela a autora.
O livro traz fotografias produzidas por Yan Matos. São fotos de um boneco de pano, confeccionado, especialmente, para este projeto literário. Zenilda conta que a artesã Tiana, de São Paulo, recebeu uma fotografia de Guilherme e as orientações de cores do arco-íris para cada parte do corpo. “Ela conseguiu confeccionar um boneco apaixonante”, comenta.
Aposentada há 3 anos, Zenilda trabalhou por 34 anos no magistério. Destes, 25 anos foi na Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal (SEE-DF). A última escola em que ela lecionou foi a Escola Classe 22 do Gama (EC 22). A aposentadoria, materializada em janeiro de 2020, foi uma porta que se abriu para ela se aventurar no mundo da literatura. A verve literária foi percebida ainda no magistério, quando “eu escrevia textos que serviam de base para o meu trabalho pedagógico na sala de aula”.