Você deveria primeiro tentar entender o papel social das saunas antes de criticá-las
Muito mal se fala sobre as saunas e muitas ideias totalmente erradas criadas no preconceito são por aí espalhadas. Em primeiro lugar, nunca haverá nada de errado em um lugar onde quem foi lá foi porque quis, é maior de idade e está fazendo tudo com consentimento. O resto é missa, é papo de quem ainda não entendeu que quem goza é sempre muito mais feliz – e não enche o saco de ninguém.
Dentre essas pessoas muitos são os motivos para ir à sauna. Sexo, saúde, sexo e saúde, conversa, bebida, amigos. Sim, cara pessoa desinformada, algumas saunas são verdadeiras comunidades, com seus frequentadores mais assíduos formando realmente aquela família que se escolhe. Não sei se você sabe, mas alguns dos dias mais animados das programações delas nem têm o sexo como atrativo principal.
Já pensou em ir à sauna e dar de cara com um bingo rolando? Eu já vivi isso aqui em São Paulo, como vivi também em várias outras saunas histórias que deixariam qualquer Casa dos Budas Ditosos parecer uma cabaninha. E eu não tenho vergonha alguma – porque eu não quero ser a pessoa que faz, não assume e sai por aí falando mal para tapar o sol com a peneira. Sempre fui, sempre gostei, pelo sexo, pela saúde, pela pele, pelo cabelo, por tudo, põe tudo.
Bingo, desfile de moda e até feijoada já passaram frente a estes olhos que um dia serão doados para uma faculdade de Medicina estudar (para ser útil depois de morto). Então estes olhos já viram ursos e seus admiradores lotando certa sauna paulistana para uma feijoada completa na quinta-feira. Fazia-se ali o comer denotativo, não o conotativo.
Não sei se você sabe, mas alguns dos dias mais animados das programações delas nem têm o sexo como atrativo principal.
Quando a extinta 269 e atual Chilli Pepper lançou sua coleção de roupas há uns anos, foi ali mesmo que os modelos desfilaram, entre um saindo daqui e outro entrando dali – e tudo entrando e saindo. Eu já fiz assessoria de Comunicação para a mesma sauna, e meu à época namorado me deixava lá todos os dias e me desejava bom trabalho.
Porque as saunas são além de um centro social também empresas. Geram empregos diretos e indiretos, consumo, impostos. Sustentam vidas, famílias, pessoas. Profissionais que, como eu à época, entram em um local deste para fazerem seus trabalhos. E sim, eu ficava de roupa entre o povo nu ou de toalha – para alguns eu tinha que explicar que estava ali trabalhando.
E me perguntavam se eu era michê, porque eles também têm em algumas saunas seu ganha-pão. Educadamente respondia que não. E não me venha com a caretice de condenar quem vende o que bem quiser desde que seja seu. Deixe de lado a caretice de julgar a diversão alheia.
Centro social, empresas e ainda por cima espaços de resistência. Basta lembrarmos que a (infelizmente) extinta For Friends funcionava em plena Ditadura Militar. Quase 40 anos de história antes de fechar as portas na região da Vila Mariana.
Porque as saunas são além de um centro social também empresas. Geram empregos diretos e indiretos, consumo, impostos. Sustentam vidas, famílias, pessoas.
E eu me atrevo a dizer ainda que servem como válvula de escape. Obviamente no sentido de aliviar a tensão com sexo, mas também de oferecer a oportunidade para os menos atrevidos “em mar aberto”. É ali que muita gente tímida descobre coisas e, principalmente, se descobre. Pode ser uma iniciação, a clássica primeira vez, ou a certificação, quando você realmente percebe que é gay.
Também palco de shows para gogo-boys, drags e vários tipos de artistas da cena LGBT. Há todo um universo que funciona impulsionado pelo vapor das saunas. Há opção de massagem com ou sem final feliz, limpeza de pele e outros serviços de um spa em si. Não se pode resumir todo o simbolismo das saunas a uma ideia errada de sujeira, culpa, erro.
Vai quem quer fazer o que quiser. Ponto final. O resto é recalque.
E tem meio que novidade no mundo dos vapores paulistanos. A Termas Fragata, um clássico para quem tem mais de 40, reabre em novo local e de cara nova no sábado, dia 17, abrindo às 14h, na Rua Traipu, 555 – Pacaembu (www.fragata555oficial.com.br).
A Fragata é justamente uma destas saunas onde tem tudo isso aí de cima. A inauguração terá top boys e shows com a nossa amada colunista Kylie Hickmann, além de Silvetty Montilla, Michelly Summer, Lola Chaplin, Carla Helen, Antara Gold, Nina Tosca, Evelyn Ohana e Marianah Munhoz.
Vamos suar?