Católicos LGBT+ muito bem representados na música de Gil Monteiro. “Eu sou uma denúncia daquilo que é velado”

Por Artur Vieira*

Mesmo em meio às polêmicas envolvendo algumas recentes falas homofóbicas pelo líder da Igreja Católica Apostólica Romana, o Papa Francisco, nada faz o maior representante da geração de católicos LGBT+ esmorecer. O cantor e compositor de 40 anos nascido no Paraná Gil Monteiro é o maior fenômeno nos streamings musicais, com players que ultrapassam mais de 2 milhões e meio, levando o artista a uma grande notoriedade há mais de uma década no cenário artístico.

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Após surpreender seu público em uma live na rede social em 2022 e causar um escândalo no meio religioso ao confirmar a todos sua orientação sexual, Gil rompeu o protocolo e saiu do último armário que lhe faltava sair: para seu público! Já que para sua família e amigos próximos já o havia feito alguns anos antes. Na época, escondia de todos seu casamento (já encerrado), e suprimia diante de todos a sua vontade de viver por completo sua identidade.

Apesar de ser figura carimbada em eventos e programações religiosas tanto no nosso país como no exterior, ele viu esses convites desaparecem após a revelação da sua sexualidade e foi completamente banido do “business religioso”, mas isso não enfraqueceu a carreira desse cantor que tem por formação a Engenharia Civil. Pelo contrário, ele galgou ainda mais relevância e contribui de forma intensa com a comunidade LGBT+ e hoje se tornou uma dos maiores representantes da comunidade, principalmente entres os católicos considerados progressistas.

“Eu poderia ter sido mais feliz, mais leve, mais pleno. O armário me tirou muitas coisas.”

E a curiosidade das pessoas sobre sua vida particular e sua história foi tanta que o fez escrever um livro onde narra todas elas e algumas ainda mais inusitadas. O livro “Será que ele é” (compre aqui) já está na quinta edição e conta com prefácio do ator Carmo Dalla Vecchia. Eé um dos deliciosos livros biográficos já lançados recentemente, em alguns capítulos você poderá dar boas gargalhadas como também vai precisar de um lencinho devido à exposição de alguns acontecimentos que emocionam.

Ele reconhece seus privilégios por ser um homem gay, cis, branco, padrão e por isso quer cada vez mais quer empoderar pessoas da comunidade LGBT+ para viverem com plenitude suas vidas, sem deixarem ser silenciadas pelo preconceito dos ignorantes de plantão. No mês passado, se dedicou em trazer em suas redes mais informações e representatividade para a causa, algo que nesses últimos dois anos se tornou constante na vida do cantor agora já assumido.

O livro “Será que ele é” (compre aqui) já está na quinta edição

E quando digo que Gil Monteiro é o maior representante dos católicos LGBT+, não são falas minhas ou os demonstrativos dos números que acompanham ele no seu sucesso musical, ou também suas constantes entrevistas a veículos de comunicação de projeção nacional; mas sim um próprio grupo de pais e mães pela diversidade que são membros de uma pastoral que reconhecem o trabalho significativo que o cantor traz para a temática, que precisa ser revista dentro da própria igreja católica.

Agora já para o segundo semestre o cantor prepara o lançamento de sua nova canção, “Clandestino”, que é uma composição sua e quebra o hiato de dois anos sem lançar nenhuma música gospel católica. E também outra parceria num EP onde vai trazer pela primeira vez o artista cantando músicas no estilo MPB e fugindo um pouco do gênero musical religioso que o consagrou. Parece mesmo que essa liberdade em sua vida pessoal trouxe também uma liberdade artística para o cantor, que quer cada vez mais explorar novos horizontes, cantando de forma leve as cores do amor.

*Artur Vieira é um cristão, gay e jornalista que trabalha com o público LGBT+ desde 2013 na internet com o perfil @devoltaaoreino.