Drag e cantora, Sabrina Angel nasceu de uma desilusão amorosa e hoje canta o amor-próprio e a aceitação
A busca após o término de um relacionamento amoroso abriu espaço para que Sabrina Angel nascesse na vida do aquariano Eduardo Alves, 26 anos, de Florianópolis. Foi em 2015 que essa desilusão amorosa e o talento para cantar se uniram à influência do reality show RuPaul’s Drag Race e deram vida à uma drag que hoje canta sobre amor-próprio e aceitação em seu mais novo single, “O Jogo Virou”.
E virou mesmo. Do começo de carreira em apresentações de música evangélica até hoje, a evolução é visível e palpável, além de admirável. Sabrina se afastou da religiosidade ditada que recebia para buscar a sua própria, se aceitar e crescer como pessoa – uma pessoa que amplia seu exemplo, toca e incentiva todes que também já passaram por algo parecido.
A desilusão amorosa ficou para trás e agora ela quer conquistar o Brasil com música super dançante, coreografia caprichada e fieis bailarinos no palco. “Comecei a me montar e venci muitos medos e traumas, inclusive o de ficar sozinha. Com a drag aprendi que a felicidade só depende da gente”, conta ela na entrevista a seguir.
Como a Sabrina surgiu em você?
Em julho de 2015, após uma desilusão amorosa, eu procurava algo para passar meu tempo e me distrair, foi quando nessa busca eu me apaixonei pela arte drag vendo RuPaul’s DragRace. Comecei a me montar e venci muitos medos e traumas, inclusive o de ficar sozinha. Com a drag aprendi que a felicidade só depende da gente. Antes de me montar pela primeira vez, eu nunca havia tido vontade ou curiosidade.
Como foi o processo de construção como drag e como cantora?
Como drag eu comecei a me amar e me respeitar, entender sobre meus traumas e vencê-los.Com a drag aprendi a olhar mais para o outro, e sempre acreditar que todo mundo tem uma segunda chance. Mas os dois maiores ensinamentos que eu tive nesse pequeno tempo como drag foi que para ser uma drag precisamos saber reconhecer o talento de outra mana, e que por trás da maquiagem e da peruca existe um ser humano, que erra e aprende. E como cantora, eu me descobri há muito tempo, na verdade cantava desde os meus 6 anos de idade, comecei cantando em igrejas evangélicas, viajando em alguns Estados como Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Santa Catarina. Mas por conta da religiosidade acabei me afastando, não da fé e muito menos de Deus, apenas da religiosidade que queriam me impor goela abaixo.
Uma coisa puxou a outra?
Sempre acreditei que a música serve para transmitir uma mensagem, e para mim a drag é alguém que tem alto poder em mãos de transmitir mensagens. Pensando nisso, decidi unir as duas coisas e levar uma mensagem de amor-próprio, respeito e amor ao próximo, além de fazer o que sempre quis fazer, estar no palco utilizando a minha voz para levar algo a alguém.
Você sempre gostou de cantar?
Sem música, sem cantar, me sinto como um pássaro preso sem poder voar. Cantar para mim, seja música gospel, pop ou funk, é um ato de libertação e renovação.
Como a arte te ajudou a se sentir uma pessoa mais empoderada?
Quando estou montado, percebo que as pessoas me observam e ficam mais atentas para ouvir o que tenho a falar. Nesse momento percebo nitidamente que tenho em mãos poder para transmitir qualquer mensagem e ela ser ouvida. Nesse momento percebo o quão grande e importante é o papel de uma drag na sociedade.
Quais são suas referências na hora de compor e de cantar?
Vivo o que canto, e canto o que vivo. Na música e na vida precisa existir verdade.
Qual a mensagem de O Jogo Virou?
Fala sobre superação e amor-próprio, essa canção fala sobre meu primeiro relacionamento malsucedido, onde eu acreditava que precisava de um amor para ser feliz, mas que quebrando a cara e sofrendo aprendi que não vale a pena sofrer por alguém que mente, engana e trai. E que minha saúde mental e minha paz interior valem muito mais que noites de sexo.
Como nós LGBT podemos virar o jogo da intolerância?
Existindo e resistindo, fazendo com que nossa voz seja ouvida, amando sem medo e não tirando nossas vidas. Lutando pela nossa comunidade e nunca SOLTANDO A MÃO uns dos outros.
Como você vê a abertura do mercado musical para artistas trans?
Todos temos o direito de sermos quem quisermos ser, e levar essa mensagem através da música no país que mais mata transexuais e travestis no mundo, isso é um ato de representatividade de muita importância para quem está à margem da sociedade sem o mínimo de visibilidade. Mas ainda assim o mercado musical marginaliza essa linha de frente da nossa classe não proporcionando oportunidades para frequentar mídias televisivas, por exemplo.
Qual é seu maior sonho como artista e como pretende realizá-lo?
Meu maior sonho, é um dia ser exemplo para milhares de pessoas, e para isso acontecer estou correndo atrás do meu sonho, respeitando cada ser humano que aparece na minha vida e nunca desistindo da minha felicidade. Afinal tudo na vida vem através do esforço, até porque aquele que não luta pelo futuro que quer, deve aceitar o futuro que vier.
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