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NUNCA VI DIA ASSIM, TÃO FEIO E BELO!

Por Juju, a Gata*

Aaaiii que preguicinha deliciosa. Mais uma manhã e eu obviamente maravilhosa, plena, rainha de tudo que existe. Que manhã nublada gelada em São Paulo que me faz me aconchegar em meio às roupas limpas e passadas do Hélio, que ficam cheias dos meus maravilhosos pelos pretos – eu estou sempre na moda, sou clássica, atemporal.

Que fome me consome, oh deusa Bastet, vou me levantar só por um instante para comer e voltar para dentro do guarda-roupa. Existir já me cansa demais. Deixa eu me lamber mais um pouco antes… isso… mais um pouco… aham… ah, só mais uma… foi. Pronto. Mais uma, espera. Agora sim.

Mundo, cheguei para desfilar pela casa, abram alas e curvem-se à minha superioridade. A magnânima está passando pelo corredor, onde estão os aplausos? Vossa soberana adentrou a sala, quero multidões me ovacionando, vamos, rápido! Elogiem meu caminhar, enalteçam meu cruzar de pernas, endeusem cada passo dado por mim.

Odeio não ter plateia para presenciar como eu sou elegante acordando, ao contrário dos humanos, que espécie estranha. Acordam com os pelos arrepiados, despenteados, com umas roupas largas e precisam correr para escovar os dentes. Um horror.

Eu acordo maravilhosa, por isso exijo público, treino durante semanas minha abertura de pernas inspirada em Isadora Duncan. Gasto horas em frente ao espelho examinando qual ângulo de abertura de boca mais me favorecer ao bocejar. Divas não têm vida fácil, divas têm que brilhar.

Odeio não ter plateia para presenciar como eu sou elegante acordando, ao contrário dos humanos, que espécie estranha.

Mas na realidade estou mais preocupada mesmo com o sonho que tive esta noite. Vou abrir aquele livro da estante daquele barbudo de Viena que o Hélio gosta. Freud. O livro promete a interpretação dos sonhos, então nada melhor do que saber o que significa aquela maluquice toda.

Vocês acreditam que eu sonhei… aiiiiiiii! Não foi sonho! Ela existe! Que infortúnio. Como sofro. Nunca vi dia assim, tão feio e belo, como diria aquele doido do Macbeth – que se tornou rei ao lado daquela esposa estranha, mas que eu adoro e me identifico. Mal posso encarar o que minha visão me traz! Quero fugir!

Saio correndo de volta ao quarto, pulo na cama no colo do Hélio e começo desesperadamente a gritar por socorro. Uma invasão estava em curso e eu não posso ter meu trono ameaçado enquanto ele fica aí dormindo sem fazer nada a respeito!

– Oi, amor. Miau o quê?

– Tira já aquela impostora da minha casa, entendeu? Eu me recuso a dividir o mesmo teto com ela! Como ousastes redefinir a população de meu reino sem me consultar? Se você não fosse o responsável por me alimentar eu decretaria sua morte à forcaaaaaa!

– Aham, miau, amor. Miau, miau.

– Quem está falando “miau”? o que significa isso? Você não está me ouvindooooo?

– Sei, miau sim. Agora deita, Juju. Nem amanheceu e você tá fazendo esse solo dramático shakespeariano com miados que eu não entendo o que significa.

– Não é miau que estou dizendo. Estou implorando socorro. Minha vida está destruída! Como irei à cozinha incólume? Terei que finalmente interagir com alguém da minha espécie? Eu não sou uma gata social! Hélio, tira ela de lááá!

O que será que essa invasora está fazendo ali embaixo?

Mentira, não acredito. Ele não vai fazer nada. Pois bem, eu que lute! Enfrentarei essa invasora com minhas próprias garras e mostrarei quem manda dentro desses muros, apesar de que eu desconfio serem apenas simples paredes. Enfim. Melhor avançar com meu plano de defesa.

Armo-me agora de coragem, força, foco e fé em minha deusa Bastet. E avanço pelo apartamento que é meu, mas eu deixo o Hélio morar aqui. Já que não pode com eles, ouvi isso na televisão, junte-se a eles. Mas obviamente que Juju, a Gata, não se junta aos outros, submete-os. É o que farei agora com essa intrusa de pelos longos e rabo comprido.

– Gata, olha aqui. Papo reto. Eu sou a Juju, eu mando na casa e você me obedece. Funciona assim há milênios no mundo dos gatos, aceita que dói menos. Você pode aceitar meu comando e ter uma vida feliz ou se negar e não ter uma vida, nem mesmo triste. Entendido?

– Oi, meu nome é Elvira. Eu…

– Entendido?

*Juju, a Gata é uma coisa fofa peluda que está tentando se adaptar a conviver com outra gata como ela.

Parte I – A chegada de Elvira

Redação

Redação Ezatamentchy

1 Comments
  1. Yerthaal

    14/10/2019 15:43

    Te 😺 amo JuJu rs. Super te entendo. JuJu eu tb não gosto de dividir meu mundo mas sei lá as vezes a própria vida nos obriga a ter de conviver e vou te dizer uma coisa…se pah as vezes a surpresa é agradável.

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