“Ataque dos Cães” traz homoerotismo e discussão sobre a masculinidade tóxica

Por Eduardo de Assumpção*

“Ataque dos Cães” (The Power of the Dog, EUA/Reino Unido/Austrália/Nova Zelândia, 2021) traz os irmãos George (Jesse Plemons) e Phil (Benedict Cumberbatch), que não poderiam ser mais diferentes. Enquanto um é sofisticado e elegante o outro é um legítimo cowboy, proprietário de um rancho, em Montana, de 1925.

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Quando George, anuncia que se casou em segredo com a viúva Rose (Kirsten Dunst), que dirige um pequeno restaurante e tem um filho claramente homossexual, Pete (Kodi Smit-McPhee), que se interessa por Medicina e gosta de flores, a família não recebe a notícia com simpatia e o intolerante Phil decide fazer da vida deles um inferno.

A vida de Rose no rancho não é feliz, a personagem mingua e regride conforme os maus tratos a ela e ao filho acontecem. A personagem recorre à bebida para preencher o vazio que começa a tomar conta da sua vida. Sem noção, o marido tenta animá-la com um piano que ela não consegue tocar em encontros sociais.

Quando Pete está prestes a se juntar às férias de Verão da faculdade com a família, sua delicadeza torna-se um alvo fácil e parece trazer à tona uma crueldade particular em Phil, o que acaba revelando muito sobre sua sexualidade reprimida.

A escritora e diretora Jane Campion, ganhadora do Oscar, pela direção do filme e também pelo roteiro de “O Piano” (1993), se inspirou no romance de Thomas Savage para escrever o roteiro sobre masculinidade tóxica. A fotografia, de Ari Wegner, é esplendorosa e destaca paisagens bucólicas que dão o tom ao filme.

Mas não é só nas paisagens que habitam a beleza, a câmera traz certo homoerotismo com a nudez de Cumberbatch, ou num banho de rio tomado por vários vaqueiros. Pete desperta o pior em Phil, ele desencadeia algo no personagem que ele parece incapaz de ignorar mas com o passar do tempo, também aflora um senso de humanidade.

Pete é acovardado, mas há uma luminosa cena dele desfilando com ‘orgulho’ em meio aos peões, enquanto é vaiado, e essa é a sensação que só um LGBTQIA+ conhece. Phil é bruto mas quando não há ninguém por perto, vemos um lado mais suave, um lado que ele se esforça muito para manter em segredo.

Disponível na @netflixbrasil

*Eduardo de Assumpção é jornalista e responsável pelo blog cinematografiaqueer.blogspot.com

Instagram: @cinematografiaqueer

Twitter: @eduardoirib