“Mulheres a Beira de um Ataque de Nervos” é imperdível, fantástico, primoroso, maravilhoso…

Por Eduardo de Assumpção*

“Mulheres a Beira de um Ataque de Nervos” (Mujeres al Borde de un Ataque de Nervios, Espanha, 1988) Pedro Almodóvar já havia trabalhado com o texto ‘A Voz Humana’, de Jean Cocteau, em uma peça dentro de ‘A Lei do Desejo(1987)’, com Carmen Maura a espera de um telefonema, quebrando o cenário. Em ‘Mulheres a beira de um ataque de nervos’ ele volta a pegar emprestado o argumento do dramaturgo francês, dessa vez para construir uma tragicomédia completa.

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Pepa(Carmen Maura) foi recentemente abandonada por seu amante, Iván (Fernando Guillén). Ela tenta desesperadamente entrar em contato com Iván, mas não consegue nem pelo telefone.O outro lado da conversa existe, mas geralmente apenas como uma gravação. As conversas só são possíveis via caixa postal.

O longa foi o primeiro grande sucesso internacional de Almodóvar, sendo indicado ao Oscar de Filme Estrangeiro, e na verdade marcou um passo em sua carreira e uma renovação de sua abordagem. ‘Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos’ é um filme histérico que permite ao cineasta apurar seu gosto pelos retratos femininos já esboçados em suas obras anteriores e que culminaram nas décadas seguintes.

A trama é 100% almodovariana, com coincidências felizes que só poderiam acontecer em seu universo particular e com diálogos engenhosos que contam com segundas e até terceiras leituras. O mais espantoso de tudo é que as peças soltas acabam por se juntar e fazer sentido, desde o divertido táxi mambo ao gaspacho que Pepa prepara com um bom número de tarjas preta. Mas no fundo do riso está a tristeza.

Entre os intensos vermelhos e azuis do mais puro kitsch geométrico e almodovariano, revela-se a dor do desgosto, a loucura de ser traído . Como o título sugere, Pepa não é a única mulher neste filme à beira de um colapso nervoso. Almodóvar compreende o poder sexual inerente a um par de saltos altos, e Pepa não ficaria descalça na guerra entre os sexos.

Ela pode estar hesitante, mas tem o bom senso de ir vestida para matar.

Maura é uma comediante de olhos penetrantes e uma atriz ferozmente impassível que junto a direção atrevida, alguns planos ousados, dá o tom perfeito do filme.

*Eduardo de Assumpção é jornalista e responsável pelo blog cinematografiaqueer.blogspot.com

Instagram: @cinematografiaqueer

Twitter: @eduardoirib