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MULHER, SÓ ELA PODE LUTAR?

A História nos mostra que a ideia de unidade para com os que necessitam de apoio faz toda a diferença na luta dos que buscam mudanças

Por Caroline Silva*

Muita gente acha que para falar, lutar, defender ou se manifestar em relação a algo ou a uma causa é necessário ser parte da causa no sentido de “representar”. Vivemos hoje numa sociedade que se divide em causas, onde cada um defende o que acredita, sendo parte da causa ou por empatia a causa de alguém.

Se pararmos para analisar, muitos dos avanços sociais que conseguimos até hoje, muitos deles começaram por manifestações daqueles que conhecem a dor de serem segregados, mas que ganharam ainda mais força por serem apoiados por aqueles que, embora não tenham sido segregados, decidiram lutar do lado de quem sentiu a dor da segregação. Peço licença para usar a palavra “segregação” no sentido de “separar”, no intuído de dizer que tudo que não esta unido, logo, está separado.

A História nos mostra que a ideia de UNIDADE para com os que necessitam de apoio faz toda a diferença na luta dos que buscam mudanças, como por exemplo a luta dos negros pelo direito ao voto nos Estados Unidos. Apesar de Martin Luther King ter sido um ativista político incrível, ter tido apoio de muitos negros, ele também teve apoio de pessoas brancas que se juntaram à luta e assim deram ainda mais força.

Essa lógica de “representatividade” ou “ de apropriação cultura”, tal qual só posso me manifestar ou defender se eu for parte que sofre a segregação/separação, precisa, com todo respeito aos que defendem esses pontos de vista, ser repensada.

Peço licença para usar a palavra “segregação” no sentido de “separar”, no intuído de dizer que tudo que não esta unido, logo, está separado.

Precisamos sim de pessoas que se dividam em causas para que suas lutas e manifestações tenham IDENTIDADE, mas não podemos deixar de apoiar uma causa que você tem empatia, mas se sente “separado” por não “representar” a causa ou não ter a IDENTIDADE da causa. Acredite, seu apoio pode ser a diferença para os que precisam de mais força para lutar. Para reforçar esse ponto de vista, tomemos a esfera política como exemplo, sabemos, infelizmente, que as mulheres ainda são minoria na política, e para quem não sabe, tem até lei que obriga os partidos políticos a terem pelo menos 30% de candidaturas femininas para que o partido seja elegível para registro nos órgãos eleitorais.

Agora, reflitam comigo, aprovar um Projeto de Lei no Congresso Nacional não é tarefa fácil, ainda mais quando o assunto, em tese, deveria interessar apenas mulheres, mas como conseguir aprovação se somos minoria? A  resposta deixo para você leitor, mas faço uma ressalva, embora a motivação ou apoio para aprovar um projeto de lei dessa natureza não seja apenas a empatia de ter mais mulheres na política, mas talvez seja a de garantir que os partidos políticos possam ser elegíveis, fica muito claro que ter o apoio dos homens dentro do Congresso fez toda a diferença, pois por questões lógicas e óbvias, não teríamos quórum para tal aprovação.

Precisamos sim de pessoas que se dividam em causas para que suas lutas e manifestações tenham IDENTIDADE, mas não podemos deixar de apoiar uma causa que você tem empatia.

Não vou discutir o mérito motivacional da aprovação, isso renderia muito, então, que tal um outro artigo para discutirmos isso? Mas é fato que termos apoio de pessoas externas aos que “representam” uma causa, torna a luta mais forte e ainda garante a causa alguns avanços.

Precisamos quebrar esses paradigmas de separação, precisamos de UNIDADE, precisamos consolidar a ideia de que são pessoas falando de pessoas, gente falando de gente, porque no fim somos TODOS iguais. Proponho essa reflexão para chamar a atenção de que você não precisa ser negro para apoiar quem luta ou representa essa causa, não precisa ser mulher para defender a causa delas, não precisa ser LGBT+ para respeitar e defender quem tem essa orientação sexual.

Acredite, seu apoio pode ser a diferença para os que precisam de mais força para lutar.

Estamos carentes de respeito, compreensão, e estamos cheios e dispostos a julgar, sem antes tentar compreender o porquê do que acontece, ou se certificar se a forma como as informações chegam até você, de fato são verídicas. Vamos usar o acesso tão fácil e rápido que os dias de hoje nos proporciona, mas faço um apelo, não siga a multidão e não se posicione só porque alguém fez um discurso bonito e muitos os seguem nas redes sociais, use sua capacidade de análise e construa e faça suas escolhas, não deixem que formem sua opinião, faça você mesmo!

Aproveitando o espaço, é válido no contexto da semana do Dia Internacional da Mulher, refletirmos sobre duas palavras que estão em voga, que são de extrema importância, mas que de forma leviana foram disseminadas de forma errada que por falta de esclarecimentos são, hoje, muito estereotipadas pela sociedade.

Vamos usar o acesso tão fácil e rápido que os dias de hoje nos proporciona, mas faço um apelo, não siga a multidão e não se posicione só porque alguém fez um discurso bonito.

A primeira é “Feminismo”, esclareço que essa palavra nada tem a ver com estar contra os homens, essa palavra representa a busca por acabar com a segregação da mulher só pelo fato dela ser mulher! Exemplo, uma mulher ocupa a mesma função, cargo e realiza as mesmas tarefas que um homem numa instituição, agora me digam: por qual razão ela deveria ganhar menos? Pelo menos para mim não faz sentido, mas se faz sentido para você, se coloque no lugar dessa mulher e reflita!

A segunda palavra é “Sororidade”, que nada mais é que: mulheres que apoiam mulheres, atrevo-me a dizer que sororidade é sinônimo de solidariedade, mas nesse caso, solidariedade feminina! Seguindo uma dica que recebi, repasso a você leitor a leitura da obra “O feminismo é para todo mundo”, da autora Bell Hooks, que afirma: […” se ousarem se aproximar do feminismo, verão que não é como haviam imaginado…”].

“O feminismo é para todo mundo”, da autora Bell Hooks

Vamos nos posicionar e apoiar a causa de “gente”. Peço licença mais uma vez e faço um apelo aos que acham que o fato de não representar ou não ter a IDENTIDADE de uma causa, saiba que ao apoiá-la já te faz parte dela, e acredite, isso dá ainda mais força aos que estão lutando. Que o Dia da Mulher seja um dia para refletirmos sobre essa luta tão nobre, mas que todos os dias a causa de cada mulher também seja a sua.

Dedico um cordel escrito com muito carinho e emoção, para contar um pouquinho da luta histórica delas e ainda aproveitei para homenagear mulheres incríveis que fazem parte da minha vida e para homenagear tantas outras que conheci ao longo da minha caminhada, não se apeguem aos nomes citados, pois essa luta tem muitos nomes, mas a causa é uma só!

*Caroline Silva é escritora e cientista política especialista em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília (UNB) e mestre em Ciência Política pela Universidade Livre de Bruxelas (ULB), Bélgica.

Redação

Redação Ezatamentchy

1 Comments
  1. Regina

    06/03/2020 14:20

    Ótimo texto!

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