“O Filho da Geni” toca na ferida sempre aberta do abuso infantil
É impossível sair da presença de Luis Fernando Almeida em “O Filho da Geni” sem um senso de urgência, certa revolta e um gosto amargo na garganta – aquela garganta abafada das pessoas LGBTQIA+ que silenciam frente ao peso do preconceito. A peça em cartaz em São Paulo até 1 de setembro é um convite mais do que bem-vindo para gritar sobre o tema da violência sexual contra crianças e adolescentes.
Leia também:
Para quem continua lendo este texto depois de saber o assunto principal dele, porque o tema desperta as mais diversas reações, é preciso dizer que o filho da Geni costura sua história em um pano de realidade, crueza e desespero. Luis mistura um lençol com sangue com trilha sonora para provocar (não é possível ficar calmo diante disso) e gritar as violências do personagem.
Esmagado por uma sombra inflável como a dor, tudo é urgente, tudo é pesado e desafiador, tudo é polêmico para ele em uma sociedade que insiste em não falar de sexo, não discutir sexualidade, não orientar crianças sobre limites para seu corpo. Insiste em silenciar as vítimas – ou até mesmo culpá-las – e em diminuir a culpa do agressor.
Qual a voz do filho da Geni, uma mulher sem dinheiro, sem perspectiva afetiva, no mundo? Quem tem coragem de dizer que foi abusado? Luis Fernando quebra a forte amarra da hipocrisia e grita, melhor, dá voz ao personagem para ele gritar – mas todo mundo vai ouvir?
O espetáculo é baseado em depoimentos reais de pessoas ao redor do mundo e costura essas várias vivências em uma história forte, angustiante e ainda comum nos tempos de hoje. Dura 60 minutos dentro da SP escola de Teatro e uma vida inteira na sua cabeça.
“O Filho de Geni” – até 1 de setembro
Sextas e sábados às 20h30; Domingos às 18h
Cia Teatral: Cafofo Produções
SP Escola de Teatro – Unidade Roosevelt (Praça Franklin Roosevelt, 210, Consolação)
Gratuito (ingressos clicando aqui)
Classificação: 16 anos