Dráuzio Varella emociona com reportagem sobre trans e inicia uma onda de empatia da qual você pode fazer parte
A reportagem acima mobilizou muita gente nas redes sociais, principalmente o trecho em que Dráuzio Varella abraça a entrevistada Suzy. Começou então, e ainda está em curso, uma movimentação linda para que sejam enviadas cartas para Suzy – com a Secretaria de Administração Penitenciária do Estado de São Paulo usando as redes sociais para divulgar o endereço tamanha a comoção.
Oito anos sem abraço. Oito anos sem receber visitas e tendo que lidar com um marido que foi embora porque transferido para outra unidade prisional. Suzy comoveu os corações mais sensíveis e provocou na bolha das redes sociais uma onda de empatia muito boa. Que maravilhoso ver tanta gente se sensibilizando com uma pessoa trans que cumpre pena.
A mensagem da Secretaria nas redes:
“CARTAS PARA SUZY:
Tendo em vista a repercussão de reportagem exibida pelo Programa Fantástico do último domingo, com a presa trans Suzy Oliveira, recolhida na Penitenciária I “José Parada Neto”, a Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) recebeu pedidos de todo Brasil de pessoas e entidades interessadas em enviar cartas à reeducanda, que afirma estar sem receber visitas há 8 anos.
Diante disso, a SAP esclarece que o endereço para envio de correspondência é o da unidade: Rua Benedito Climérico de Santana, 600, Várzea do Palácio, CEP 07034-080, Guarulhos/SP. Favor colocar o nome da reeducanda no envelope.
A Pasta esclarece que os presos recebem corriqueiramente material de higiene da unidade prisional, e, especificamente no caso da presa Suzy, ela recebe mensalmente 75% do salário mínimo pelo trabalho da empresa que presta serviços, recurso que pode usar para complementar suas despesas pessoais.”
Se você se sensibilizou e também quer participar deste movimento faça-o, mas faça com responsabilidade. Criar uma onda de afeto e atenção que não perdurará pode gerar, posteriormente, um vazio ainda maior na vida de Suzy. Então eu aconselho que você não seja levado por uma (boa) onda que vai quebrar na areia da praia. É quase cruel depois de algumas cartas você novamente esquecer que Suzy existe.
Pode-se fazer muito mais do que envio de cartas. Pode-se enviar materiais (como listado na nota acima) que deixem a vida dela um pouco menos indigna durante o cumprimento de sua pena. Faça-o, mobilize todes que conhece e engrosse esse coro por mais humanidade na vida de Suzy.
Mais ajuda
A reportagem mostra ainda outras várias histórias de vida de mulheres trans dentro de presídios. Comoventes, reais. Algumas dessas unidades respeitam a identidade de gênero, mas nem todas. Para garantir esse respeito, há na Câmara dos Deputados um projeto de lei (saiba mais aqui) que prevê que elas cumpram sua pena em unidades que estejam de acordo com sua identidade feminina.
A SAP esclarece que o endereço para envio de correspondência é o da unidade: Rua Benedito Climérico de Santana, 600, Várzea do Palácio, CEP 07034-080, Guarulhos/SP. Favor colocar o nome da reeducanda no envelope.
Sabe a boa onda de cartas? Ela pode ser ampliada e você pode enviar mensagens para os parlamentares e acompanhar o andamento deste projeto, cobrar que ele seja votado e aprovado. Além de Suzy, você pode ajudar todas as outras mulheres trans brasileiras que cumprem pena. Melhor ainda.
Infelizmente deve ter alguém pensando que “bandida boa é bandida morta”, que “não tem inocente ali” e que “se você quer cuidar, leva para a sua casa”. Tudo isso é julgamento, é preconceito. O julgamento dessas pessoas já foi feito pelo Poder Judiciário, que entende melhor de leis do que você. Então não cabe a ninguém além do juiz julgar.
No caso das trans, é público e notório que, infelizmente, muitas delas são literalmente empurradas para a marginalidade porque não há espaço no mercado de trabalho. Felizmente esta realidade vem mudando, com trans ocupando espaços e mostrando que travesti não é bagunça, elas não saíram de lá para cá à toa.
Mas é inegável que ainda há uma grande quantidade de meninas que tem como única opção de sobrevivência a prostituição, onde se aproximam (entrando ou não) de um mundo de crimes como roubo – o mais comum nas condenações delas, de acordo com a reportagem acima. É muita empáfia acreditar que elas têm esse estilo de vida porque querem.
Muitas delas são literalmente empurradas para a marginalidade porque não há espaço no mercado de trabalho. Felizmente esta realidade vem mudando.
Elas precisam comer, pagar aluguel, se vestir e pagar todas aquelas contas que todos nós pagamos. A diferença, queridinha, é que nós temos carteira de trabalho assinada, ou contrato ou algum outro tipo de garantia proporcionada pelo trabalho formal. Elas (ainda) não têm (nenhuma). “Caem na vida” porque, até mesmo dentro da comunidade LGBT, são vistas como inferiores – o machismo do mundo gay, a idiota repetição do machismo hétero.
Então se você assistiu ao Dráuzio e se emocionou com as histórias de vida dessas meninas, meus parabéns. Ainda resta um pouco de humanidade dentro de você, ainda há esperança. Essa corrente em favor da Suzy me dá esperança, mas subentende a responsabilidade de que somos responsáveis por aquilo que cativamos, já diria Saint-Exupéry.
Que as cartas para Suzy se tornem as cartas para todas elas. Que elas sejam perenes, que deem bons resultados e que sejam apenas o começo de uma nova visão de nós sobre nós mesmos: todos erramos, mas todos assumimos nossos erros e pagamos por eles?
Elas sim.