“Vento Seco” é declaradamente fetichista e mostra o universo da submissão e dominação, couro, urso, policial

Por Eduardo de Assumpção*

Vento Seco (Brasil, 2020) O ousado filme de Daniel Nolasco é marcado por erotismo, nudez e sexo, explícito muitas vezes. Esses elementos que constroem o filme, lhe garantem uma estética atrevida, que acompanha a jornada sexual do personagem principal. O filme é declaradamente fetichista. De maneira lúdica ele mostra o universo da submissão e dominação. Do couro. Do urso. Do policial. Do sexo em lugares públicos. Vestiários. Chuveiros. Urina. Sêmen.

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Tudo isso para ilustrar a rotina de Sandro, interpretado por Leonardo Faria Lelo, totalmente entregue. Ele é funcionário de uma empresa de grãos cuja a chefe Paula, é vivida pela atriz trans Renata Carvalho. Numa cidade do interior do Goiás, Sandro tem um caso clandestino com Ricardo, com quem transa no mato em cenas de elevadíssimo apelo sexual. Ele é o urso sendo devorado.

O erotismo também rodeia a área da piscina, onde vemos muitos corpos masculinos, musculosos e molhados. Misturando realidade com clima de fantasia, o diretor vai criando momentos épicos. A chegada de Maicon (Rafael Teophilo) vestido de couro na saída de um supermercado é digna de uma tirinha de Tom of Finland. Vento Seco transcorre através de uma estética fabulosa.

O diretor de fotografia Larry Machado recorreu ao uso de zoons no rosto expressivo de Sandro, enquanto cria um visual neon com cores fluorescentes. A trilha, também é um show à parte, vai de sertanejo goiano à Maria Bethânia. Há momentos lindos, como um lúdico num parque de diversões ou crus e fetichistas, como a entrada numa boate sadomasoquista que levará o filme ao seu primeiro momento de catarse.

O triângulo amoroso entre Sandro, Ricardo e Maicon é que proporcionará a porção de história diante tanto e envolvente fetiche. Vento Seco é um filme abusado, atrevido, criativo e que não tem medo de expor os desejos humanos, para contar uma linda história sobre amor e solidão.

Disponível no @telecine

*Eduardo de Assumpção é jornalista e responsável pelo blog cinematografiaqueer.blogspot.com

Instagram: @cinematografiaqueer

Twitter: @eduardoirib