Sambazine chega com presença física para ampliar vozes em tempos de informação etérea

É em conturbados oceanos de deturpadas informações que a brasileiríssima “Sambazine” chega fisicamente aos mercados brasileiro e estadunidense para falar de um ser humano muitas vezes protagonista de um mundo confuso, visceral e inimigo da dialética. Impressa, nadando contra a maré de um virtual nem sempre informativo, muitas vezes confuso, nunca tão sólido quanto o poder de um papel capaz de atravessar milênios e registrar a História.

A coragem de lançar um título tão essencial é do fundador e editor de outra revista muito especial, a famosa “Made in Brazil”, Juliano Corbetta – que há um ano sentiu ser necessário unir gente para fazer uma revista de gente sobre gente para gente. Enquanto as urnas eletrônicas ditavam o desastroso momento político atual brasileiro, o físico papel surgiu como uma arma para contrapor discursos, ampliar vozes e falar sobre uma humanidade que, como foi previsto, tem ficado para trás.

A “Sambazine” está à venda fisicamente no Brasil e nos Estados Unidos e não deixa de dialogar com o digital porque impressa, pelo contrário, usa a internet para oferecer a opção de compra além dos oceanos, para fazer chegar para além das mais diferentes fronteiras seu um quilo e meio de informação palpável, cuidadosa, confiável.

Em uma diagramação que também se relaciona com o contemporâneo, se inspira no feed do Instragram para espalhar por 208 páginas – sendo 190 delas somente de fotografias, sem página branca – uma diversidade de pessoas e ideias.

Colaboram Hick Duarte, Mariana Maltoni, Mar+Vin, Pedro Pedreira, Philippe Vogelenzang, Fernando Tomaz, Leandro Porto, Victor Miranda e Luke Day para registrar gente como Jaloo, Davi Sabag, Hiran, Mateus Carrilho, Samuel de Sabóia, Mel, Urias, Matheus Carrilho, Kiara, Valentina Luz, Anddy Williams, Liniker e Linn da Quebrada.

Juliano uniu gente para fazer uma revista de gente sobre gente para gente

“Não era para ser tão grande”, revela Juliano, contando que “já estou pensando na próxima”. A imponente primeira edição chega com 500 cópias (400 para venda, R$100) em uma parceria especial com a Fiever, marca jovem e urbana do Grupo Arezzo que rendeu não apenas doação, mas também quatro vagas de lojistas para quem muitas vezes viu as portas fechadas por não ser do padrão imposto – além de evento de lançamento com doações para a Casa1.

A ideia, conta Juliano, é semestralmente, mas com menos páginas, 80 em média, abordar esses temas urgentes sempre utilizando “vontades de profissionais jovens”. Ninguém melhor do que ele para explicar melhor sobre um projeto que comprova ser o meio tão importante quanto a mensagem:

Por que mesmo com tanto sucesso com a “Made in Brazil” você decidiu mudar o olhar e ampliar esse DNA?

Quando terminei a última “Made in Brazil”, em São Miguel do Gostoso (RN), eu já tinha essa ideia. Porque eu percebi que a gente estava debatendo a sexualidade, vivendo um momento meio queer, mas não tinha mais ninguém falando disso de uma maneira mais jovem. Então a ideia surgiu há dois anos, mas há quase um ano que eu comecei a trabalhar mais pesado na revista. É diferente da “Made in Brazil” porque eu senti que tinha outra coisa para contar. Muito talvez pelo momento político em que a gente estivesse vivendo há um ano com as eleições. Nasceu mais de uma vontade de criar um outro tipo de diálogo ou uma resposta ao que eu estava ouvindo em termos de discurso político.

Todo mundo que está ali tem um posicionamento, entendeu que essa participação não era só sobre eles. É um grupo de artistas aberto a experiências que traz essa sensação de comunidade, coletivo e liberdade criativa

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O cuidado estético e a qualidade que a gente já conhecia com a “Made in Brazil” pode ser vista na “Sambazine”, mas como foi construído esse discurso que é tão diferente?

A revista tem o DNA de “Made in Brazil”, mas eu fiz ela do zero porque ela fala de outras coisas. Eu vi que era necessário criar esse espaço, discutir outros pontos, mas de maneira honesta. Ao mesmo tempo, eu quis trazer projeção para novos profissionais brasileiros, com menos de 30 anos, que já tinham feito outro tipo de trabalho comigo. São pessoas com um ponto de vista e uma voz. E eu como editor procurei deixar todo mundo o mais solto possível para exercitar essa voz. É o projeto mais colaborativo que já fiz. Muita coisa ali dentro é vontade dos colaboradores.

Nasceu mais de uma vontade de criar um outro tipo de diálogo ou uma resposta ao que eu estava ouvindo em termos de discurso político.

É meio simbólico ela ser vendida em dois países que, no geral, passam pelo mesmo momento de recrudescimento, de repressão das liberdades individuais. Essa entrada nos Estados Unidos, e no mundo, é importante?

No final da revista todas as pessoas mais conhecidas têm uma biografia pequena em inglês com o perfil do Instagram. Porque se alguém de fora quiser tentar entender quem são, e porque colocamos dentro do projeto, pode saber mais. Acho importante alguém lá de fora entender por que a gente tem a Urias, a Mel, o Matheus Carrilho.

A revista começou a ser vendida na segunda quinzena de outubro, já deu para sentir a recepção?

Todo mundo de fora ficou surpreso porque, mesmo fora do Brasil, é muito difícil em um livro só reunir tantas pessoas importantes e fazer elas participarem de uma maneira tão aberta. Todo mundo que está ali tem um posicionamento, entendeu que essa participação não era só sobre eles. É um grupo de artistas aberto a experiências que traz essa sensação de comunidade, coletivo e liberdade criativa. Eu quis fazer uma revista de pessoas, não tem distinção. A realidade é que estamos todos misturados.

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Brasil:

Prince Books, Rua Oscar Freire, 1128, São Paulo, SP (também venda online)

Estados Unidos:

Casa Magazines, 22 Eighth Avenue (and 12th street), New York, NY

Instagram @sambazine