Quem vai dar sustento para quem o próprio mercado faz questão de não se abrir?

Por Michelly Longo*

O impacto do fim do auxílio emergencial na população trans/travesti é desesperador, pois a maioria tinha apenas essa renda para se manter durante a pandemia. Também foi um alento para muitas de nós mesmas, sendo uma pequena quantia, mas ajudou bastante.

Lembrando que o mercado de trabalho não abre suas portas, essa renda era motivo de alívio e de alegria, pois por alguns meses tínhamos esse valor pra chamar de nosso, pra respirarmos aliviadas e sabermos que tínhamos de onde tirar, pra comer, pagar uma conta, pra sobreviver.

E agora, de onde a maioria vai tirar seu sustento? Fazendo jus ao ditado que alegria de pobre dura pouco, é triste saber que terão pessoas que ficarão sem o que comer, sem se manter, porque pelo menos por uns meses houve o mínimo de dignidade, agora foi tirada – e quem vai pagar a conta?

O impacto do fim do auxílio emergencial na população trans/travesti é desesperador, pois a maioria tinha apenas essa renda para se manter durante a pandemia.

Quem vai dar sustento a quem o próprio mercado faz questão de não se abrir? Sendo que existem inúmeros profissionais capacitados pra qualquer cargo, só que o que é avaliado é a identidade de gênero e não a capacidade de exercer a função que a empresa precisa.

Quem terá piedade de nós nesse momento em que vemos as últimas moedas irem embora? Sem perspectiva pro amanhã, procurando uma luz no fim do túnel? Com o fim do auxílio fica difícil para muitas pessoas não se entregarem à opção mais discriminada, mas que ninguém faz nada pra mudar essa realidade…

Porque pelo menos por uns meses houve o mínimo de dignidade, agora foi tirada – e quem vai pagar a conta?

Pois a prostituição mesmo que muitos, muitas, muites de nós não queiram, ainda é a única renda da maior parte. Se isso te incomoda, utilize o seu privilégio cis pra mudar esse quadro, isso sim é trazer a visibilidade a quem realmente precisa estar visível.

Pessoas trans pedem empregos formais, tornem isso possível.

*Michelly Longo é ativista trans negra, baiana, cozinheira de profissão, casada e cheia de boas experiências para compartilhar.