MISS BELEZA T: AMAPÁ

Jade Naiad é a representante do Estado Do Amapá no concurso Miss Beleza T Brasil 2020

A taurina Jade Naiad é a representante do Estado do Amapá no concurso Miss Beleza T Brasil, que será realizado em São Paulo em outubro (leia mais aqui) – data preliminar que pode ser alterada devido à pandemia. Entramos em contato com todas as eleitas e publicaremos as respostas por ordem alfabética. E as entrevistas já publicadas estarão no fim da página para você conhecer todas elas.

“A sigla T ainda tem poucos espaços conquistados e poucos representantes em vários segmentos sociais e econômicos, estamos adentrando pouco a pouco na sociedade, e posso ser uma incentivadora dessa ideia. Já foi-se o tempo em que só se viam as travestis e transexuais à noite, nas madrugadas, na rua, fazendo programa”, conta à Ezatamag.

Fizemos para Jade as mesmas perguntas enviadas às outras candidatas, garantindo isonomia na divulgação delas este texto de abertura também é padrão pelo mesmo motivo. Conheça um pouco mais sobre a Miss Amapá e seus objetivos:

Qual o seu signo e o que você mais gosta no Estado que está representando?

Mulher taurina nascida no primeiro decanato, e no primeiro dia do signo de Touro (21/04), uma quase ariana rs, sempre brinco dizendo que sou Tauriana por causa do temperamento rs. O estado do Amapá é abençoado com boa parte da nossa joia natural que é a floresta Amazônica e com isso vêm as diversas vegetações e os pontos turísticos, que são minhas partes favoritas. Os que eu particularmente acho mais bonitos e convidativos são: o Parque Nacional das Montanhas do Tumucumaque e o Parque Nacional do Cabo Orange.

Como foi sua trajetória até começar a sua transição e, agora, poderosa, arrasando, sendo eleita miss e indo ao nacional, como está?

Tive uma infância difícil, marcada por vários traumas, problemas familiares. Como em casa eu tinha muitos problemas, eu acabava não tendo um bom rendimento escolar também, tímida, introvertida, de quase nenhum amigo, além disso, ainda sofria bullying por ser o “viadinho” que tirava nota baixa da sala. Lembro de uma vez com 12 anos, estava na 6ª série, quando fomos assistir um vídeo no final da aula. Eu estava sendo ridicularizada por dois marmanjos da 8ª, eu era magrinha e bem baixinha, eu respondi para os dois e riram deles. Na hora de ir embora os dois se juntaram, me encurralaram e me bateram, eu corri na sala da diretoria e eles continuaram me batendo na frente da diretora, corri na sala dos professores e eles continuaram me batendo na frente dos professores e ninguém fez absolutamente nada. Desde então, minha conduta escolar acabou piorando e na tentativa de melhora fui transferida pra outro colégio mais próximo de casa, onde sofri bullying pior ainda. Minha adolescência foi um pouco pior, pois foi quando me assumi na época “gay” para uma família evangélica conservadora e saí da igreja, onde eu sofria repressão desde pequena também. Atualmente, desde quando participei pela primeira vez no Miss T Brasil em 2017, quando tive contato com um concurso nacional, onde vi pessoas reconhecendo meu espaço, espaço que nós trans estamos finalmente ocupando na sociedade, aplaudindo minhas vitórias, me respeitando finalmente pelo que eu sou e não pelo que a sociedade e o algoriitmo espera que eu seja, vi que tudo o que eu lutei, por toda minha vida, antes da transição e agora já transicionada, fez sentido para a minha vida, fez com que tudo o que eu passei tivesse sido compensado e valido a pena, como a tempestade que traz após seu feito a bonança.

Na hora de ir embora os dois se juntaram, me encurralaram e me bateram, eu corri na sala da diretoria e eles continuaram me batendo na frente da diretora, corri na sala dos professores e eles continuaram me batendo na frente dos professores e ninguém fez absolutamente nada.

O que se tornar Miss significou para você?

Ser Miss para mim significa fazer uma aliança com a minha minha nação, onde eu posso passar uma mensagem positiva para as pessoas em cada apresentação, e elevar a confiança e a autoestima das pessoas em cada discurso, e me tornar um orgulho para meus representados, ser uma boa influenciadora, ser Miss é ser uma formadora de opiniões.

Como você acha que pode ajudar a comunidade LGBTQI+ sendo Miss?

