Ascensão meteórica e morte trágica são traçadas com paixão e compaixão em “Cazuza: O Tempo não Para”

Por Eduardo de Assumpção*

“Cazuza: O Tempo não Para” (Brasil, 2004) Cazuza é um mito. O lendário cantor foi um dos grandes poetas do rock dos anos 1980, escreveu alguns dos versos mais emblemáticos de nossa MPB e sua ascensão meteórica ao estrelato e morte trágica por AIDS são traçadas com paixão e compaixão em “Cazuza: O Tempo não Para”.

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O filme marca a segunda passagem na direção do diretor de fotografia Walter Carvalho, aqui com a co-diretora Sandra Werneck. O longa é baseado em “Só as Mães São Felizes”, livro de memórias de Lucinha Araújo, mãe de Cazuza, que explica seu grande, embora nem sempre lisonjeiro, papel na história. Agenor Miranda de Araújo Neto, conhecido como Cazuza, aqui numa brilhante interpretação de Daniel de Oliveira, é um belo rebelde de cabelos cacheados e poeta nascido em uma família burguesa.

Seu pai, João (Reginaldo Faria), o chefe de um estúdio de gravação, é cético em relação ao seu talento, enquanto sua mãe superprotetora Lucinha (Marieta Severo) é bisbilhoteira e invasiva. Representar Cazuza é uma tarefa difícil. De Oliveira não o incorpora mas o canaliza, retratando a futura estrela como imprudente, despreocupada e consumida por uma fome ardente pela vida; um swinger bissexual.

Enquanto isso, sua mãe percorre as ruas do Rio à noite para tirá-lo de confusões causadas ​​por maconha, cocaína, bebida e direção perigosa. Evoluindo um som de garagem irreverente, Cazuza explode no cenário do rock em 1981 após unir forças com Roberto Frejat, Dé, Mauricio Barros e Guto Goffi, como vocalista da banda Barão Vermelho.

Incentivado pelo excêntrico produtor Ezequiel Dias, Cazuza os leva a uma série de discos de ouro e então, no auge de sua popularidade, deixa o grupo para seguir carreira solo. O filme está bem avançado quando Cazuza descobre que é HIV positivo em uma cena desoladora em uma praia do Rio de Janeiro. Cazuza se torna sóbrio em maturidade forçada.

A música de Cazuza, que faleceu em 1990, aos 32 anos, é generosamente ouvida e atesta que ele foi o maior poeta de sua geração e que se opôs firmemente a estabelecer divisões entre samba, bossa nova e rock’n roll.

*Eduardo de Assumpção é jornalista e responsável pelo blog cinematografiaqueer.blogspot.com

Instagram: @cinematografiaqueer

Twitter: @eduardoirib