As pessoas, o ser humano em si é muito visual, e uma Miss traz em sua bagagem os holofotes, as atenções, os olhares, as admirações, as mídias, e isso pode e deve ser usado em favor daqueles que necessitam. Posso com toda certeza ser uma voz que vai dar voz aos que ainda estão invisibilizados, nessa classe tão historicamente marginalizada e massacrada pelas políticas institucionais vigentes. A sigla T ainda tem poucos espaços conquistados e poucos representantes em vários segmentos sociais e econômicos, estamos adentrando pouco a pouco na sociedade, e posso ser uma incentivadora dessa ideia. Já foi-se o tempo em que só se viam as travestis e transexuais à noite, nas madrugadas, na rua, fazendo programa. Hoje em dia estamos em todos os lugares, ocupando todos os espaços, espaços estes que nos pertencem por direito, e estar coroada simboliza tudo isso e um pouco mais na minha luta diária como mulher TT. Porque ser Miss já deixou há muito tempo de ser uma simples questão de beleza e postura e passou a ter uma missão social muito grande, por termos todas as atenções voltadas pra nós, temos também a responsabilidade por tudo que fazemos com essas ferramentas. Pois somos vistas como um exemplo a ser seguido pela sociedade que estamos representando, hoje em dia não basta ser bonita, a Miss precisa ter algo a mais para oferecer para a sociedade. É preciso conteúdo, é preciso ter uma causa, não é simplesmente estar por estar.

Qual avaliação você faz do cenário político brasileiro de hoje em dia?

Lastimável, e um grande retrocesso nas políticas públicas dos direitos humanos, nas tão suadas conquistas que nós conseguimos lutando por todos esses anos, por todo sangue derramado, sangue negro, LGBTQIA+, sangue indígena, sangue de mulheres, de pessoas que fizeram de tudo pra sairmos da era sombria que o Brasil viveu durante todo esse tempo. Estamos nos tornando um país em que o dinheiro e a falsa moral estão valendo mais que a vida humana, e todos nós sabemos que um país só é considerado desenvolvido se o seu IDH estiver pelo menos 98% positivo. Não dá para ajeitar de um lado deixando tudo desmoronar do outro, somos a 8ª economia do mundo, mas perdemos para a desigualdade social, que a passos lentos estava diminuindo, evoluindo, porém, com o atual governo, tem voltado a crescer a níveis alarmantes. E por mais que a elite reacionária, a cúpula conservadora, diga que “estamos saindo da crise financeira”, estamos entrando novamente na crise social, e sem condições de sobrevivência humana básica. Não há como um país crescer e se desenvolver economicamente se falta oportunidade, se existe preconceito, discriminação, racismo institucional, machismo, elitismo e políticas de higienização social… seguimos sendo o país que mais mata negros, LGBTQIA+, mulheres, pobres e sendo subdesenvolvidos ainda que a economia esteja, aos olhos da elite, “boa”.

Você acredita que ter se tornado Miss te ajudou na sua autoestima?

Não! Mas acredito que tem colaborado muito na construção da minha autoimagem pessoal e social, tem me colocado de frente comigo mesma e tem me feito refletir sobre o que eu sou e o que eu quero para minha vida. Tem me ensinado a amadurecer diante de questões que são colocadas na minha frente diariamente e a entender o que eu sou para mim, minha família, meus amigos e diante da sociedade. A posição de Miss tem me feito questionar meus princípios, minha conduta, minha ética e me feito voltar todas as minhas atenções para o que eu passo todos os dias para as pessoas e desenvolver minha responsabilidade social com isso. Essa posição te obriga a fazer uma reforma íntima muito grande e consequentemente saber o seu lugar no mundo e o seu papel social.

O que é ser bonita para você?

Ser bonita, é ser tudo aquilo que você espera de si mesma para si e para sua vida, é construir a sua imagem segundo aquilo que você acredita em todas as áreas da sua vida!

E qual tipo de gente você acha horrorosa?

Gente que age de má́ fé́, tirando proveito do outro para fazer o seu, que molda sua carreira, sua vida, sua imagem, seu relacionamento, passando por cima de quem cruzar seu caminho ou de quem se aproximar. Pessoas que não vivem a sua própria verdade, prejudicando o outro simplesmente pelo prazer de estar por cima a qualquer preço, sem escrúpulos para nada.

Ser Miss já deixou há muito tempo de ser uma simples questão de beleza e postura e passou a ter uma missão social muito grande, por termos todas as atenções voltadas pra nós, temos também a responsabilidade por tudo que fazemos.

O que você̂ pode dizer para as meninas trans e travestis que ainda enfrentam as dificuldades pelas quais você já passou?

Tenha autoconhecimento, se conheça, se descubra, saiba quem você̂ é, do que você gosta e o que você quer. Uma mulher forte, uma mulher empoderada, é uma mulher que conhece profundamente a si mesma, quem quer o melhor, busca o melhor, foque naquilo que você quer pra sua vida, saia em busca dos seus sonhos, se posicione contra a transfobia, reivindique seus direitos SEMPRE. Tenha a convicção de que tudo passa, inclusive maus momentos, siga em frente, um dia tudo isso vai fazer sentido na sua vida e vai valer a pena, ocupe seu espaço na sociedade porque você também paga impostos igual a todo mundo. E lembre-se de que ninguém no mundo tem que aceitar você além de você mesma, as pessoas lhe devem apenas o RESPEITO!

Agora uma pergunta clássica: qual seu maior sonho?

Conseguir me realizar profissionalmente como empresária milionária (falta travestis e transexuais dentro da elite também), montar e estruturar minha carreira trabalhando com o que eu mais gosto que são: o Fitness, a música e a Moda/Beleza.

Instagram @jade_naiad

 

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